Maior escola da rede municipal de Porto Alegre projeta retomar aulas na primeira semana de julho

Maior escola da rede municipal de Porto Alegre projeta retomar aulas na primeira semana de julho

Escola Municipal de Educação Básica Doutor Liberato Salzano Vieira da Cunha, no bairro Sarandi, foi severamente atingida pela enchente do mês passado

Cristiano Abreu

Escola é referência para comunidade do bairro Sarandi

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Núcleos, formas, texturas, histórias ao chão. A calçada em frente ao portão principal da Escola Municipal de Educação Básica Doutor Liberato Salzano Vieira da Cunha, no bairro Sarandi, está tomada de objetos, memórias e outras ferramentas antes de valiosas ao aprendizado. De uniformes a livros, símbolo máximo do conhecimento, tudo foi inutilizado pela enchente que atingiu a Capital no mês passado, não passando agora de uma triste metáfora que expressa o drama de milhares de estudantes de diferentes regiões de Porto Alegre.

A inundação da Capital completa 50 dias neste fim de semana. De acordo com a Secretaria de Educação de Porto Alegre (Smed), 42 escolas, 14 próprias e 28 conveniadas à Rede Municipal, foram atingidas. Para absolutamente todos, há muito trabalho para recuperação e incerteza sobre quando voltarão à normalidade.

A EMEB Liberato é a maior do município, com 1,7 mil alunos entre a educação inicial e o ensino de jovens e adultos. Também é referência na educação especial pelo trabalho realizado pela Sala de Recursos para alunos com altas habilidades/superdotação. A instituição completou 70 anos em 2024 e abriu suas portas em 27 de abril para festejar com a comunidade, sem saber que teria o primeiro andar destruído pela inundação uma semana depois.

“Festejamos em um sábado, e no seguinte precisamos do socorro do Exército”, lamenta a professora Renata da Luz, que atua na Sala de Recursos.

Renata e os colegas foram até a escola no dia 4 de maio para tentar salvar o que fosse possível da água, porém as perdas foram muitas. Biblioteca, administração, direção, quadras externas e as salas de aula da Educação Infantil ficaram submersos. Parte dos documentos, equipamentos e mobiliário foi inutilizada. Portas, paredes, pisos e redes elétricas e hidráulicas também estão comprometidas.

Diante de sua importância para o bairro Sarandi, o Liberato foi adotado pela Ambev, que custeará a reforma dos prédios, no entanto, uma recuperação envolve um longo processo. E ainda não há estimativa de quando a obra começará.
Enquanto isso, pais de alunos dão conta de que a direção projeta transferir as aulas para uma Igreja que fica no bairro, embora não comete oficialmente sobre o assunto.

Sem a certeza sobre a retomada, alguns pais buscam transferência de seus dependentes para outras instituições de ensino. É o caso da consultora de amamentação Gisele Corrêa, que matriculou as filhas Ana, de 11 anos, e Alice, de 8, em uma escola particular. “Nem cabia neste momento no orçamento da família, mas era isto ou arriscar que elas perdessem o ano letivo, sem contar o prejuízo no aprendizado delas. Este tempo sem aula diminuída é recuperado de forma adequada”, avalia, Gisele, que também é educadora por formação.

Segundo a Smed, nesta tarde que os trabalhos da empresa especializada contratada pela Prefeitura para limpeza das 14 escolas próprias do município alagadas pela enchente começaram dia 4 de junho, e que tais serviços contam com investimento de R$ 1,6 milhão. Já para as reformas estruturais dos prédios escolares, serão definidas na próxima semana as empresas responsáveis pelo contrato de obras com investimento de R$ 85 milhões. O contrato prevê obras em 93 escolas da Capital, incluindo as alagadas.
No momento, não há prazo estimado para a liberação de nenhuma das instituições atingidas.

Pelo menos 2.620 crianças atendidas pelas conveniadas estão sem atendimento. A Smed não informou o número de estudantes sem aula nas instituições mantidas pela prefeitura.
No início da tarde desta sexta-feira, a diretora da Escola Municipal de Educação Básica Doutor Liberato Salzano Vieira da Cunha, Rochele Soares, informou que o retorno das aulas ocorrerá na primeira semana de julho. O local, no entanto, não foi anunciado. Ela também encaminhou nota sobre a situação dos prédios da instituição.
Confira íntegra:
”A Escola Liberato realmente foi bastante atingida pela enchente, onde o andar térreo foi severamente comprometido. Estamos trabalhando muito desde o inicio da enchente, numa busca ativa dos estudantes, podendo dar acolhimento e na medida do possível, mantermos nosso vínculo com a comunidade escolar.

Temos no atual momento, a confirmação de prédio locado para iniciarmos nossas atividades com a maior brevidade. Mantendo assim, estudantes e docentes, pertencentes ao seu convívio no bairro. E com a certeza, de que estaremos fortes e alicerçados numa base Pedagógica e acolhedora, onde a comunidade escolar estará, o mais próximo possível, de sua rotina de vida, no bairro Sarandi."




Correio do Povo
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