"Estamos aqui para mostrar que as coisas não podem se repetir", diz promotora do caso Kiss

"Estamos aqui para mostrar que as coisas não podem se repetir", diz promotora do caso Kiss

Lúcia Helena Callegari relatou que o processo é o mais difícil da sua carreira

Lou Cardoso

Julgamento passou para a fase de debates nesta quinta-feira

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A promotora Lúcia Helena Callegari, representante do Ministério Público, apontou, na tarde desta quinta-feira, na fase de debates do julgamento do caso da Boate Kiss, que os jurados têm uma missão muito importante sobre o processo. "Os senhores estão aqui para mostrar ao mundo que as coisas não podem se repetir. Os senhores têm mais do que a missão de julgar. Nós estamos aqui para que as coisas não se repitam", afirmou. 

Segundo a promotora, esse processo é o mais difícil da sua carreira, não por causa do tamanho e nem pela duração dos dias. "O tamanho a gente supera. É por começar a ler e chorar em cada página, pela dor que cada depoimento carrega. Meu coração agora é um pouco de Santa Maria". Ela ainda relembrou o depoimento do empresário e ex-produtor Alexandre Marques que disse que se ainda estivesse trabalhando com festas, ainda estaria usando artefato pirotécnico, que foi o que provocou o fogo do incêndio da Boate Kiss. "Centenas de pessoas morreram e se feriram em vão?", questionou e salientou que ouvir isso no julgamento lhe doeu. 

Ao fazer uso de uma lousa, a promotora escreveu o nome de cada réu e, ao lado, a relação deles com a tragédia. "Nós temos quatro pessoas para julgar e cada uma delas tem uma história", disse. Ela criticou o fato de o ex-vocalista da Gurizada Fandangueira, Marcelo dos Santos, ter usado o artefato pirotécnico e ter alcançado a altura suficiente para causar o início dos fogos. "O que mais me choca é que nunca houve a intenção de avisar ninguém", lamentou. 

Sobre Luciano Bonilha, produtor do grupo musical, ela chamou a atenção pelo crachá dele não ter nenhum "chamuscado" após o incêndio. A promotora ainda destacou, com o uso de vídeo que mostra Marcelo largando o microfone no chão após o início do incêndio, que segundo o depoimento dos funcionários do supermercado que existe em frente à boate, os músicos da Gurizada Fandangueira foram os primeiros a sair do local. 

A promotora ainda apresentou materiais de divulgação da Gurizada Fandangueira e reforçou que, entre os textos, eles destacavam que o diferencial do grupo era o uso de efeitos e pirotecnia em seus shows, e ainda tinha o uso de fogos como marca do grupo. Lúcia também apresentou nota da compra das espumas e um vídeo com depoimento do funcionário da loja onde foi comprado o artefato pirotécnico pelo músico da banda. "Sempre se acreditou na sorte. Quando se acredita na sorte, se assume o risco de matar", disse. 

Lúcia ainda falou sobre o depoimento de Elissandro Spohr, que foi o primeiro réu a falar no julgamento,  que ele não chorou pela morte das vítimas, mas pelo o que aconteceu a Boate Kiss, que o acusado tratava como “sua”. Ela ainda chamou o Mauro Hoffmann de insensível após citar depoimentos que falam que ele virou as costas quando viu as pessoas serem arrastadas para fora da boate na noite da tragédia.

"Estamos com a dor das 242 almas. Nós estamos aqui para fazer uma história que pode ser positiva ou negativa. Estamos aqui para dizer se nós aprovamos ou não aquela conduta. Hoje se nós absolvemos ou que não se assume o risco, nós estaremos dizendo para a sociedade 'continuem!'", destacou. "Façam aquilo o que os senhores deveriam fazer para os seus filhos", encerrou a promotora. 

Após o encerramento do debate da acusação, cada defesa dos réus - Elissandro Spohr, Mauro Hoffmann, Luciano Bonilha e Marcelo Santos - terá  37 minutos e 30 segundos cada para falar no plenário. 


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