Decisão sobre continuidade das obras do Cais Mauá só ocorrerá após retorno de Leite

Decisão sobre continuidade das obras do Cais Mauá só ocorrerá após retorno de Leite

Governador embarcou para compromissos nos Estados Unidos e na Inglaterra, PGE entregou parecer jurídico a respeito do acordo

Eduardo Amaral

Impasse a respeito da manutenção do contrato entre o governo do estado e o Consórcio Cais Mauá segue

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A decisão sobre a continuidade das obras do Cais Mauá será tomada apenas após o governador Eduardo Leite retornar de viagem internacional. O governador embarcou neste fim de semana para um roteiro entre Estados Unidos e Inglaterra. O impasse sobre a manutenção do contrato entre o governo do Estado e o Consórcio Cais Mauá teve um  novo capítulo hoje, quando a Procuradoria Geral do Estado (PGE) entregou o parecer jurídico a respeito do acordo.

Leite aguardava o parecer da PGE para saber se poderia rescindir o contrato com o consórcio Cais Mauá, responsável pela obra que até agora não iniciou. O procurador geral do Estado, Eduardo Cunha da Costa, diz que governo pode quebrar o contrato sem prejuízos aos cofres públicos nem pagamento de multa. Na avaliação dele, a empresa descumpriu as cláusulas do acordo firmado em 2010. "dentificamos que este descumprimento contratual enseja a possibilidade de rescisão".

Entre as cláusulas apontadas como não cumpridas está a falta de recursos para realização da obra. De acordo com o procurador, o Consórcio precisa comprovar ter um capital de R$ 9 milhões para iniciar os trabalhos. "A empresa não tem patrimônio para cobrir suas dívidas e precisa apresentar garantias de que conseguirá cumprir suas obrigações contratuais".

Costa acredita que, caso o contrato seja rompido, o Consórcio pode ser obrigado a ressarcir os cofres públicos. "Em tese é possível até ter cobrança de valores e de um seguro que a empresa deveria ter, ou se tem vigente. A jurisprudência assegura que o Estado pode retomar para dar outra".

Porém, a empresa não desistiu de encontrar uma forma de seguir com o contrato, através de uma repactuação dos termos. Na quinta-feira, um dia antes da PGE entregar seu parecer, o Cais Mauá apresentou um requerimento pedindo mais 90 dias para apresentar novidades a respeito das exigências feitas pelo governo do estado. 

O pedido de extensão do prazo será analisado pela própria PGE, que prevê entregar a análise do novo documento até o final da próxima semana. Costa adianta que, em uma análise preliminar, não há indícios de que justifiquem o aumento do prazo. "Vamos fazer uma análise aprofundada, num primeiro olhar não há nada de diferente, não mudaria o rumo. Mas, o governador preza pelo diálogo e entende que é importante analisar esses documentos e depois ouvir a empresa".

Leite já sinalizou que pretende ouvir a empresa novamente, e também deve conversar com o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior. Com isso, o anúncio sobre o futuro do contrato não será feito antes do dia 20.

Caso o contrato seja realmente rompido, o imbróglio jurídico pode se estender por alguns anos, pois o Consórcio Cais Mauá garante ter como levar a discussão até as altas cortes. "Se tivermos que trabalhar na linha da judicialização, temos elementos para transformar o governo em devedor", afirma o advogado do grupo, Claudio Lamachia. Ele alega que os atrasos foram consequência da burocracia e das demoras para os licenciamentos.

Na avaliação de Lamachia, a situação causou prejuízos ao Consórcio, que só poderia lucrar após a finalização das obras e início da operação. Isso, de acordo com ele, ficou inviabilizado devido a "morosidade estatal". Apesar da convicção, Lamachia garante esperar por um acordo entre as partes. "Estou orientando meus clientes no sentido de não judicializar o caso, pois isso seria prejudicial para eles, o Estado e a cidade de Porto Alegre, é algo que pode demorar 5, 10, até 15 anos."

Em paralelo às análises jurídicas sobre o contrato, o pedido para que o espaço do Cais Mauá seja retirado da poligonal portuária. Isso significa que o local não seja mais utilizado como um porto. O processo está sob a responsabilidade do diretor-superintendente do Porto de Rio Grande, Fernando Estima, que considera grandes as chances de o governo federal atender ao pedido. "As três instituições, Secretaria Nacional dos Portos, o presidente Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) quanto o presidente (Jair) Bolsonaro e o ministro de infraestrutura,  repetiram que apoiarão uma decisão que venha do estado e que faça sentido técnico".

Estima relata também que com o imbróglio envolvendo o Consórcio Cais Mauá, e caso a mudança seja confirmada, o governo estuda um novo modelo de contrato. Nele estaria previsto um tempo maior de concessão. "Estamos aproveitando uma situação de revisão, mais de 6 anos para explorar, contrato de 25, passaram 9. Se a União devolve essa área para o estado pode relicitar e pode licitar por prazos maiores, com isso conseguimos trazer um interesse maior da iniciativa privada inclusive com um valor maior".

O superintende explica que a mudança não acabará com a atividade portuária na Capital. Segundo ele, a orla será dividida em duas partes, uma voltada para o turismo e outra voltada aos negócios. No ano passado, o modal hidroviário de Porto Alegre teve 1,3 mil viagens. O objetivo de estima é aumentar esses negócios nos próximos anos.


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