Partido neonazista Aurora Dourada é declarado "organização criminosa" pela Justiça grega

Partido neonazista Aurora Dourada é declarado "organização criminosa" pela Justiça grega

Mais de 15 mil pessoas reunidas assistiram ao julgamento do fundador do grupo, Nikos Michaloliakos, e outros 16 réus

AFP

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O partido neonazista Aurora Dourada foi declarado nesta quarta-feira uma "organização criminosa", e seus líderes podem ser condenados a penas severas. A sentença de um dos julgamentos mais importantes na história política da Grécia foi recebida com aplausos na sala de audiência e comemorada pelas 15 mil pessoas reunidas diante do Palácio de Justiça. A juíza Maria Lepenioti, presidiu do processo que durou mais de cinco anos, declarou que o fundador e líder da agremiação, Nikos Michaloliakos, e outros membros importantes são culpados de "comandar uma organização criminosa".

Entre os condenados, estão o eurodeputado independente Yiannis Lagos, que abandonou o partido no ano passado, o ex-porta-voz Ilias Kassidiaris e vários integrantes da direção do partido, eleitos para o Parlamento em 2012 durante o auge do Aurora Dourada. Nenhum deles estava presente no tribunal. A corte não anunciou as penas, mas Michaloliakos e os outros condenados podem receber sentenças de entre cinco e 15 anos de prisão.

Horas antes do veredicto, milhares de pessoas, convocadas pelo movimento antifascista, sindicatos e os partidos de esquerda se reuniram diante do tribunal, no centro de Atenas, sob o lemas "Não são inocentes" e "O povo quer os nazistas na prisão". A polícia mobilizou um grande dispositivo de segurança. Também foram registrados confrontos.

O tribunal penal de Atenas também declarou Yorgos Roupakias, membro do Aurora Dourada, culpado pelo assassinato do rapper antifascista Pavlos Fyssas, em 2013. O ativista de esquerda foi assassinado com uma arma branca em 18 de setembro de 2013, aos 34 anos, diante de um café no bairro de Keratsini, subúrbio da zona oeste de Atenas. O assassino, que admitiu o crime, pode ser condenado a uma pena de prisão perpétua.

"Pavlos, você venceu!", gritou a mãe do rapper, Magda, diante do tribunal, após o veredicto. O impacto provocado pelo assassinato do militante, em uma Grécia então em plena crise financeira, levou as autoridades a deter e processar os líderes e integrantes do partido, responsável por muitos atos violentos contra migrantes e ativistas de esquerda.

Além do assassinato de Fyssas, o tribunal também examinou duas tentativas de homicídio que envolveram diversos membros do Aurora Dourada: uma, contra pescadores egípcios em 12 de junho de 2012; e outra, contra integrantes do sindicato comunista PAME em 12 de setembro de 2013. No total, 68 pessoas foram julgadas, incluindo 20 ex-deputados e dirigentes do partido, entre eles Michaloliakos.

Em dezembro de 2019, a procuradora Adamantia Economou exigiu a absolvição por considerar que não havia sido comprovada a existência de uma "organização criminosa". A alegação gerou críticas de juristas e de grande parte da sociedade grega.

Julgamento "histórico"

Aurora Dourada é um partido nanico criado nos anos 1990 por Michaloliakos, de 62 anos, um negacionista e admirador do nacional-socialismo. O declínio sociopolítico após a crise financeira de 2010 beneficiou o Aurora Dourada, cujos representantes foram eleitos para o Parlamento grego pela primeira vez em 2012.

Na época, grupos de homens vestidos com roupas pretas percorriam as ruas de Atenas e agrediam os críticos da formação, inclusive com barras de ferro, aos gritos de "Sangue, honra, Aurora Dourada". Considerado "histórico", o julgamento levou, progressivamente, à decadência do partido, cuja direção atual renega a ideologia nazista. Nas eleições legislativas de julho de 2019, o Aurora Dourada não conseguiu uma única cadeira no Parlamento.

Chryssa Papadopoulou, advogada da família de Pavlos Fyssas, afirmou, antes do veredicto, que a decisão do tribunal seria um "passo-chave para a justiça e para o movimento antifascista" na Grécia e na Europa. "O impacto do veredicto deste julgamento emblemático vai superar amplamente as fronteiras da Grécia e significará que os crimes de ódio não são tolerados", avaliou o diretor para Europa da Anistia Internacional, Niels Muiznieks.

 

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