Suprema Corte do México debate mudança na eleição popular de juízes

Suprema Corte do México debate mudança na eleição popular de juízes

Choque entre os poderes ameaça desencadear uma crise institucional

AFP
Presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, advertiu que as votações previstas para 2025 e 2027 não têm volta

Presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, advertiu que as votações previstas para 2025 e 2027 não têm volta

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A Suprema Corte do México pretende invalidar parcialmente a eleição popular de juízes, aprovada pelo Congresso e defendida pelo governo para combater a corrupção, mas que, segundo seus críticos, afetará a independência dos magistrados e os deixará à mercê do crime organizado.

Este inédito choque entre os poderes ameaça desencadear uma crise institucional, já que a presidente mexicana, a esquerdista Claudia Sheinbaum, advertiu que as votações previstas para 2025 e 2027 não têm volta.

Oito dos 11 integrantes da Corte são contrários à reforma que transformou o México no primeiro país a eleger todos os seus juízes nas urnas. Uma revogação por parte da Suprema Corte não terá efeito, pois o Congresso retirou a autoridade do mais alto tribunal mexicano para revisar emendas constitucionais.

O governo Sheinbaum, que tomou posse em 1º de outubro, acusa o Poder Judiciário de servir à elite conservadora, enquanto a oposição afirm separação de poderes.O embate ultrapassa fronteiras. Estados Unidos e Canadá, parceiros do México no acordo comercial T-MEC, alertam que a eleição popular minará a independência dos juízes e os deixará à mercê do crime organizado.

"Oito ministros (da Corte) não podem estar acima do povo", afirmou Sheinbaum antes do debate desta terça-feira (5) no tribunal, em referência a oito dos 11 magistrados que são contrários à reforma constitucional.A presidente declarou que tribunal superior não tem o poder de anular as mudanças da Constituição aprovadas pelo Congresso, que tem ampla maioria governista.

"Quem está violando a Constituição é a Corte", afirmou Sheinbaum nesta terça-feira em sua habitual coletiva de imprensa."Estamos preparados para qualquer uma das decisões", insistiu.

Os oito juízes contrários à reforma renunciaram na semana passada, como estabeleceu a emenda para aqueles que se recusam a participar das eleições. As saídas, porém, serão efetivas apenas em agosto de 2025.

A controvérsia ocorre ainda em um momento de incerteza em relação às eleições presidenciais nos Estados Unidos, o principal parceiro econômico do México.

Nada a negociar

Os membros da Suprema Corte votam um projeto do ministro Juan Luis González que modifica, parcialmente, a reforma.

O texto propõe a manutenção da eleição popular dos membros do Supremo, mas não a dos juízes dos tribunais inferiores, porque, afirma, a carreira no Judiciário garante a independência dos tribunais.

"Não existe um regime democrático sem que haja uma divisão de poderes efetiva", alerta a proposta, que preserva a eleição do principal tribunal como um ato de "autocontenção" para resolver a disputa.

Contudo, Sheinbaum insistiu na segunda-feira que "não se pode negociar o que o povo decidiu (...) e o que já é parte da Constituição".

O rascunho da sentença, que responde às impugnações apresentadas pelos partidos de oposição, também alerta sobre as dificuldades para que os cidadãos possam exercer um voto informado.

A reforma foi promovida pelo ex-presidente Andrés Manuel López Obrador, após a Suprema Corte ter derrubado reformas como uma que autorizava a participação militar na segurança cidadã e outra que reforçava o papel do Estado no setor elétrico.

López Obrador e Sheinbaum consideram que o Poder Judiciário está afundado na corrupção e em uma impunidade quase total.

Mas os críticos da reforma alegam que a situação não será solucionada apenas com a mudança dos juízes, e sim melhorando as capacidades de investigação do Ministérios Públicos

.Antecipando uma decisão desfavorável, o Congresso modificou na semana passada um artigo constitucional para impedir que a Suprema Corte possa revisar as mudanças na Carta Magna.

Um choque institucional "não seria uma boa notícia para a economia, mas o impacto da reforma já foi precificado pelos mercados financeiros mexicanos", disse à AFP Kimberley Sperrfechter, economista da empresa britânica Capital Economics.


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