Músico pede perdão e critica estrutura da Kiss em depoimento

Músico pede perdão e critica estrutura da Kiss em depoimento

Vocalista da banda Gurizada Fandangueira disse não ter certeza do que provocou o incêndio

Renato Oliveira

Marcelo de Jesus dos Santos, réu no processo, prestou depoimento nesta terça-feira

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Marcelo de Jesus dos Santos, vocalista da banda "Gurizada Fandangueira" e réu no processo da tragédia da Boate Kiss, pediu perdão aos familiares e amigos das vítimas da tragédia. "Eu sinto a dor de todos, lamento. Peço perdão se fiz algo de errado", afirmou. O músico prestou depoimento na tarde desta terça-feira no Fórum de Santa Maria e criticou a estrutura da boate.

O integrante da banda se mostrou desconfortável no banco dos réus. "É difícil responder às perguntas do lugar onde estou sentado. Só desejo que a justiça seja feita da maneira mais clara e para todo mundo", declarou. Afirmou que não tem certeza se foi o uso do artefato pirotécnico, tradicional nas apresentações do grupo, que provocou o incêndio.

Cerca de 120 pessoas, integrantes da Associação dos Familiares das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) e do "Movimento Santa Maria do Luto À Luta" acompanham os depoimentos. "Vamos estar presentes no Salão do Tribunal com um grande número de familiares, destacou o vice-presidente da AVTSM, Sérgio Silva. "A nossa intenção é acompanhar atentamente as colocações dos réus", disse Silva, lembrando que neste momento é preciso ter muito equilíbrio a fim de que não ocorra uma reação negativa.

Na quarta-feira será a vez de outro integrantes da banda, o produtor de palco Luciano Bonilha Leão. Nos dias 2 e 3 de dezembro, prestarão depoimentos os proprietários da casa noturna: Elissandro Spohr, o Kiko, e Mauro Hoffman. Kiko será ouvido em Santa Maria e Mauro Hoffmann em Porto Alegre.

O músico foi ouvido pelo titular da 1ª Vara Criminal, juiz Ulysses Fonseca Louzada, que coordena o processo na esfera criminal. Eles são acusados por homicidio com dolo eventual - quando a pessoa assume o risco de matar -, qualificado (por asfixia, incêndio e motivo torpe) pelas mortes e pela tentativa de homicidio. Os quatro reús - que foram presos no final de janeiro e início de março de 2013 - foram libertados no dia 23 de maio do mesmo ano.

O processo se encontra na fase final de instrução. Foram ouvidas mais de 180 pessoas, entre sobreviventes, testemunhas e peritos. Após os depoimentos dos réus, o juiz receberá as alegações finais das defesas e acusações e irá decidir se os quatro acusados irão a Júri popular.

Tragédia

O incêndio na boate Kiss – que ficava na Rua dos Andradas, Centro de Santa Maria – começou por volta das 2h30min da madrugada de 27 de janeiro de 2013. Dos que participavam de uma festa organizada por estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), 242 morreram em decorrência do fogo.

Segundo testemunhas, o fogo teria começado quando um dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, que acabara de subir ao palco, lançou um sinalizador. O objeto teria encostado na forração da casa noturna. As pessoas não teriam percebido o fogo de imediato, mas assim que o incêndio se espalhou, a correria teve início. Conforme relatos, os extintores posicionados na frente do palco não funcionaram.

Em pânico, muitos não conseguiram encontrar a única porta de saída do local e correram para os banheiros. Aqueles que conseguiram fugir em direção à saída, ficaram presos nos corrimãos usados para organizar as filas. A boate foi tomada por uma fumaça preta e as pessoas não conseguiam enxergar nada. A maioria morreu asfixiada dentro dos banheiros ou na parte dos fundos da boate.

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