Audiência do processo de Suu Kyi é adiada, e Mianmar tem novos protestos

Audiência do processo de Suu Kyi é adiada, e Mianmar tem novos protestos

Ao menos 44 manifestantes pró-democracia morreram no domingo em ações das forças de segurança, segundo a ONG de assistência aos presos políticos AAPP

AFP

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As manifestações pró-democracia prosseguiram nesta segunda-feira em Mianmar, um dia depois de uma das jornadas mais violentas dede o golpe de Estado militar de 1º de fevereiro. Ao menos 44 manifestantes pró-democracia morreram no domingo em ações das forças de segurança, segundo a ONG de assistência aos presos políticos AAPP. A organização contabiliza mais de dois mil detidos desde o golpe de Estado, incluindo Auung San Suu Kyi, prêmio Nobel da Paz em 1991, líder de fato do governo birmanês até janeiro. Ela segue presa em um local secreto.

Suu Kyi, de 75 anos, deveria comparecer nesta segunda-feira à Justiça por videoconferência. A audiência foi adiada por falta de conexão com a Internet e remarcada para 24 de março, informou à AFP seu advogado Khin Maung Zaw. Suu Kyi foi acusada de pelo menos quatro crimes: importação ilegal de walkie-talkies, não cumprimento das restrições relacionadas com o coronavírus, violação de uma lei sobre telecomunicações e incitação a distúrbios públicos.

A junta militar também a acusa de corrupção, ao afirmar que ela recebeu 600 mil dólares e mais de 11 quilos de ouro de subornos. Aung San Suu Kyi parecia em boa saúde no dia 1º de março, durante uma audiência por videoconferência, de acordo com Khin Maung Zaw, que não foi autorizado a encontrar a cliente.

- "Crimes contra a humanidade" -

Novas manifestações aconteceram nesta segunda-feira em várias partes do país, como Mandalay (centro), onde os participantes exibiram cartazes com frases como "Parem a violência", ou "Salvem Mianmar". Após seis semanas de manifestações pró-democracia, os generais continuam com a repressão: mais de 120 manifestantes morreram desde fevereiro, segundo a AAPP.

O Conselho de Direitos Humanos da ONU denunciou perseguições, mortes, desaparecimentos forçados, torturas e prováveis "crimes contra a humanidade" executados pelo Exército. "Os dirigentes da junta não devem ficar no poder, e sim atrás das grades", tuitou nesta segunda-feira o relator especial da ONU para Mianmar, Tom Andrews, que pediu o fim imediato do fornecimento de dinheiro e de armas aos militares.

No domingo, a situação foi particularmente tensa em Hlaing Tharyar, um subúrbio industrial de Yangon que abriga muitas fábricas têxteis, onde morreram 22 pessoas. As forças de segurança abriram fogo contra os manifestantes, após o incêndio de várias fábricas chinesas. A embaixada da China pediu às autoridades que garantam a segurança de suas empresas e funcionários.

Muitos veículos militares foram mobilizados na região, onde os moradores permaneceram entrincheirados em suas casas e ouviram os tiros de maneira ininterrupta. Nenhum grupo reivindicou os incêndios, mas o ressentimento contra a China aumentou nas últimas semanas no país. Muitos pensam que Pequim, grande investidor em Mianmar, tem uma posição muito indulgente com os militares golpistas.

Após os confrontos, a junta decretou lei marcial em seis áreas de Yangon, Hlaing Tharyar e Shwepyitha. Qualquer pessoa detida nos subúrbios será julgada por um tribunal militar e corre o risco de condenação a pelo menos três anos de trabalhos forçados.

Outros 22 manifestantes morreram em outras regiões do país, segundo a AAPP. A imprensa estatal informou que manifestantes tentaram incendiar uma delegacia em Yangon, o que levou as forças de segurança a atirarem para dispersar a multidão. Um policial morreu em Bago, ao nordeste da capital capital econômica. A conexão com a Internet móvel, cortada há várias semanas durante a noite, mas habitualmente restabelecida durante o dia, não funcionava nesta segunda-feira na capital econômica do país.

- Resistência -

A envida da ONU para Mianmar, Christine Schraner Burgener, condenou o novo banho de sangue, enquanto o Reino Unido, ex-potência colonial, expressou "consternação" com o uso da força "contra inocentes". Nesta segunda, o governo chinês disse estar "muito preocupado" com a segurança de seus cidadãos em Mianmar.

A China "está muito preocupada com o impacto na segurança das instituições e dos funcionários chineses", afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, pedindo ao governo que tome ações para, "de forma decidida, evitar a recorrência de tais incidentes".

A junta militar ignora as críticas internacionais. Muitos líderes da Liga Nacional para a Democracia (LND) foram detidos após o golpe de Estado, e dois morreram quando estavam em detenção. Alguns deputados, que passaram à clandestinidade em sua maioria, criaram um Comitê para representar a Assembleia da União (CPRH), que representará um parlamento fantasma.

Na sexta-feira, seu vice-presidente, Mahn Win Khaing Than, fez um apelo contra a "ditadura injusta". "É o momento mais sombrio da nação, mas a resistência deve ganhar", declarou. A junta advertiu que integrar o comitê é o equivalente a uma "alta traição", com o risco de penas de prisão de até 22 anos. Os generais, que alegaram fraudes nas eleições legislativas de novembro - vencidas pela LND - para justificar o golpe, acabaram com uma década de transição democrática.

 

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