Polícia

AVTSM detalha denúncia que pede responsabilização da União na tragédia da Boate Kiss

Expectativa da associação é que, com a condenação do Brasil por violação de direitos humanos no caso, entes públicos possam ser responsabilizados pela tragédia

Advogada que representa vítimas do caso Kiss detalhou documento encaminhado em janeiro para Comissão Interamericana de Direitos Humanos
Advogada que representa vítimas do caso Kiss detalhou documento encaminhado em janeiro para Comissão Interamericana de Direitos Humanos Foto : Fabiano do Amaral

Dois dias depois da tragédia da Boate Kiss completar 12 anos, a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) apresentou detalhes de uma denúncia feita à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão da Organização dos Estados Americanos (OEA). A petição foi feita inicialmente em 2017 e, em setembro de 2024, a CIDH aprovou a admissibilidade para estudar o mérito do caso.

O presidente da AVTSM, Flávio Silva, pai de Andrielle Righi da Silva, que morreu na tragédia aos 22 anos, reforçou o pedido para que a “injustiça acabe”. Ele também criticou o afrouxamento da Lei Kiss, que trata te prevenção contra incêndios. “Se hoje estamos aqui é porque violências graves aconteceram. Eu tenho vergonha de morar no Brasil, um país tão desprovido de justiça. Os políticos criaram uma lei e eles mesmo acabaram com ela. Então prova que o que menos importa para eles é a vida das pessoas. Está na hora de um basta nisso”, ressaltou.

Na semana que marcou os 12 anos da tragédia, a advogada e representantes das vítimas, Tâmara Soares, tornou públicas partes da denúncia de violação de direitos humanos encaminhadas ao órgão internacional. Desde que a denúncia foi admitida, em setembro de 2024, teve início a etapa de estudo do mérito do caso e abertura de prazo para encaminhamento de memoriais, que foram apresentados pelas entidades no início deste mês.

“Hoje estamos na etapa do mérito do caso, quando efetivamente a CIDH vai decidir se houve ou não a violação de direitos humanos e responsabilidade da União pelo incêndio”, contou. Segundo ela, a entidade enviou para a comissão um documento com 168 páginas no dia 10 de janeiro, alegando que foram violados o direito à vida, à integridade pessoal, de acesso à justiça e devido processo legal. O documento aponta ainda que três entidades violaram direitos humanos no caso Kiss. No documento, a AVTSM também demanda por mudanças legislativas.

“Eles não fiscalizaram a Boate Kiss, que nunca funcionou um dia sequer de forma regular. É de responsabilidade da União, seja no âmbito municipal, estadual ou federal, fiscalizar e fechar estabelecimentos com irregularidades. Mas o fato de que estamos a penalização destes agentes públicos não exime a culpa dos quatro réus condenados”, reforçou a advogada.

Tâmara Soares conta ainda que a entidade espera que a CIDH defina sanções em nível individual e institucional. “A União que será chamada para cumprir as medidas que a comissão determinar. Ela mesma já tem departamentos que estudam e executam as recomendações de órgãos internacionais. A nossa é que o Brasil seja condenado e que a União determine para seus órgãos internos a processarem, julgar e condenar os responsáveis”, completou.

Senge-RS alerta para precarização da Lei Kiss

A coletiva de detalhamento da denúncia foi realizada na sede do Sindicato dos Engenheiros do Rio Grande do Sul (Senge-RS). O presidente da entidade, Cezar Henrique Ferreira, salientou que os profissionais atuam atentos à qualidade de vida e trabalham para o bem comum das pessoas. Além disso, ele citou que, desde 2016, vem alertando sobre a precarização da Lei Kiss.

“O país é pródigo em leis, mas o Estado não tem capacidade de aplicar essas leis. Defender a participação ampla e irrestrita de profissionais legalmente habilitados em todas as etapas que envolvem a segurança contra incêndios no RS, além de ser uma batalha cotidiana do Senge-RS em defesa da categoria, é uma maneira de dar conforto às vítimas da tragédia de Santa Maria”, finalizou.