Fernández promete levar lei de aborto ao Congresso o quanto antes: "problema de saúde pública"
Presidente eleito da Argentina defendeu fim da "disputa entre progressistas e conservadores" e que "quando alguém descriminaliza e legaliza o aborto, isso não o torna obrigatório"
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O presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, garantiu em entrevista neste domingo que é "um ativista para acabar com a criminalização do aborto" e que vai impulsionar um projeto de legalização, com a intenção de que seja aprovado o mais rapidamente possível. "Vou tentar que saia o quanto antes. Não depende só de mim. Haverá um projeto de lei enviado pelo Presidente", declarou ao jornal Página/12. "Eu gostaria que o debate não fosse uma disputa entre progressistas e conservadores, entre revolucionários e retrógrados, é um problema de saúde pública que temos que resolver e devemos assumi-lo dessa maneira", completou.
Ele garantiu que enviará um projeto de lei ao Congresso assim que assumir o governo, em 10 de dezembro, sem esclarecer se vai procurar apenas descriminalizar ou legalizar a prática, como pedem movimentos de mulheres. "Não pode se tornar um elemento de disputa entre nós. Devemos respeitar tanto a mulher que sente que é um direito sobre seu corpo quanto a mulher que sente que Deus não permite que ela o faça. E quando alguém descriminaliza e legaliza o aborto, isso não o torna obrigatório. Portanto, aquela que continua tendo a convicção de que Deus não permite, que não o faça. E vamos respeitá-la. E ela precisa respeitar os outros", argumentou.
Fernández contou também que está comovido com o livro "Somos Belén", de Ana Correa , que conta a história de uma jovem Tucumana que foi presa após um aborto espontâneo. “Não podemos continuar condenando as mulheres como aconteceu com Belém, que nem sabia sobre a gravidez. Como podemos viver nessa sociedade? Como podemos ver isso e não reagir?. Mas não é possível que essas coisas aconteçam, não é possível que a Argentina continue vivendo essas coisas. E não digo isso contra ninguém, digo a favor de todos", comentou. A mulher cuja vida é contada na história passou quase três anos presa.
Na Argentina, o aborto só é permitido em casos de estupro, ou se a vida da mulher está em risco. Em 2018, em meio a enormes mobilizações de mulheres, pela primeira vez se debateu um projeto de lei de aborto legal no Congresso argentino. Ele foi aprovado pelos deputados, mas rejeitado no Senado.