Indianos pedem demissão de juiz que propôs que estuprador se casasse com a vítima

Indianos pedem demissão de juiz que propôs que estuprador se casasse com a vítima

Proposta provocou a indignação de defensores dos direitos humanos, que enviaram uma carta aberta pedindo o afastamento do juiz

AFP

O juiz indiano Sharad Arvind Bobde

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Mais de 5 mil pessoas pediram, nesta quarta-feira, a demissão do presidente do Supremo Tribunal indiano por ter proposto durante o julgamento de um suposto estuprador que ele se casasse com sua vítima, menor de idade, para evitar a prisão, informaram os defensores dos direitos humanos.

O juiz Sharad Arvind Bobde presidiu na segunda-feira uma sessão para avaliar a liberdade sob fiança de um funcionário do governo, acusado de ter estuprado uma estudante. Durante a audiência, ele disse: "se você quiser se casar com ela, podemos te ajudar. Se não, perderá seu emprego e irá para a prisão".

"Ao sugerir que este estuprador se case com a vítima, você, o juiz mais importante da Índia, quis condená-la a uma vida de estupros, entregando-a ao carrasco que fez com que ela tentasse acabar com a própria vida", diz a carta que exige a saída de Bobde. 

Vítimas e o tratamento sexista 

As vítimas de agressões sexuais na Índia são frequentemente submetidas a um tratamento degradante e sexista por parte da Justiça e da polícia, que não hesitam em incentivá-las a se casar com seus agressores.

A carta que pede a demissão do juiz indiano também lembra que em outra audiência, realizada na segunda-feira, o mesmo magistrado duvidou da existência de estupro dentro do casamento. "O marido pode ser um homem brutal talvez, mas podemos classificar como estupro as relações sexuais entre um homem e uma mulher legalmente casados?", questionou o juiz.

"Este comentário não só autoriza qualquer forma de violência sexual, física e psicológica por parte do marido, como também normaliza a tortura que mulheres indianas sofrem há anos dentro do casamento sem nenhum amparo legal", diz a carta. O estupro dentro do casamento não é considerado um crime na Índia. Até o momento, o juiz não respondeu a carta.


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