Saída de Teich pesa por componente político e dólar fecha em R$ 5,83

Saída de Teich pesa por componente político e dólar fecha em R$ 5,83

Com nova rodada de indicadores ruins, Ibovespa fecha nos 77 mil pontos

AE

Ibovespa teve dia de queda, fechando em 1,84%

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O pedido de demissão do ministro da Saúde, Nelson Teich, e a nova rodada de indicadores ruins, principalmente nos Estados Unidos, que registrou em abril a pior queda da história nas vendas do varejo, provocaram um dia de volatilidade no câmbio. O dólar acabou fechando a sexta-feira com valorização e acumulou alta de 1,70% na semana, terminando o dia em R$ 5,8390.

Pela manhã, a moeda americana caía e chegou, na mínima, a recuar para R$ 5,76. Com a saída de Teich, que aumentou a já grande incerteza política no País, o dólar passou a subir. No mês, a moeda acumula valorização de 7,36% e no ano, de 45%, com o real registrando o pior desempenho internacional ante a moeda americana nos dois períodos.

Um dos temores dos agentes é que o crescente risco político dificulte ainda mais a retomada da fraca atividade econômica. Hoje, o Banco Central divulgou que o Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br) teve queda 5,90% no mês passado, quando os efeitos da covid-19 sobre a economia se intensificaram.

"É difícil ver o risco político diminuindo no curto prazo", avalia o economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, William Jackson, ao falar da saída de Teich. Para ele, o ministro sai em meio à visão "amplamente criticada" de Bolsonaro sobre como lidar com a pandemia do coronavírus.

Neste ambiente, Jakcson ressalta que os ativos locais acabam embutindo um prêmio pela turbulência política. Além da saída de Teich, continua a causar cautela nas mesas de operação o vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril. "Preocupações sobre a crise política não param de crescer", acrescenta Jackson. A Capital Economics projeta queda de 5,5% para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil este ano.

Para a consultoria americana de risco político Eurasia, a saída de Teich vai aumentar a percepção na opinião pública de má gestão do Planalto da crise do coronavírus. Do ponto de vista político, os níveis de aprovação do governo podem ser muito mais afetados pelo colapso do sistema de saúde do que pela investigação de interferência política na Polícia Federal, afirmam os analistas de Brasil da consultoria. "A demissão de Teich reforça nossa visão de riscos crescentes vindos da fraca resposta do governo à pandemia."

No exterior, o dólar subiu ante a maioria dos emergentes, após dados fracos do varejo e da produção industrial americana em abril, além de preocupações com as relações entre a Casa Branca e Pequim e ainda o avanço da pandemia de coronavírus no país, que segundo o jornal The Wall Street Journal já é uma das principais causas de morte por lá. "A esperança de uma recuperação em V da economia americana está diminuindo", afirmam os economistas da LPL Financial. As vendas no varejo caíram 16,4% em abril, enquanto Wall Street esperava recuo de 12%.

Ibovespa

O clima político voltou a pesar nos negócios, que já mostravam cautela com o mau humor visto no mercado acionário em Nova York, uma vez que o presidente americano Donald Trump segue na queda-de-braço com a China. Assim que o pedido de exoneração do agora ex-ministro da Saúde Nelson Teich veio à tona, no final da manhã, o Ibovespa estabeleceu sua própria dinâmica de queda e assim se manteve durante toda a sessão desta sexta-feira.

Nem conseguiu desencostar muito da mínima do dia (77.426,10 pontos) e encerrou aos 77.556,62 pontos, em queda de 1,84%. Com isso, acumulou perdas de 3,37% na semana e de 3,66% em maio. O volume financeiro foi de R$ 25,9 bilhões. Nem mesmo a alta do petróleo no mercado internacional ajudou a Petrobras, cujas ações preferenciais encerraram em queda de 1,44%.

Após certo alívio ontem, quando foi visto como positivo o aceno para uma reaproximação dos presidentes da República, Jair Bolsonaro, com o da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), hoje o índice sucumbiu com a cautela dos investidores por esse vai-vem político. "O 'turn over' dos ministros não é nada bom, pelo contrário, é muito ruim toda essa instabilidade, considerando também a relação do governo federal com os estados e os outros poderes, ressalta Marco Tulli, superintendente das mesas de operação da Necton, para quem essa situação prejudica as perspectivas de retomada do crescimento.

Para Raphael Figueredo, da Eleven Financial Research, a dinâmica política local ficou mais latente hoje e se sobrepõe, inclusive, às notícias micro, com alguns resultados corporativos que podiam trazer certa melhora. Segundo ele, a Bolsa local passa por um período de três semanas a que chama de 'consolidação de preços', quando o mercado não apresenta fluxo de entrada de recursos e os papéis vão apenas trocando de mãos.

"Ainda que os preços estejam consolidados, há uma configuração não muito positiva para o curto prazo. É uma fase de mercado cauteloso, baixo volume, muita volatilidade no intraday, praticamente atropelando os fundamentos", explica Figueredo.

Tulli, da Necton, afirma que o Ibovespa ainda está conseguindo manter algum suporte nessa região está relacionado ao fato de uma taxa de juros historicamente baixa, o que ajuda bastante a atrair uma parcela de compradores. Além disso, completa, há uma flexibilização da área econômica do governo e das empresas sobre o entendimento da pandemia, estendendo pagamentos. "E isso será seguindo de uma deflação no médio prazo e tudo acaba por ajudar a drástica situação de guerra", diz.

Juros

Na contramão do câmbio e da Bolsa, os juros futuros encerraram a semana em queda nesta sexta-feira, à medida que os fundamentos para as taxas emergiram. A demissão de Nelson Teich do Ministério da Saúde foi suplantada pela reaproximação do presidente Jair Bolsonaro com Rodrigo Maia (DEM-RJ). Desta forma, o conteúdo das recentes comunicações do Banco Central (comunicado pós-Copom e ata) voltou à mesa, com a mensagem de corte de juros em junho.

Ao fim da sessão regular, o DI para janeiro de 2021 tinha taxa de 2,560%, ante 2,640% no ajuste desta quinta, 14. O janeiro 2022 recuou de 3,660% para 3,510%. E o janeiro 2027 passou de 7,880% para 7,82%.

"A discussão fiscal e política dos últimos dias fez o mercado perder um pouco de foco na política monetária. Daí a poeira abaixa com a reaproximação de Maia e Bolsonaro, e o mercado vê que o fundamento é juro para baixo. Hoje a curva conseguiu refletir melhor isso", resumiu o economista-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks.

Weeks pontua que tanto o comunicado quanto a ata deixaram a porta aberta para um corte de até 75 pontos-base na Selic em junho.

Na sessão de hoje, a precificação para a redução de 0,50 ponto porcentual alcançou 64%, segundo cálculos do estrategista-chefe do Mizuho, Luciano Rostagno. Os 36% restantes são apostas em 25 pontos-base, que ganharam fôlego ao longo da semana diante do acirramento político.


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