"Há indícios de que números do Enem de edições passadas foram inflados", diz ministro da Educação

"Há indícios de que números do Enem de edições passadas foram inflados", diz ministro da Educação

Victor Godoy explicou queda do número de inscritos no exame, segundo menor desde 2006, com investigação sob sigilo no TCU

R7

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O ministro da Educação, Victor Godoy, afirmou, durante a apresentação do balanço do Enem 2022 (Exame Nacional do Ensino Médio) na manhã desta segunda-feira, que dados da base do exame de edições anteriores teriam sido inflados. A suspeita faz parte de uma investigação do TCU (Tribunal de Contas da União), que segue sob sigilo.

A informação foi dada por Godoy ao ser questionado sobre a queda do número de inscritos na edição deste ano, quando 3,4 milhões se inscreveram — o segundo menor número desde 2006. O ministro, no entanto, não entrou em detalhes da apuração do TCU nem apresentou indícios ou dados que justificassem sua afirmação. Ele também apontou a pandemia como "uma das possíveis causas para a redução do número de participantes".

Questionado sobre algumas questões da prova de caráter mais social e com assuntos criticados pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) ao longo de seu mandato, o ministro afirmou que "o estudante não pode ser filtrado por sua visão de mundo e eles devem ser avaliados com relação aos seus conhecimentos". Godoy afirmou que não houve interferência no Enem. "É um processo que não cabe intervenção, nenhum de nós tem acesso à prova, tudo é elaborado no ambiente seguro do Inep e só determinadas pessoas têm acesso a ela para garantir a isonomia do exame", assegurou.

Com relação à taxa de abstenção, conforme divulgado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), responsável pela execução e aplicação das provas, 2,3 milhões de estudantes participaram das duas provas. "Taxa de abstenção semelhante à de edições anteriores, antes da pandemia", justificou o ministro. O primeiro dia do exame teve abstenção de 27,9%, e, no segundo dia, 31,9% dos inscritos faltaram. 

A modalidade digital teve menor número de inscritos e maior taxa de abstenção. "Estamos estudando por que o digital não pegou. Um dos fatores é que 70% dos inscritos do Enem digital são isentos, mas o fato é que o exame ainda não deslanchou. Essa é a missão do Inep para os próximos anos: trazer mais atratividade para essa modalidade", disse o chefe da Educação.

O Enem 2022 teve 5.126 participantes eliminados por não cumprirem os critérios do edital, como usar equipamentos eletrônicos ou sair do local de exame antes do tempo mínimo determinado. Até o momento, 193 pessoas foram afetadas por problemas logísticos.

O gabarito oficial e os cadernos de questões serão divulgados na próxima quarta-feira às 18h. A reaplicação do exame para pessoas que estavam com doenças infectocontagiosas e para as pessoas privadas de liberdade, modalidade Enem PPL, será nos dias 10 e 11 de janeiro. O resultado deve ser divulgado no dia 13 de fevereiro de 2023.

Enem 2022

O Enem 2022 foi realizado nos últimos dois domingos, 13 e 20 de novembro. Esta edição contou com 3,4 milhões de inscritos, o segundo menor número de participantes desde 2006 e a presença de 2,4 milhões de participantes.

A primeira prova apresentou 90 questões de linguagens e ciências humanas (história, geografia, sociologia e filosofia). O tema da redação deste ano foi "Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil", muito elogiado por professores. 

Na primeira prova desta edição, os candidatos responderam a questões mais atuais, com temas que passaram pela igualdade social e de gênero. A prova também foi considerada dentro dos padrões do Enem e bem equilibrada. Os estudantes tiveram de encarar perguntas interdisciplinares, que transitaram entre história, geografia e sociologia.

Já o segundo dia de exame, realizado no último domingo, foi considerado mais conteudista, com menos interdisciplinariedade, com mais cálculos e gráficos. Os participantes responderam a 90 questões de matemática e ciências da natureza (química, física e biologia).

Uma questão de matemática foi considerada sem resposta correta e questionada pelos professores. Segundo eles, houve um erro de digitação e pode ser cancelada. Durante a apresentação do balanço, o ministro afirmou que para a edição deste ano houve uma antecipação do cronograma — as provas foram concluídas em julho e distribuídas em agosto. Também houve um processo de produção de questões e ampliação do banco de itens do exame.




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