Autores do atentado em bar queriam o máximo de vítimas na zona Sul de Porto Alegre

Autores do atentado em bar queriam o máximo de vítimas na zona Sul de Porto Alegre

Conclusão da Polícia Civil descarta alvo específico no ataque que deixou três mortos e 24 feridos no bairro Campo Novo

Correio do Povo

Dois autores do crime foram presos nesta sexta-feira durante operação

publicidade

O máximo de vítimas era o objetivo dos autores do atentado que deixou três mortos e 24 feridos no final da noite de 4 de setembro passado em um bar no bairro Campo Novo, na zona Sul de Porto Alegre. A conclusão é do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que deflagrou a operação Campo Novo em conjunto com a Brigada Militar na manhã desta sexta-feira para capturar os responsáveis pelo ataque, que pertencem à facção criminosa do Vale do Rio dos Sinos. A ação policial ocorreu no condomínio residencial popular da avenida Princesa Isabel, conhecido como Carandiru, entre os bairros Azenha e Santana.

“A intenção deles era sim atingir o maior número de pessoas que estavam no bar”, confirmou o encarregado do caso e titular da 4ª Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (4ªDPHPP), delegado Rodrigo Pohlmann Garcia, na entrevista coletiva à imprensa realizada no Palácio da Polícia. Ele descartou assim que a existência de algum alvo específico dos quatro atiradores fortemente armados, que chegaram no local em dois veículos e tiveram a cobertura de um quinto indivíduo.

Três dos envolvidos já foram identificados, sendo que dois deles foram presos nesta sexta-feira na operação. “Um deles nos chamou bastante a atenção pela forma, agressividade e violência que disparava nas pessoas. Ele estava com uma arma longa e fazia disparos em um determinado grupo. Depois se movimentava e buscava um outro espaço onde pudesse acertar outras pessoas”, observou o delegado Rodrigo Pohlmann Garcia. Cerca de 80 pessoas estavam na festa de aniversário de um ano do bar na noite em que aconteceu o atentado. Houve pânico e correria em meio aos tiros. Muitos foram baleados nas costas.

“Há relatos de que a forma em que os veículos se posicionaram no momento da chegada desse indivíduos foi uma forma de reter essas pessoas em um ambiente que diminuísse a movimentação delas. Tudo nos leva crer que a intenção deles era atingir o maior número de pessoas”, enfatizou o titular da 4ª DPHPP. Durante o ataque, três dos frequentadores do bar rechaçaram os atiradores também com disparos de armas de fogo, pondo-os em fuga. Os policiais civis apuraram que o trio que fez o revide faz parte da facção nascida na vila Cruzeiro do Sul, no bairro Santa Tereza, e que atua no bairro Campo Novo.

A investigação terá prosseguimento para identificar os outros dois participantes do atentado, sendo um outro atirador e o indivíduo que dava cobertura. “Com o recolhimento dos telefones e dos próximos passos que serão dados, iremos indiciar também os mandantes. Um fato como esse não pode ter sido realizado sem que houvesse a determinação de alguém”, frisou o titular da 4ª DPHPP.

CONFLITO

Já a diretora do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegada Vanessa Pitrez, destacou que a Capital não registra nenhum caso há alguns dias. “Estamos observando um decréscimo no número de homicídios a partir das inúmeras ações que foram feitas pelas forças de segurança”, avaliou. “Temos diagnosticado o cenário, visto quem são as organizações envolvidas, quais são as áreas envolvidas e traçando as nossas estratégias em cima desse mapeamento e monitoramento”, ressaltou.

“Cada um nas suas atribuições. A Brigada Militar fazendo saturação de área e o policiamento ostensivo, nos auxiliando no setor de inteligência, na produção da prova e troca de informações. A Polícia Civil fazendo as investigações e prisões importantes”, destacou. “A nossa preocupação no inquérito policial é coletar o maior número de provas contundentes acerca da participação dos indivíduos que estamos prendendo para que eles permaneçam presos e sejam condenados”, emendou.

“Nossas ações continuam e já vemos os resultados”, resumiu a diretora do DHPP, citando ainda a importâncias das transferências de lideranças que estão no sistema prisional visando “arrefecer e diminuir o número de homicídios”. Sobre a operação deflagrada na manhã desta sexta-feira, a delegada Vanessa Pitrez considerou que “foi uma resposta das forças de segurança à altura da gravidade dos fatos” e que “não irão tolerar esses tipos de atentados e mortes”, além de que "todos os homicídios serão apurados e autores serão presos".

FACÇÕES

Por sua vez, o diretor da Divisão de Homicídios de Porto Alegre, delegado Eibert Moreira Neto, explicou que os conflitos entre as facções acontecem desde o início deste ano. “Em março e abril tivemos um aumento dos homicídios e rapidamente revertemos a situação”, recordou. “No mês de julho tivemos um fato que resultou na nova onda de violência, que permeou agosto e setembro”, lembrou, revelando que foi a perda de liderança da facção do Vale do Rio dos Sinos em uma área de narcotráfico na vila Cruzeiro do Sul.

“A facção atuante no Vale do Rio dos Sinos subiu o tom da agressividade nos ataques, passando a adotar medidas extremas”, constatou, dando como exemplo os casos de decapitação na vila Cruzeiro do Sul, sendo um no dia 24 de agosto e outro no dia 25 de setembro.

No caso da cabeça arremessada em via pública no dia 24 de agosto, a equipe da 6ª DPHPP, sob comando do delegado Newton Martins, prendeu temporariamente um suspeito de envolvimento na execução da vítima nessa quinta-feira. Trata-se do terceiro indivíduo recolhido ao sistema prisional com participação no crime.

O delegado Eibert Moreira Neto revelou também que estão sendo investigados seis indivíduos responsáveis pelo atentado no bairro Campo Novo. Dois dos suspeitos coordenam o tráfico de drogas no condomínio residencial na avenida Princesa Isabel. Neste contexto, o titular da 4ª DPHPP, delegado Rodrigo Pohlmann Garcia, confirmou ainda que a granada encontrada na via pública, em frente ao conjunto habitacional, horas depois do ataque na zona Sul, direcionou parte do trabalho investigativo ao Carandiru. “Foi um dos indicativos”, admitiu.

BRIGADA MILITAR

Responsável pelo Comando de Policiamento da Capital (CPC) da Brigada Militar, o coronel Luciano Moritz adiantou que a saturação de área e reforço de policiamento ostensivo em regiões conflagradas da cidade, fazem parte de uma estratégia. “Vamos continuar sim em todas as áreas que estiveram apontando um cenário de instabilidade”, assegurou. Ele destacou também a integração com a Polícia Civil no combate à criminalidade e que é preciso “mostrar a força do Estado e deixar muito claro que a resposta sempre será forte”.

A atuação da BM na operação contou com efetivos do 1º Batalhão de Polícia de Choque (1º BPChq) e Batalhão de Operações Especiais (Bope). Cerca de 200 policiais civis e militares cumpriram 19 mandados de busca e apreensão e outros três mandados de prisão preventiva, tendo apoio de helicóptero, cães farejadores e unidades especiais de ambas as instituições.

Foto: PC / Divulgação / CP


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895