Apesar do clima tenso, comércio de Faxinalzinho abre as portas

Apesar do clima tenso, comércio de Faxinalzinho abre as portas

PF prendeu cinco indígenas pela morte de dois agricultores em abril

José Ody / Correio do Povo

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O comércio de Faxinalzinho abriu as portas normalmente na manhã deste sábado apesar do clima de apreensão que toma conta da cidade do Norte gaúcho. Segundo informações do presidente da Associação de Moradores do município, Ido Marcon, “só se vê brigadiano e branco na cidade”. Ele relatou que o efetivo de policiamento militar é grande e que  “as pessoas estão indo trabalhar”.

Marcon contou que presenciou muitas pessoas do interior fazendo compras na cidade. Segundo ele, o comércio também deverá abrir à tarde por ser véspera do Dia das Mães. Apesar da presença de policiamento na área urbana, Marcon observou que o clima é "de apreensão". Ele disse ainda que a equipe da Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR) estaria novamente neste sábado em Faxinalzinho para conversar com a comunidade.

Na manhã deste sábado a assessoria da SDR confirmou que o secretário Elton Scapini e o chefe de gabinete do governador, Ricardo Zamora, estavam retornando a Faxinalzinho para uma visita rápida, levando solidariedade ao prefeito Selso Pelin e à comunidade. A comitiva do governo do Estado retorna ainda nesta manhã a Porto Alegre.

A secretaria estadual convocou e coordenou a reunião dessa sexta-feira entre as partes envolvidas na questão agrária e que foi encerrada abruptamente após a intervenção da Polícia Federal de Passo Fundo, executando prisões de indígenas em cumprimento a mandado judicial.

Prisões interrompem diálogo

Em nota divulgada nessa sexta, o governo do Estado afirmou que durante toda a semana buscou criar um ambiente que promovesse o diálogo e a negociação entre indígenas e agricultores. “Conseguimos nesta sexta, reunir três indígenas e três agricultores, além do vice-prefeito, coordenador da Funai de Passo Fundo, para pedir que o ambiente na cidade, voltasse ao normal. Por essa razão, lamentamos muito o que aconteceu durante a nossa reunião. Não questionamos o cumprimento dos mandados, mas acredito que poderia ter havido a sensibilidade da Polícia Federal, em escolher outro ambiente e outro momento para realizar a ação”.

Na avaliação do titular da Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo, Elton Scapini,  a reunião com as duas partes, estava ocorrendo de uma forma muito positiva. “Tanto indígenas, quanto agricultores estavam dialogando muito bem, compreendiam que a situação se instalou por eles serem vítimas do processo de colonização, que perdura por mais de um século. Vínhamos num caminho em que estávamos estabelecendo um acordo no sentido de liberar os acessos às estradadas do município, de retomar as aulas e de organizar um grupo para ir até Brasília, participar da reunião proposta pelo Ministério da Justiça no dia 22 de maio. Fomos todos pegos de surpresa pela ação da Polícia Federal,” relatou.

Segundo o chefe de gabinete do governo do Estado, Ricardo Zamora, o Estado avisou o Ministério da Justiça sobre a realização da reunião dessa sexta, com o objetivo de acalmar os ânimos no município e auxiliar no encontro do dia 22. “Fomos com a melhor das boas intenções. As prisões ocorreram no momento inadequado”, lamentou Zamora.

O caso

Em 28 de abril, um conflito entre indígenas e agricultores sobre as demarcações de terra eclodiu quando dois produtores rurais foram mortos ao tentarem furar o bloqueio de uma estrada montado por um grupo indígena.

A região reivindicada por índios, no município, já foi delimitada pela Funai, mas ainda precisa ser declarada indígena pelo Ministério da Justiça. Há prazo para os colonos atingidos pela medida recorrerem. Só depois disso, mantido o entendimento, há a homologação, que permite repassar o terreno. A Constituição Federal não prevê indenização pelas terras.


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