Crise envolvendo gás será grave na Europa se inverno for rigoroso, aponta especialista

Crise envolvendo gás será grave na Europa se inverno for rigoroso, aponta especialista

Rússia suspendeu fornecimento do produto como represália ao apoio do Ocidente na guerra na Ucrânia 

Lucas Eliel

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Se o inverno na Europa for rigoroso, o Velho Continente enfrentará uma grave crise econômica e social. Esta é a avaliação do pesquisador do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia, Késsio Lemos. Como forma de represália ao apoio do ocidente à Ucrânia na guerra, a Rússia decidiu suspender o fornecimento de gás natural aos países europeus, causando efeitos negativos na economia desde já e lançando um temor sobre que modo a população irá enfrentar os dias frios. 

"Para o inverno, 90% dos países da Europa hoje estão preparados em termos de estocagem de gás natural. Alguns especialistas calculam que, para passar o frio, 80% dos estoques de gás natural devem estar preenchidos", enfatiza Lemos. O problema, conforme o estudioso, é que os cálculos são feitos com base em um inverno regular. Ou seja, se a estação for congelante, a Europa fica em uma situação nebulosa. 

Em um cenário de inverno mais intenso, a maior probabilidade é de a Europa priorizar a população e a indústria ser a mais penalizada na utilização do gás. A preocupação com os cidadãos europeus em geral, porém, teria um preço. "Uma onda de desemprego e de recessão econômica aconteceria e isso poderia ter impactos eleitorais também em um futuro próximo por conta da alta no custo de vida", avalia. 

A invasão da Rússia na Ucrânia começou ainda em 24 de fevereiro deste ano. Por conta ofensiva, o Kremlin sofreu uma série de sanções econômicas. Embora o posicionamento do Ocidente hoje seja pró-Ucrânia, o especialista acredita que caso uma situação mais caótica na Europa se concretize nos próximos meses, a União Europeia poderia reavaliar o seu apoio como forma de amenizar a relação com o governo de Vladimir Putin. 

Para Lemos, a geografia das nações europeias impacta diretamente em o quanto eles podem ser mais favorecidos ou desfavorecidos durante uma possível crise. "Alemanha, Itália e França estão muito dependentes da infraestrutura de gás que vem da Rússia. Países mais separados, como o Reino Unido, têm uma outra infraestrutura que pode fazer com que eles tenham algum tipo de privilégio", considera. 

Vazamentos nos gasodutos 

Paralelamente, constantes vazamentos ocorreram nos gasodutos Nord Stream 1 e 2 no Mar Báltico, sendo que somente no primeiro o fornecimento de gás estava ativo antes da decisão da suspensão russa. O Kremlin tem sido acusado de sabotagem pela União Europeia (UE), algo negado pela Rússia.

Segundo o pesquisador Késsio Lemos, a questão sobre a responsabilidade dos vazamentos é um tema bastante delicado e é muito cedo para indicar quem seria o culpado, ou se realmente aconteceu a sabotagem. Contudo, aponta que não seria a Rússia a mais interessada nos danos dos gasodutos. "Especialistas têm afirmado que talvez esses vazamentos seriam muito mais interessantes para os Estados Unidos. Essa análise é muito respaldada em discurso do presidente Joe Biden de que se a Rússia invadisse a Ucrânia, nunca mais o Nord Stream 2 iria funcionar", reflete. 

Vazamento em gasodutos agravam relação da Rússia com o Ocidente | Foto: Handout / Swedish Coast Guard / AFP / CP

Divisão

O jornalista brasileiro Eric Raupp, hoje residente na República Tcheca, afirma que as pessoas na Europa estão conscientes no uso do gás e há uma divisão entre os mais confiantes das articulações da União Europeia para contornar o impasse e aqueles nervosos com os próximos meses. "Agora, por exemplo, eu já estaria com meu aquecedor ligado, pois para mim já está frio o suficiente. Mas como sei da situação, está tudo desligado", destaca. "O que os governos têm tentado fazer é encontrar soluções para cada local, mas ao mesmo tempo estão procurando soluções para armazenamento de gás", acrescenta. 

No final de setembro, ministros europeus chegaram a um acordo político sobre medidas de emergência para tentar conter os elevados valores das contas de energia que vieram com a suspensão russa. O documento inclui uma redução obrigatória da demanda de eletricidade, um teto para os lucros de produtores de energia não baseados em gás e uma contribuição solidária de geradores de energia baseados em combustíveis fósseis.

A meta é atingir uma redução de 5% no consumo em horários críticos até março de 2023. No entanto, os 27 da UE países continuam divididos sobre a proposta de adotar um teto para o preço do gás, ideia que enfrenta resistência principalmente da Alemanha, principal economia do bloco.

 


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