Sócio da boate teria pedido “mais pirotecnia”, diz testemunha

Sócio da boate teria pedido “mais pirotecnia”, diz testemunha

Conforme o ex-operador de áudio e técnico de som, Venâncio da Silva Anschau, era comum festas com shows pirotecnia em Santa Maria

Correio do Povo

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O sétimo dia de julgamento do incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria, começou com o depoimento do ex-operador de áudio e técnico de som, Venâncio da Silva Anschau, de 40 anos, testemunha de defesa do réu Marcelo de Jesus dos Santos, da banda Gurizada Fandangueira. Segundo Anschau, Elissandro Spohr, um dos sócios da boate, teria pedido “mais pirotecnia” nos shows da banda. A solicitação teria sido feita aos músicos em outubro de 2012.

À época, a conclusão da Polícia Civil foi de que os fogos que saíram do artefato, em contato com a espuma de isolamento da casa, teriam iniciado o incêndio que vitimou cerca de 242 pessoas, e ferido outras 636.

Anschau, atualmente agente legislativo da Câmara de Santa Maria, disse que trabalhava eventualmente com a banda desde 1999, mas que passou a prestar serviços exclusivos para o grupo a partir de 2010. Segundo ele, era comum o uso de artefatos pirotécnicos. “Era raro o estabelecimento na época que não fosse revestido com espuma”, explicou.

Ex-operador de áudio afirmou que nunca questionou os integrantes da banda ou demonstrou preocupação sobre o uso do artefato pirotécnico. Ele teria conversado com um dos integrantes e recebido a orientação que o fogo era "frio". Mas que não se recordava de quem havia recebido essa informação. No entanto, no decorrer da oitiva, o operador lembrou-se de ter conversado com o réu Luciano Bonilha Leão, produtor musical, sobre o fato.

Superlotação 

Um dos pontos sustentados pela acusação diz respeito à superlotação da boate. Sobre isso, a testemunha confessou: “Culturalmente, eu aprendi que festa boa é festa cheia. Se eu sonorizasse um evento que não tinha bilheteria, era uma festa fraca".

O operador se emocionou ao lembrar de uma entrevista de emprego após o incêndio. “Antes de começar a entrevista, eu falei que fui operador da Gurizada Fandangueira. E que se não fosse para me contratar, não tinha problema, mas não queria que isso aparecesse depois. Fui contratado, e participei de 90% das matérias e das edições de áudio foram exibidas no veículo”, contou, aos prantos.

Questionado sobre o que diria para os familiares das vítimas da Kiss, Venâncio Anschau diz que “pediria um abraço”. Após a fala, o juiz Orlando Faccini Neto ponderou à advogada de defesa do réu Marcelo, Tatiana Borsa, que a manobra, caso fosse feita pelo MP, geraria revolta dos defensores. Venâncio Anshau relatou ainda que recebeu a visita de um colega de profissão após deixar o hospital. O homem teria dito que iria vender os equipamentos de sonorização pelo que aconteceu na Kiss. "Por culpa de vocês", acrescentou. O depoimento de Anshau foi encerrado próximo ao meio-dia. Na parte da tarde, será ouvida a arquiteta Nivia da Silva Braido, testemunha do Ministério Público.

Com informações dos repórteres André Malinoski e Aristoteles Júnior 


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