Corpo de senegalês assassinado em Porto Alegre segue para sua terra natal

Corpo de senegalês assassinado em Porto Alegre segue para sua terra natal

Babacar Niang foi morto a tiros enquanto trabalhava como motorista de aplicativo

Correio do Povo

Comunidade senegalesa fez cortejo fúnebre pelas ruas de Porto Alegre

publicidade

O corpo do senegalês Babacar Niang, 35 anos, foi embarcado na noite desta sexta-feira para a viagem de volta a sua terra natal. O imigrante veio para o Brasil para uma vida melhor, há cinco anos, mas foi assassinado enquanto trabalhava como motorista de aplicativo. Antes disso, durante a tarde, uma carreata marcou a despedida de Babacar. Um cortejo fúnebre, formado por compatriotas e colegas, partiu da funerária no bairro Medianeira em direção ao Aeroporto Salgado Filho. No caminho, uma parada na unidade da empresa Uber, na avenida Carlos Gomes, onde motoristas reivindicaram mais segurança à classe.

Por volta das 14h, 15 senegaleses consternados esperavam em frente a Funerária São Pedro. Motoristas de aplicativo chegavam a todo instante para participar. Em muitos carros, a inscrição “luto”. O irmão da vítima, Ibra Niang, já havia embarcado para a República do Senegal, onde encontraria a família em Watef. O único familiar presente ao cortejo era o primo Babar Ndiaye, 28 anos, que também é motorista de aplicativo e foi quem incentivou Babacar a trabalhar atrás do volante. “Era muito meu amigo”, disse, desolado.

O diretor da Funerária São Pedro, Günter Kannenberg, afirmou que o caixão foi devidamente lacrado por uma urna de zinco e dentro de uma outra caixa de transporte internacional para que pudesse ser levado no compartimento de carga da aeronave. A rota do avião é Porto Alegre-Lisboa-Dakar, com cerca de 28 horas de viagem, de onde seguirá a partir da tarde deste sábado por via terrestre até a cidade destino. Os custos do traslado e viagem ficaram em mais de R$ 19,7 mil, sendo que o dinheiro foi arrecadado pela comunidade senegalesa em todo o país.

Dezenas de veículos participaram do cortejo. O vice-presidente da Associação Liga dos Motoristas de Aplicativos (Alma-RS), Ricardo Schutz, lamentou o latrocínio. “A pessoa vem de outro país em busca de uma vida melhor e acontece uma desgraça dessas. É um crime de cunho internacional”. O buzinaço dos carros que participavam do cortejo se confundiam com as dos motoristas que se comoviam com a manifestação ou se juntavam à carreata.

Na chegada à unidade da empresa Uber, o momento de maior exasperação. Motoristas gritavam “mais segurança, chega dos motoristas morrerem”, antes mesmo de entrarem no prédio. Lá dentro, mais brados de protesto. “E, se acontecesse com um familiar de vocês”, se manifestou um motorista para os atendentes. Balões pretos foram deixados no balcão. Uma colagem com as bandeiras do Brasil e de Senegal foi afixada na parede onde fica o logo da empresa, no hall de entrada. Após a rápida manifestação, o fim do cortejo seria no aeroporto, onde o restante dos balões inflados no início da tarde fossem jogados ao céu, para onde o corpo de Babacar Niang voaria, já sem vida e seus sonhos, para sua terra natal.

A 19ª DP investiga a morte de Babacar Niang ocorrida no domingo passado durante assalto na estrada Antônio Borges, bairro Belém Velho, na zona Sul de Porto Alegre. O delegado Daniel de Oliveira Ordahi apura se dois ou três criminosos estão envolvidos no roubo do Renault Logan conduzido pela vítima. Na fuga, o veículo acabou ficando atolado, sendo então abandonado. Um Volkswagen Gol foi roubado na sequência.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895