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Resposta do Hamas ao plano de paz de Trump significa o fim da guerra em Gaza?

Plano exige o desarmamento do Hamas, uma medida que o grupo condiciona ao fim da ocupação israelense

Guerra na Faixa de Gaza teve reviravoltas nesta sexta
Guerra na Faixa de Gaza teve reviravoltas nesta sexta Foto : Eyad Baba / AFP)

A guerra na Faixa de Gaza teve reviravoltas nesta sexta-feira. Após o Hamas aceitar partes da proposta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para encerrar o conflito, Trump comemorou a resposta e ordenou que Israel interrompesse os ataques. Em seguida, o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, afirmou estar pronto para implementar a primeira parte do plano. No entanto, especialistas alertam que a aceitação parcial não sinaliza o fim imediato da guerra.

A declaração do Hamas sobre a devolução de todos os reféns e a disposição para a transição do governo em Gaza ainda deixou pontos cruciais em aberto.

Aceitação parcial: ganho de tempo e tática política

Vitelio Brustolin, professor de Relações Internacionais da UFF e pesquisador de Harvard, explica que a disposição de entregar a administração a um corpo tecnocrático e a libertação dos reféns podem abrir caminho para um cessar-fogo temporário, mas não resolvem as demandas centrais.

"O Hamas diz que quer negociar o controle final, a retirada de tropas, o reconhecimento político da Palestina. Ou seja, muda condições táticas e humanitárias a curto prazo, mas não garante uma solução política duradoura", afirma Brustolin.

Karina Calandrin, professora no Ibmec e pesquisadora de pós-doutorado na USP, reforça que a aceitação parcial do Hamas é uma forma de reposicionar sua influência política. "A possibilidade de ceder poder político em Gaza pode ser uma forma de manter influência indireta, ao invés de arriscar perder relevância num cenário de reconstrução conduzido por outros atores", destaca.

Brustolin concorda: "É melhor abrir espaço a um governo de transição do que perder completamente a legitimidade ou ser destruído militarmente. Não é uma renúncia total ao poder que o Hamas faz, mas uma forma de ganhar tempo e manter a relevância sem carregar o peso do colapso civil."

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Obstáculos centrais da proposta de trump

A proposta de 20 pontos de Trump sugere que Gaza ficaria sob a "governança transitória temporária de um comitê palestino tecnocrata e apolítico", supervisionado por um novo órgão internacional liderado por Trump, o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair e outros chefes de Estado.

Contudo, o plano exige o desarmamento do Hamas, uma medida que o grupo condiciona ao fim da ocupação israelense. Brustolin detalha que o plano "não resolve questões centrais, como fronteiras, o status de Jerusalém, [o] direito de retorno. Portanto, não é uma paz definitiva. É um primeiro passo." Ele acrescenta que "mesmo que o Hamas entregue a administração formal, as suas estruturas militares podem permanecer e reagir se sentirem traídos em algum momento."

Os principais desafios se dividem em:

  • Os práticos: cessar-fogo imediato, troca de reféns e prisioneiros, e entrada em grande escala de ajuda humanitária e início da reconstrução.
  • Os mais difíceis: desarmamento do Hamas, garantias de longo prazo, aceitação política interna em Israel e o reconhecimento da Palestina.

Para Calandrin, a probabilidade de o plano avançar de forma integral é baixa, pois depende da aceitação total não só do Hamas, mas também de Israel. "O que pode dar errado é justamente a falta de garantias concretas: quem garantiria segurança, reconstrução e governança em Gaza?", questiona a professora.

Ela conclui que, a partir de agora, a proposta tende a ser usada como instrumento político para que tanto o Hamas quanto Trump projetem liderança nas negociações.