Universidades criam plataforma de distribuição de medicamentos
Site desenvolvido por equipe acadêmica já repassou cerca de 800 mil medicações a abrigos da capital e de Santa Maria
publicidade
Foi pensando em facilitar a distribuição de remédios a municípios atingidos pelas cheias no estado que uma nova versão do projeto “Tamo Junto” foi lançada, por iniciativa do Núcleo de Tecnologia da Informação (NTI) da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Por meio do site, secretários de saúde ou farmacêuticos municipais podem solicitar a retirada de medicamentos disponíveis nos estoques de centros logísticos de donativos ou informar a demanda por outras medicações.
A primeira versão da plataforma era um aplicativo, desenvolvido pelo Núcleo durante a pandemia de Covid-19. Na época, a ideia era conectar quem precisava de ajuda voluntária a quem tinha algum serviço a oferecer — desde a entrega de compras do supermercado a atendimento psicológico. Roberto Rosa, coordenador do Núcleo, relata que a plataforma foi usada em todo país, chegando a ser disponibilizada na Galeria de Aplicativos do governo federal. Agora, o projeto retorna em forma de site, e com o acréscimo de “RS” ao nome. A partir de uma demanda relatada pela equipe da Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), o Núcleo decidiu criar o "Tamo Junto RS", voltado ao controle de estoque dos medicamentos doados e ao fluxo de pedidos de donativos. Participam do projeto: UFCSPA, Ufrgs, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Universidade Franciscana (UFN), Conselho Regional de Farmácia do RS (CRF-RS), Conselho Federal de Farmácia (CFF), Associação de Farmacêuticos do RS (Afargs), Associação Santamariense de Farmacêuticos (Asfarma) e Prefeitura de Santa Maria.
Até sexta-feira (24/5), o projeto já repassou 802.250 medicamentos a 403 abrigos e centros de doação na capital e a outros 28 em Santa Maria. A partir de segunda-feira (27/5), o site vai estender o atendimento a 80 abrigos em Canoas. O próximo passo é incluir os municípios de Santa Cruz do Sul e Rio Grande.
Um dos centros logísticos de doações que integra a plataforma é o SOS Farma, projeto conjunto de UFSM, UFN, Afargs, Asfarma e Prefeitura de Santa Maria. Rodrigo Silveira Pinto, professor de Farmácia da UFSM e integrante do coletivo, explica que o centro realiza triagens dos medicamentos doados, para posterior encaminhamento a municípios necessitados. O processo começa no Aeroclube de Santa Maria, onde são desembarcados aviões de donativos de várias partes do país. Lá mesmo, um time de farmacêuticos faz uma primeira seleção dos medicamentos. Os que estão vencidos ou com embalagem danificada já são descartados. “Essa carga, então, é direcionada para a UFSM, na Farmácia Escola, onde é feita uma nova triagem, para então separar, organizar, classificar e lançar em uma lista [divulgando] que vai ter esse medicamento”, afirma Rodrigo.
Por meio do Tamo Junto RS, secretarias de saúde dos municípios atingidos pelas enchentes podem consultar as medicações disponíveis no estoque do SOS Farma (localizado em Santa Maria) ou solicitar outras, de acordo com sua necessidade. Os pedidos são avaliados pelo Conselho de Secretários Municipais de Saúde (Cosems) e encaminhados à equipe do projeto. Já foram atendidas solicitações de dez cidades gaúchas: Faxinal do Soturno, Agudo, Ivorá, Nova Palma, Santa Maria, Restinga Seca, Silveira Martins, Mata, Toropi e São Gabriel.
Recentemente, o SOS Farma disponibilizou uma chave PIX (95.619.912/0001-52) para que pessoas físicas também possam contribuir com a iniciativa, atualmente limitada a doações de empresas. “Como nós temos contato direto com os municípios, a gente vai pegar os recursos que nós conseguimos arrecadar pelo PIX, e comprar os medicamentos necessários para abastecer a demanda dos municípios”, ressalta Rodrigo. A equipe ainda quer criar uma rede entre aeroclubes de vários municípios gaúchos, a fim de facilitar o transporte dos medicamentos que chegam por via aérea.
Por Gabriela Sardi, sob supervisão Maria José Vasconcelos