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EUA pondera o que fazer com Venezuela após se declarar em “conflito armado” contra os cartéis

Governo de Donald Trump considera que possui os argumentos legais necessários para justificar seus ataques letais no Caribe

Governo de Donald Trump considera que possui os argumentos legais necessários para justificar seus ataques letais no Caribe
Governo de Donald Trump considera que possui os argumentos legais necessários para justificar seus ataques letais no Caribe Foto : Martin Bernetti / AFP / CP

O governo de Donald Trump considera que possui os argumentos legais necessários para justificar seus ataques letais no Caribe, e especialistas em Washington debatem se isso poderia ser o prelúdio de uma ação mais ampla contra a Venezuela.

Os Estados Unidos enfrentam um "conflito armado" com os cartéis do narcotráfico, declarou Trump em uma carta oficial ao Congresso, onde alguns legisladores expressaram dúvidas sobre a legalidade desses ataques contra embarcações.

A Constituição dos EUA estabelece que apenas o Congresso tem a autoridade para declarar guerra.

Veículos de imprensa americanos informaram sobre outro memorando do Departamento de Justiça que justificaria o uso até mesmo de agências como a CIA nessas operações contra o regime de Nicolás Maduro, o que poderia levar a relação de Washington com a América Latina de volta a épocas passadas.

Uma probabilidade "de 50%"

Nesta terça-feira (7), a procuradora-geral dos Estados Unidos, Pam Bondi, se recusou a confirmar a existência do memorando durante uma audiência no Senado.

"O que posso dizer é que Maduro é um narcoterrorista (...) e que está atualmente acusado em nosso país", afirmou em resposta a perguntas do senador democrata Chris Coons.

Segundo Evan Ellis, professor e pesquisador sobre América Latina no Colégio de Guerra do Exército dos EUA, a probabilidade de um ataque "é de 50%".

"Se isso não se resolver por si só até novembro ou dezembro, pode haver uma decisão de usar informações de inteligência críveis e levar Maduro à justiça", declarou à AFP.

Além dos ataques contra as embarcações, que deixaram ao menos 21 mortos, vários caças F-35, atualmente baseados em Porto Rico, sobrevoaram brevemente a costa venezuelanas, segundo Caracas, que mobilizou tropas e milícias pró-governo.

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Esse tipo de manobra, assim como a presença de navios destróieres e forças mistas no Caribe, indica que algum tipo de escalada pode ocorrer em breve, segundo o especialista.

"Minha impressão é que o presidente Trump perdeu a paciência" com o regime de Maduro, explica esse ex-alto funcionário do primeiro mandato do republicano.Maduro enviou uma carta a Trump pedindo diálogo, mas a Casa Branca rejeitou a mensagem.

Um colapso do regime?

O papel do enviado especial da Casa Branca para esse tipo de negociação, Richard Grenell, é uma incógnita no momento, segundo fontes diplomáticas.

Um ataque contra algum tipo de alvo ligado ao narcotráfico em território venezuelano "é uma possibilidade", declarou à AFP Frank Mora, ex-subsecretário adjunto de Defesa para a América Latina durante a primeira presidência de Barack Obama.

"Destacar uma flotilha naval para depois não fazer nada ou simplesmente neutralizar algumas embarcações, não creio que fosse o plano", afirmou.

"O problema é que não acredito que eles saibam qual é o objetivo", acrescentou, referindo-se ao atual governo Trump. "Por um lado, o presidente diz que quer desmantelar esse tráfico. E por outro, a esperança é que de alguma forma isso leve ao colapso do regime" de Maduro, completou.

Ao ser perguntado nesta terça-feira se gostaria de ver uma mudança de regime na Venezuela, Trump declarou aos jornalistas: "não estamos falando disso, estamos falando do fato de que houve uma eleição que foi muito estranha, para dizer o mínimo".

O tempo joga contra o governo Trump, caso a crescente oposição de legisladores se transforme em uma ação judicial. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos autorizaram a petroleira Chevron a retomar a produção na Venezuela, segundo anunciou Maduro em 24 de julho.

Como em outras ações militares recentes do governo Trump, como o ataque contra instalações nucleares iranianas, a palavra final cabe ao presidente, que costuma deixar sua cúpula diplomática e militar debater vigorosamente diante dele no Salão Oval."É possível que Trump acabe acertando algo que o satisfaça e siga em frente", admitiu Ellis.