Bernardo era órfão de pai vivo, define psicóloga em julgamento de Leandro Boldrini

Bernardo era órfão de pai vivo, define psicóloga em julgamento de Leandro Boldrini

Ariane Schmitt relatou ainda que recebeu o garoto dopado em algumas sessões de terapia

Christian Bueller

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O terceiro dia de julgamento de Leandro Boldrini, médico acusado de participar da morte do próprio filho, Bernardo Boldrini, começou nesta quarta-feira pela manhã com o depoimento da psicóloga Ariane Schmitt. Durante a fala dela, Leandro não esteve presente no plenário. O testemunho de Ariane trouxe novas revelações sobre como era o convívio do menino com o pai. Em deteterminado momento, ela disse que Benardo era "órfão de pai vivo".  "Órfão é a palavra mais feia do dicionário. Bernardo era órfão, também, de pai vivo", lamentou. 

Conforme Ariane, ela começou a ter sessões com Bernardo logo após o falecimento da mãe, Odilaine Uglione. "Bernardo tinha um luto mal resolvido da mãe, era recente. Ele estava com problemas de aprendizagem, estava disperso. Fizemos algumas sessões antes da tragédia", disse a psicóloga aposentada, que acrescentou estar no júri "como cidadã".

A psicóloga chegou a notar que Bernardo, por vezes, comparecia às sessões em um estado incomum para uma criança. "Ele compareceu a algumas sessões dopado, com dificuldade para falar. Febril também". Sobre um vídeo apresentado no júri ainda nessa segunda-feira, ela comentou sobre as "60 gotinhas" que o pai sugere dar ao filho durante a gravação. "Coca-Cola que não é", diz a profissional.

Percebia-se a falta de interesse da família. Falei com os dois (Leandro e Graciele), os alertei sobre os problemas. No primeiro atendimento, o Bernardo veio três ou quatro vezes.  Na segunda vez, foram outras três sessões. Aí, o menino já vinha sozinho. Ninguém nem o trazia".

Amor pelo pai 

Apesar do descaso e da distância, Ariane Schmitt falou que Bernardo amava o pai. "O quarto de Bernardo era triste, azul marinho, escuro. Chocante a diferença entre um profissional estudado e reconhecido e um pai omisso. Se fosse um ignorante, poderíamos entender. O menino queria ser médico, que nem Boldrini. Amava o pai", resumiu. 

De acordo com a psicóloga, Bernardo, enquanto clamava por atenção, também lutava para se alimentar. "Perguntado, uma vez, sobre que personagem ele seria, me respondia que não era nenhum, porque ninguém lhe contava histórias. Ele amava animais, queria ter um aquário. Mas mal comia, tinha que mendigar por merenda. Acaba nem se preocupando com a higiene pessoal e boas roupas", explicou. 


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