Após atentado racista, ameaça para segurança vinculada à extrema-direita é "muito alta" na Alemanha

Após atentado racista, ameaça para segurança vinculada à extrema-direita é "muito alta" na Alemanha

País teve vigílias para lembrar os nove mortos do ataque em Hanau

AFP

Memorial é improvisado no local do ataque racista em Hanau

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A ameaça para a segurança vinculada à extrema-direita é "muito alta na Alemanha", afirmou o ministro do Interior, Horst Seehofer, após os ataques racistas de quarta-feira na cidade de Hanau, que deixaram nove mortos. Ele anunciou o aumento da "vigilância nos locais sensíveis, sobretudo nas mesquitas", mas também nos aeroportos.

A ministra da Justiça, Christine Lambrecht, prometeu que o governo "examinará de maneira minuciosa" como os extremistas conseguem comprar armas, como foi o caso do agressor de Hanau. Para Christine, a violência da extrema direita é, hoje, "o principal perigo" para a democracia alemã, não apenas devido ao "número" de suspeitos, mas a sua grande determinação.

Tudo indica que o agressor de Hanau, identificado como Tobias R., agiu sozinho, do mesmo modo que o homem que matou duas pessoas em outubro passado em uma tentativa de ataque a uma sinagoga na cidade de Halle. Isso aumenta a dificuldade na hora de identificar e localizar os suspeitos a tempo. "Cerca de metade" das pessoas que decidem passar para a ação "não está fichada pela polícia", afirmou o responsável pela polícia criminal, Holger Munch.

A Alemanha acaba de reforçar sua legislação para posse de armas e adotou, na quarta-feira, um dia antes da tragédia, um projeto de lei com novas medidas para detectar as ameaças de grupos de extrema direita na Internet, sancioná-las e proteger seus possíveis alvos.

Vigílias

Um dia após os assassinatos de Hanau, foram realizadas vigílias na noite desta quinta-feira em toda a Alemanha. Na cidade alvo do ataque, perto de Frankfurt, em Hamburgo, em Berlim e em cinquenta outras cidades, milhares de pessoas se reuniram contra o ódio. "Esse ataque me chocou. Por causa de sua história, a Alemanha deve ser um exemplo para a Europa e o mundo", disse Patrick Knopke, de 36 anos, em Berlim, em frente ao mítico Portão de Brandenburgo. Os manifestantes formaram uma corrente humana. 

Em Hanau, milhares de pessoas se reuniram em silêncio na noite de quinta-feira, na presença do Presidente da República, Frank-Walter Steinmeier, que lhes disse: "Demonstrem solidariedade!" "O racismo é um veneno, o ódio é um veneno. E esse veneno existe em nossa sociedade", lamentou a chanceler Angela Merkel, evocando uma série de assassinatos e ataques das últimas duas décadas ligados ao terrorismo de extrema direita e fanatismo religioso.

O suposto agressor, Tobias R., um alemão de 43 anos, foi encontrado morto na manhã de quinta-feira em seu apartamento, ao lado do corpo de sua mãe, assassinada a tiros, levando a um total de 11 mortes.

Vítimas de origem turca e curda

As vítimas, algumas de origem ou nacionalidade estrangeira, tinham entre 21 e 44 anos, segundo a promotoria. Um bósnio e um búlgaro estão entre os mortos. Cinco turcos estão entre as vítimas, anunciou um conselheiro próximo de Recep Tayyip Erdogan na noite de quinta-feira. Entre os mortos estão "várias vítimas de origem curda", segundo um comunicado da Confederação das Comunidades do Curdistão na Alemanha.

O pai do único suspeito foi encontrado ileso do lado de fora do apartamento. A procuradoria antiterrorismo está investigando se o autor teve um cúmplice para realizar esses ataques, cujo motivo é "profundamente racista".

O primeiro massacre atingiu um bar de narguilé na noite de quarta-feira, à meia-noite, no centro de Hanau, uma cidade de cerca de 100.000 habitantes e a 20 km de Frankfurt. Em seguida, o criminoso dirigiu-se para outro estabelecimento, o Arena Bar, no bairro de Kesselstadt, onde atirou nos que estavam na área de fumantes, matando outras cinco pessoas, incluindo uma mulher.

"As vítimas são pessoas que conhecemos há anos", incluindo dois funcionários da Arena, disse o filho do gerente do bar, ausente na hora do tiroteio, citado pela agência da DPA. "É um choque para todos".

O suposto autor, que formado em consultor financeiro após estudar administração, deixou um vídeo e um manifesto de 24 páginas, ao qual a AFP teve acesso. Nele, ele faz uma convocação para "exterminar" a população de pelo menos 24 países, incluindo os do norte da África, do Oriente Médio, de Israel ou do sul da Ásia. Ele apresenta teses raciais e garante que é vigiado pelos serviços secretos desde a infância. Os investigadores também encontraram seu carro, que continha munição e carregadores. O suspeito tinha uma licença de caça.

Terrorismo de extrema direita

Nesta quinta-feira, uma dúzia de pessoas se concentrou na frente dos dois estabelecimentos. Alguns choraram. "Eu conhecia bem as pessoas que estavam nesse bar. Não é normal o que aconteceu, poderia ter sido eu", disse à AFP Ahmed, um morador de 30 anos do bairro.

Os titulares da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen; do Parlamento Europeu, David Sassoli; e do Conselho Europeu, Charles Michel, disseram que ficaram "chocados" com a tragédia e condenaram o "ódio" e a "violência". A ameaça de um terrorismo de extrema direita preocupa cada vez mais as autoridades alemãs, sobretudo, desde o assassinato de um deputado alemão favorável aos migrantes, que pertencia ao partido da chanceler Angela Merkel, em junho do ano passado.

Na sexta-feira, 12 integrantes de um pequeno grupo de extrema direita foram detidos no âmbito de uma investigação antiterrorista. As autoridades acreditam que eles planejavam ataques em grande escala contra mesquitas para imitar o autor do atentado de Christchurch, na Nova Zelândia, que em março de 2019 matou 51 pessoas em duas mesquitas e transmitiu os massacres ao vivo.

Em outubro, um extremista que nega o Holocausto tentou atacar uma sinagoga em Halle. Como não conseguiu entrar no edifício religioso em que os fiéis estavam entrincheirados, ele atirou em um pedestre e no cliente de um restaurante de kebab e transmitiu o atentado ao vivo on-line. Atualmente, o serviço de Inteligência monitora 50 pessoas vinculadas ao movimento de extrema direita, consideradas um "perigo para a segurança do Estado". 


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