Referendo da Crimeia neste domingo causa tensão

Referendo da Crimeia neste domingo causa tensão

Resultado da votação deve ser favorável à anexação à Rússia,

Correio do Povo

Funcionários preparam cabine de votação na véspera do referendo na Criméia

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A Crimeia vai às urnas neste domingo em um referendo para decidir se deixa a Ucrânia e passa a integrar a Rússia. Mas o que está em jogo é muito mais do que o destino da região e seus 2 milhões de habitantes. Os acontecimentos na península do Mar Negro vêm sendo acompanhados com tensão e como decisivos para o futuro da Europa.

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Com a “reunificação” da Crimeia com a Rússia — o mais provável resultado da votação deste domingo — 60 anos depois de ter sido presenteada à Ucrânia pelo então líder soviético Nikita Kruschev, há o risco de reação em cadeia. Outras cidades do Leste ucraniano, de maioria russa, podem seguir o exemplo da Crimeia, um movimento temido pela Ucrânia e pelo Ocidente, que ameaça a Rússia com sanções por incentivar o separatismo no país vizinho.

Para o alemão Volker Weichesel, analista da revista política Osteuropa (Leste da Europa), o perigo de uma guerra no continente nunca foi tão grande desde a desintegração da União Soviética. “Eu descarto a possibilidade de a Otan (aliança militar do Ocidente) entrar em conflito, mas para a Ucrânia só seria possível retomar o controle da Crimeia com força militar. Eu espero que isso não aconteça, mas o perigo de um conflito militar, mesmo que no plano regional, é enorme”, diz Weichesel.

Em Donetsk, uma das mais importantes cidades industriais do Leste ucraniano, onde um manifestante de 22 anos morreu na semana passada nos confrontos entre forças pró-Ucrânia e pró-Rússia, a rivalidade é grande. Aqueles que simpatizam com a causa russa aguardam o desfecho da crise na Crimeia para planejar ações semelhantes.

Em Kharkiv, perto da fronteira com a Rússia, políticos foram presos depois de admitirem a possibilidade de um referendo semelhante para a separação da Ucrânia. Manifestantes pró-Rússia também ocuparam as ruas de Odessa, uma importante cidade no Sudeste da Ucrânia. “Em Kharkiv, todos nós falamos o idioma russo e temos mais identidade cultural com a Rússia do que com a Ucrânia”, disse o advogado Nikolai Charkovenko.

Contrário à separação da Crimeia da Ucrânia, ele vê o conflito como resultado do jogo de interesses do Ocidente e da Rússia. Segundo Charkovenko, a Suíça é o melhor exemplo de como é possível as diferentes regiões de um país terem idiomas diferentes e assim mesmo haver a convivência pacífica dentro das mesmas fronteiras nacionais.

Analistas veem, porém, o perigo de reação em cadeia depois do referendo, como alerta Anatoli Rachak, do Instituto de Ciências Políticas de Kiev: “O perigo de divisão da Ucrânia entre Leste e Oeste nunca foi tão grande”. No meio da disputa estão os tártaros (grupo étnico turco), uma minoria muçulmana de 300 mil pessoas. Ali Khamzin, deputado no Parlamento regional de Simferopol, a capital da Crimeia, considera uma unificação da península com a Rússia a possibilidade mais temida pelos tártaros. “No passado, éramos a maioria na Crimeia. Fomos perseguidos, banidos (durante a Segunda Guerra) e só pudemos voltar à região depois do fim da União Soviética. O que queremos é a possibilidade viver como povo livre em uma regime democrático”, afirma.

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