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Começa julgamento de 10 pessoas por assédio online contra a primeira-dama da França

Entre as principais calúnias, uma delas afirmavam que Brigitte Macron era um homem

Foto : Mohammed Badra / POOL / AFP / CP

Dez pessoas, entre elas um professor, um publicitário, um técnico de informática e uma médium, serão julgadas entre segunda e terça-feira em Paris por assédio cibernético sexista contra Brigitte Macron, esposa do presidente francês, que foi alvo de informações falsas que circularam pelo mundo e afirmavam que ela era um homem.

O julgamento no tribunal correcional de Paris acontece depois que, no final de julho, o casal presidencial iniciou ações legais nos Estados Unidos por difamação após anos de polêmicas e rumores amplamente divulgados por redes conspiratórias e de extrema direita.

A diferença de idade de 24 anos entre Brigitte e Emmanuel Macron explica em parte a propagação do boato, que avançou muito além das fronteiras do país.

A informação falsa surgiu após a eleição de Emmanuel Macron em 2017 e viralizou especialmente nos Estados Unidos, onde o casal presidencial recentemente iniciou ações legais contra a podcaster de extrema direita Candace Owens, próxima ao movimento trumpista MAGA e conhecida por suas posturas antissemitas e pró-Rússia.

Várias pessoas que serão julgadas em Paris por ciberassédio compartilharam publicações de Owens, que possui milhões de seguidores nas redes sociais e é autora de uma série de vídeos com o título 'Becoming Brigitte' ('Tornando-se Brigitte').

Entre as imagens compartilhadas está uma capa falsa da revista Time, na qual Brigitte Macron aparece como 'homem do ano'.Em outra publicação, um acusado afirmou que havia '2.000 pessoas' dispostas a seguir de 'porta em porta em Amiens (cidade natal do casal, no norte da França) para esclarecer o tema Brigitte', com a promessa de participação de blogueiros americanos na suposta mobilização.

A investigação por assédio online foi coordenada pela Brigada de Repressão ao Crime contra Pessoas (BRDP) após uma denúncia apresentada por Brigitte Macron em 27 de agosto de 2024, o que resultou em várias ondas de detenções, em particular em dezembro de 2024 e fevereiro de 2025.

Noticiário

Os acusados, oito homens e duas mulheres com idades entre 41 e 60 anos, são suspeitos de comentários maliciosos sobre Brigitte Macron a respeito de seu 'gênero' e sua 'sexualidade', além de terem afirmado que a diferença de idade de 24 anos entre ela e seu marido, o presidente do país, equivale à 'pedofilia', segundo o Ministério Público de Paris.

Procurado pela AFP, o advogado de Brigitte Macron, Jean Ennochi, não informou se a primeira-dama francesa estaria presente no início do julgamento.

Entre os réus está o publicitário Aurélien Poirson-Atlan, 41 anos, conhecido nas redes sociais como 'Zoé Sagan'. Sua conta no X, que está suspensa, foi alvo de várias denúncias e frequentemente é apresentada como vinculada a círculos de teorias da conspiração.

Outra acusada é a 'médium', 'jornalista' e 'denunciante' Delphine J., 51 anos, conhecida pelo pseudônimo de Amandine Roy, que divulgou o boato de que Brigitte Macron, cujo sobrenome de solteira era Trogneux, era na verdade seu irmão Jean-Michel Trogneaux, que havia mudado de gênero.

Delphine J. apenas 'reagiu ao noticiário', segundo sua advogada Maud Marian, que acrescentou que 'nenhuma mensagem foi endereçada diretamente para a senhora Macron'.

A 'médium' foi considerada culpada por difamação em 2024 e condenada pela Justiça francesa a pagar milhares de euros por danos e prejuízos a Brigitte Macron e a seu irmão Jean-Michel, mas foi absolvida no julgamento do recurso no dia 10 de julho.

Brigitte Macron e seu irmão apelaram contra a decisão.Entre os outros acusados estão um funcionário eleito, um galerista e um professor. Todos podem ser condenados a até dois anos de prisão.

Outras mulheres do mundo da política já foram vítimas de informações falsas de caráter transfóbico em outras regiões do mundo, como a ex-primeira-dama dos Estados Unidos Michelle Obama, a ex-vice-presidente dos Estados Unidos Kamala Harris e a ex-primeira-ministra da Nova Zelândia Jacinda Ardern.