Em segundo dia de ofensiva, Polícia Civil e BM elevam prejuízo de facção após morte de detento na Pecan

Em segundo dia de ofensiva, Polícia Civil e BM elevam prejuízo de facção após morte de detento na Pecan

Operação Magnus Oris resultou em oito suspeitos detidos e no desmonte de um esquema de lavagem de dinheiro

Marcel Horowitz
Da esquerda p/direita: delegados Rafael Pereira e Mario Souza, tenente-coronel Alexsandro Goi e delegado Edimar Machado

Da esquerda p/direita: delegados Rafael Pereira e Mario Souza, tenente-coronel Alexsandro Goi e delegado Edimar Machado

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A facção responsabilizada pela morte de um detento na Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan) 3 continua na mira da Polícia Civil e Brigada Militar. Nesta quarta-feira, o grupo foi alvo de ofensiva pelo segundo dia consecutivo, agora com a execução de 40 ordens judiciais em Alvorada, Viamão, Porto Alegre, Cachoeirinha, Gravataí, São Leopoldo e no município catarinense de Forquilhinha. Oito pessoas foram detidas e um esquema de lavagem de dinheiro do tráfico foi desarticulado.

Intitulada Operação Magnus Oris, a ação foi desdobramento de investigações da Delegacia de Homicídios de Alvorada, sob o comando do delegado Edimar Machado. Ao lado do 24º BPM, os agentes focaram em enfraquecer um núcleo da facção nos bairros Aparecida e Stela Maris.

Ali, buscas ocorreram em mercados onde a quadrilha ocultava o lucro do tráfico de drogas. Quase R$ 50 mil foram confiscados em apenas um dos estabelecimentos. Também houve a apreensão de seis pistolas de uso restrito e de um simulacro de arma.

Sete pessoas foram presas, sendo cinco homens e duas mulheres. Além deles, um adolescente de 16 anos foi apreendido. Eles seriam liderados por um traficante conhecido como Bocão, que está foragido.

O comandante do 24º BPM, tenente-coronel Alexsandro Goi, explicou que ações de combate a homicídios também resultam na diminuição de outros crimes. Isso porque, além de assassinatos, os integrantes da mesma quadrilha ainda estão envolvidos em roubos, furtos e demais tipos de delitos.

"O nosso principal objetivo é a preservação da vida e do direito de ir e vir dos cidadãos de bem. Além disso, ações contra homicídios ainda geram a redução de outros indicadores criminais. Um exemplo é a redução histórica dos roubos a pedestre e a estabelecimentos comerciais em Alvorada neste ano”, destacou o oficial, que também responde pelo Comando Regional de Policiamento Ostensivo Delta do Jacuí (CRPO/DJ).

Protocolo contra homicídios

Conforme o diretor do Departamento de Homicídios (DHPP), delegado Mario Souza, o protocolo de enfrentamento a homicídios da Polícia Civil foi instaurado contra a quadrilha após o crime dentro da Pecan. A estratégia tem como base a teoria da dissuasão focada, que visa influenciar criminosos para que não cometam delitos contra a vida, combinando a aplicação da lei com medidas como a asfixia financeira de facções e transferência de presos.

“O assassinato no presídio não ocorreu apenas por causa de uma ou duas pessoas, foi o resultado do planejamento de uma organização criminosa. Também vale destacar que o homem apontado como atirador é natural de Alvorada e que não descartamos a relação dele com outros suspeitos. Independente de haver ou não uma ligação direta entre eles, todos são integrantes do mesmo grupo criminoso, que agora irá sofrer o máximo possível de danos com a aplicação do protocolo contra homicídios”, enfatizou o Mario Souza.

O diretor do DHPP na Região Metropolitana, delegado Rafael Pereira, reforçou que Alvorada, município considerado o sexto mais violenta do país em 2017, conseguiu registrar o menor número de homicídios da história após a aplicação do protocolo. De acordo com ele, o método não exclui o caso de vítimas que também possam ser criminosas.

"Alvorada já chegou a ter 220 mortes violentas, mas agora vamos terminar o ano com menos de 50 casos. É um bom resultado, mas não nos contentamos com isso. Não vamos tolerar nenhum assassinato”, enfatizou Rafael Pereira.

O idealizador da metodologia que enseja o protocolo contra homicídios foi o criminologista norte-americano David Kennedy. Professor da Universidade de Nova York, ele foi o responsável por aplicar a teoria nos Estados Unidos, tendo como principal exemplo Boston, onde houve redução brusca de mortes nos anos 1990.

Como foi a execução na Pecan 3

Um presidiário de alcunha Nego Jackson foi morto a tiros dentro da Pecan 3, no final de novembro. Ele teria sido emboscado por outros dois detentos enquanto ocorria uma conferência, que é checagem de presos, na ala de triagem.

A conferência ocorre separadamente, uma cela por vez. A porta é aberta, quem está recolhido vai ao corredor da galeria e, após averiguação, volta para dentro do recinto. Na Pecan, os policiais penais coordenam o processo de um piso superior, vigiando detentos por um chão gradeado.

De acordo com a investigação, Jackson estava na cela de número 8. Logo a frente, na cela de número 7, que fica do outro lado do corredor, havia Sapo e um jovem de 21 anos.

Após passar por conferência e antes de voltar para a cela, Sapo teria ido até a porta de Jackson para chamá-lo. Ele supostamente alegava querer apaziguar divergências.

Jackson teria ficado próximo à entrada da cela, onde conversaria através de uma portinhola aberta. Foi então que surgiu um terceiro detento, o colega de cela de Sapo, armado.

O jovem teria inserido a arma através da portinhola. Foram efetuados 12 disparos. Uma pistola calibre 9 milímetros foi apreendida. Não é descartado que a arma tenha sido enviada por um drone.

A suspeita é que Sapo teria chamado o rival na intenção de atraí-lo à porta da cela. Isso porque, quando o atirador chegou, Jackson estava próximo da portinhola aberta, sendo um alvo fácil. O plano seria atrair e distrair a vítima, para que o atirador não errasse os tiros.

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