Festival Divas do Fogo reúne assadoras em Porto Alegre

“Tenho certeza que o primeiro churrasco da humanidade foi feito por uma mulher.” É com essa frase, baseada no fato de que, na pré-história, os homens eram responsáveis apenas pela caça e não por assar a carne, que a professora de gastronomia, chef e somelier Michelle Landgraf derruba qualquer preconceito que possa haver no fato de o prato mais típico do Rio Grande do Sul ser preparado pelas mulheres. Ao longo de todo o sábado passado, ela e outras assadoras se reuniram em torno de quatro ilhas de fogo de chão para preparar cortes selecionados durante o festival Divas do Fogo, no DC Shopping, em Porto Alegre.

Uma das participantes, a chef Jane Pereira tem uma relação com a carne desde a infância. Filha de açougueiros e irmã da proprietária da primeira boutique de carnes do Rio de Janeiro, a carioca disse que, em sua família, todas as datas comemorativas eram acompanhadas de churrasco. Mas só quando foi convidada para participar de um concurso de um programa de gastronomia na TV que veio a preparar o primeiro assado. Foi logo a segunda colocada, sendo a única mulher contra seis homens.

De acordo com ela, desde então, em nenhum momento sofreu com a visão machista de que fazer churrasco seria uma função somente masculina. Quando se depara com esse tipo de pensamento, não tem dúvida na reação: “Pego a faca e falo: ‘Quero ver você usar melhor do que eu’”, contou a assadora, que preparava entrecot de búfalo no festival de sábado.

Idealizadora do Divas do Fogo há cerca de um ano, Michelle Landgraf afirmou que as mulheres são parte significativa do movimento de apreciação da carne que se espalha pelo mundo e também já se fixou no Brasil. Nos Estados Unidos, segundo ela, há competições com essa temática exclusivamente femininas e, apesar de ainda não haver esse tipo de evento por aqui, no Rio Grande do Sul, em função da tradição, muitas mulheres assam desde criança. É o caso dela que, ao se tornar chef, entendeu o churrasco como um braço da gastronomia e criou um curso para o público feminino.

O festival Divas do Fogo foi realizado pelo Loucos por Carne – BBQ Festival. Segundo o coordenador Henrique Borges, a ideia era aproveitar o momento de apreciação universal em torno do churrasco e trabalhar o empoderamento feminino na atividade de assar que, culturalmente, é tida como patriarcal. Aberto ao público, o evento ofereceu cortes selecionados de búfalo, cordeiro e porco, além de linguiças e outros acompanhamentos. Participaram cinco chefs femininas e outras 35 pessoas auxiliando no preparo, entre homens e mulheres.