Mercados argentinos têm segunda-feira sombria após derrota de Macri

Mercados argentinos têm segunda-feira sombria após derrota de Macri

Macri ganhou 32% dos votos contra Fernández e Cristina Kirchner, com 47%

AFP

Moeda rapidamente alcançou 60 pesos por dólar

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O peso argentino derreteu, e a bolsa recuou cerca de 30% nesta segunda-feira, após a derrota do liberal Mauricio Macri nas primárias deste domingo, das quais o kirchnerista Alberto Fernández saiu como favorito às eleições presidenciais de 27 de outubro. Na "city porteña", a moeda abriu a 53 pesos, mas rapidamente alcançou os 60 pesos por dólar. Acabou fechando a 57,30 pesos, uma desvalorização de 18,76% em relação a sexta-feira passada. Algumas casas de câmbio desligaram seus letreiros e, em alguns momentos, os sites de bancos saíram do ar.

O Banco Central argentino elevou a taxa de juros a 74% ano e preparou um leilão de 50 milhões de dólares, em uma tentativa de conter a corrida cambial. Mas a incerteza fez a Bolsa de Buenos Aires despencar. Na sexta, ela tinha subido 8%, demonstrando otimismo. Nesta segunda, a queda foi de até 34%, chegando a 46% para algumas ações. Na Bolsa de Nova York, os títulos argentinos tiveram queda de cerca de 20% e as ações de empresas argentinas de mais de 50%.

"É o que acontece quando um governo mente sobre o rumo da economia", reagiu Fernández, visto com desconfiança pelos mercados, que prefere Macri e suas políticas liberais. Fernández, que forma chapa com a ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015), teve 47% dos votos, e Macri, 32%. A diferença é quase impossível de ser superada.

Com candidaturas definidas de antemão, as primárias servem como uma pesquisa de escala real. Se o resultado se repetir em outubro, Fernández pode ganhar no primeiro turno. Para isso, é preciso obter 45% dos votos, ou 40% se tiver mais de 10 pontos à frente do segundo colocado. Um eventual segundo turno ocorrerá em 24 de novembro, e o próximo presidente deve assumir em 10 de dezembro.

Governabilidade

Em meio ao nervosismo, Macri convocou uma coletiva de imprensa nesta tarde, após se reunir com seu gabinete. "Temos a responsabilidade de governar até 10 de dezembro. A oposição também tem a responsabilidade de acompanhar e garantir a governabilidade", disse o ministro Rogelio Frigerio.

Mas Fernández enfatizou: "Estamos começando uma campanha novamente. O governo tem que governar e nós somos oposição. O governo nunca convocou ninguém, por que convocaria agora?".

A recessão, a inflação de 22% no primeiro semestre - uma das mais altas do mundo - e a pobreza que atinge 32% da população pesaram mais que a rejeição a Kirchner e as denúncia de corrupção contra ela. Para o analista político Carlos Fara, o resultado deixou comprovado "que o governo perdeu o apoio de setores cruciais da sociedade". "A votação mostrou uma insatisfação profunda com a situação econômica, a angústia na sociedade, que sentiu que o governo tinha se desconectado da realidade e não esteve à altura para enfrentar os problemas", opinou à AFP.

Devido à crise econômica, o governo de Macri pactuou um programa de ajuste com o Fundo Monetário Internacional em troca de um empréstimo de 56 bilhões de dólares. O governo atravessa "sua pior crise política", avaliou o analista Sergio Berensztein. "O eleitoral passou para o terceiro plano. A reação dos mercados foi contundente. Hoje, todos os argentinos estão mais pobres", sinalizou.

Fernández foi chefe de gabinete do já falecido ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007) e depois de Cristina durante 2008, seu primeiro ano de governo. Rompeu com ela e tornou-se um crítico feroz, até a reconciliação que, dez anos depois, lhes uniu na chapa presidencial.


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