Cinco pessoas são indiciadas pelo assassinato do Tenente Vermelho em Porto Alegre

Cinco pessoas são indiciadas pelo assassinato do Tenente Vermelho em Porto Alegre

Crime com motivação financeira ocorreu na madrugada de 10 de dezembro de 2021 na residência da vítima

Correio do Povo

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O assassinato do capitão reformado José Wilson da Silva, 89 anos, o Tenente Vermelho, que atuou no movimento da Legalidade e na resistência ao Golpe de 64, foi esclarecido pelo Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil. O crime com motivação financeira ocorreu na madrugada do dia 10 de dezembro de 2021 na residência da vítima, situada na rua Paissandu, no bairro Partenon, em Porto Alegre.

O inquérito foi concluído pela 1ª Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (1ª DPHPP), sob comando da delegada Isadora Galian. Houve o indiciamento de cinco pessoas pelo crime e uma sexta por receptação por estar com o telefone celular do idoso. Dois dos envolvidos, um homem de 30 anos e uma mulher de 39 anos, já se encontravam presos preventivamente e outros dois suspeitos, de 31 e 33 anos, estão foragidos. O pedido de prisão preventiva para a mandante do assassinato, a companheira e ex-cuidadora, foi indeferido pela Justiça.

“Três ingressaram na casa com o intuito inicial de roubar a residência, tudo previamente acordado com a companheira e ex-cuidadora da vítima”, revelou a diretora do DHPP, delegada Vanessa Pitrez, em uma entrevista coletiva na manhã desta quinta-feira na Capital. Após acordar no momento da invasão da casa, a vítima foi verificar o que estava ocorrendo, munida de um facão, sendo baleada fatalmente no peito.

“Tivemos muitas provas colhidas, provas bastante robustas”, destacou a delegada Vanessa Pitrez, acrescentando que a investigação precisou estabelecer um vínculo entre os executores e a mandante. “Foi algo bastante complexo”, resumiu a diretora do DHPP.

“O inquérito foi extremamente volumoso”, observou o diretor da Divisão de Homicídios da Capital, delegado Eibert Moreira Neto. “A motivação do crime ficou muito clara”, acrescentou.

Já a titular da 1ª DPHPP disse que a cena do crime já chamava a atenção por ser “atípica”, pois “os criminosos entraram na residência sem qualquer dificuldade e já tinham as chaves da residência”. A delegada Isadora Galian afirmou ainda que a equipe policial “desconfiava da reação da companheira e ex-cuidadora nesse homicídio doloso”.

Os três executores foram contratados pela mandante para roubar cerca de R$ 100 mil em dinheiro e cheques da vítima e que estavam em um cofre a ser arrombado. “Eles possuíam informações privilegiadas e chaves de três portas”, frisou. “Eles entraram por uma porta lateral e foram em direção ao quarto em que a vítima dormia a fim de rendê-la, separar os pertences e posteriormente executá-la”, contou.

“Ao chegar no quarto, eles não encontraram a vítima, pois ela estava dormindo no quarto dos fundos. Eles retornaram e se depararam com a vítima na área externa, já que havia se acordado com o barulho. Um dos executores disparou quase à queima-roupa”, relatou a delegada Isadora Galian. “Os criminosos não tiveram tempo hábil para recolher os pertences, inclusive os valores”, salientou.

“Essa quadrilha é especializada em roubo de residências. Fizeram inúmeros roubos em Porto Alegre”, destacou a titular da 1ª DPHPP. “Eram extremamente especializados”, avaliou. A mulher presa era a manicure da companheira e ex-cuidadora da vítima e foi a intermediadora com os executores. Ao longo do trabalho investigativo, os agentes analisaram interceptações telefônicas e descobriram até pesquisas na internet sobre como receber pensão por morte, principal motivo para que o Tenente Vermelho fosse morto. O roubo seria assim a recompensa dos executores.

O Tenente Vermelho foi um dos homens mais próximos de Leonel Brizola. Eleito vereador pelo PTB em 1963 na Capital, José Wilson da Silva perdeu os direitos políticos com o golpe de 1964 e foi para o exílio no Uruguai. Ele foi um dos fundadores da Associação de Defesa e Pró-Anistia dos Atingidos pelos Atos Institucionais. Em 1987 lançou o livro “O Tenente Vermelho”, além de ter publicado outras obras.


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