Polícia

Família pede prisão de PM condenado por estuprar e matar sobrinho em Porto Alegre. Defesa nega fuga

Jeverson Olmiro Lopes Goulart foi condenado a 46 anos de prisão

Jeverson Olmiro Lopes Goulart, de 60 anos, tem paradeiro incerto
Jeverson Olmiro Lopes Goulart, de 60 anos, tem paradeiro incerto Foto : TJRS / CP

É desconhecido o paradeiro do tenente aposentado da Brigada Militar, Jeverson Olmiro Lopes Goulart, de 60 anos, condenado por matar, estuprar e forjar o suicídio do sobrinho, Andrei Goulart, de 12 anos, em Porto Alegre, em 2016. Ele foi visto pela última vez no Rio de Janeiro, onde depôs por vídeo ao júri popular que o condenou a 46 anos de prisão em regime inicial fechado, na semana passada. A defesa nega que o PM tenha fugido.

De acordo com o Tribunal de Justiça (TJRS), o réu estava em seu apartamento, em Copacabana, durante a sessão. Ele mora na capital fluminense há mais de uma década e teve permissão de prestar depoimento ali, após alegar que estaria sob o risco de ameaças caso viesse ao Rio Grande do Sul. Nega ter cometido os crimes.

Para os promotores Lúcia Helena Callegari e Eugênio Paes Amorim, à frente da acusação, o condenado fugiu. Conforme a dupla, uma ação conjunto com o Ministério Público do RJ (MPRJ) havia sido planejada para ocorrer na última terça-feira, logo após a leitura da sentença, mas a ofensiva policial contra o Comando Vermelho, que deixou 121 mortos nos complexos da Penha e do Alemão, adiou os planos para o dia seguinte. Na quarta-feira, quando o mandado de prisão seria cumprido, o alvo já havia deixado o local.

Eugênio Amorim disse não ter ficado surpreso com desfecho. Na visão do promotor, o réu deveria ter sido ouvido na sede do Poder Judiciário carioca, onde não poderia escapar.

"Se ele tivesse acompanhado o júri dentro do Foro do Rio de Janeiro, estaria preso. Mas, Infelizmente, recebeu autorização para ficar em casa. Contatamos uma promotora do MPRJ para ficar de campana durante o júri. Esse réu teve sorte porque a megaoperação deixou a polícia em polvorosa e o mandado de prisão não pôde ser cumprido na data planejada. Ele aproveitou esse tempo para fugir. E isso já era esperado. Não quis vir ao RS para evitar ser preso em plenário”, disse Amorim.

Cátia Goulart, que é mãe de Andréi e irmã de Jeverson, teme pela integridade de sua família. Ela explicou que o militar tem experiência em permanecer oculto e que a liberdade dele representa perigo aos outros.

"Antes do crime, não sabíamos o risco que corríamos com meu irmão. Agora, temos certeza do perigo que ele oferece. Tenho medo pelos meus outros dois filhos. Meu irmão atuou na inteligência da BM e, além disso, sabe como se esconder e têm muitos contatos. Essa fuga foi como um tapa em nossa cara”, lamentou a mãe.

Nos últimos dias, Cátia tem se dedicado a alertar o máximo de pessoas sobre o ocorrido, espalhando fotos do irmão em redes sociais e veículos de mídia. Ela garante não descansar até o cumprimento da sentença.

"O Andrei é a razão da minha vida. Vou continuar lutando até que o assassino seja preso. Sei que isso não vai trazer meu filho de volta. O que eu realmente gostaria é que o Andrei estivesse aqui comigo e que nada disso tivesse acontecido. Entretanto, só me resta buscar por justiça e honrar o nome dele”, ressaltou Cátia Goulart.

Defesa nega fuga

O advogado Edson Perlin, que atua na defesa do PM, nega ter conhecimento de qualquer tipo de fuga. Destacou não ter notícias de seu cliente desde o júri, avaliando que ele estava convicto da absolvição e que, em caso oposto, não havia dado sinais que fugiria.

"Estávamos muito confiantes na absolvição. Tínhamos provas robustas para inocentá-lo. Mesmo assim, em nenhum momento ele deu indicativos que fugiria caso fosse condenado. Sempre esteve apto a cooperar. Por isso, não acho que tenha fugido”, avaliou o advogado.

Perlin acrescentou que o cliente não consta como foragido. Por fim, disse não ter sido notificado sobre diligências no imóvel dele.

"Não o vejo como foragido. Até agora, nenhum documento que indique isso foi anexado ao processo. Também não houve notificação sobre cumprimento de mandado na residência dele. Creio que os policiais do Rio ainda estão bastante ocupados com a megaoperação e não tiveram tempo de fazer outras diligências. Se eles o procurarem, acredito que vão encontrar”, ponderou Edson Perlin.

Relembre o julgamento

O júri foi composto por quatro mulheres e três homens, e ocorreu no segundo andar do Foro Central I. A sessão foi presidida pela juíza Anna Alice da Rosa Schuh, da 1ª Vara do Júri da Comarca da Capital. Os trabalhos duraram dois dias.

A morte de Andrei ocorreu em novembro de 2016. À época, chegou a ser registrada como suicídio, mas recebeu nova análise do Ministério Público (MPRS), que reabriu o caso em 2020. O órgão sustenta que o tio teria cometido o crime para esconder supostos abusos sexuais que praticava contra o sobrinho, que foi encontrado morto com um disparo na cabeça no apartamento da família, na zona Sul.

Para os promotores Lúcia Helena Callegari e Eugênio Paes Amorim a cena do crime foi manipulada para simular suicídio e, assim, dificultar a responsabilização do réu. Ele respondeu em liberdade.

O advogado de defesa, Edson Perlin, afirma ter convicção na inocência do cliente. "Não houve crime. O que ocorreu foi uma tragédia. A pistola de onde partiu o disparo estava com defeito. Então, foi tiro acidental ou suicídio. O menino passava por depressão. Ele deixou um bilhete de despedida, que teve autenticidade comprovada na perícia. Além disso, meu cliente não tem qualquer registro criminal. Sua carreira na BM é exemplar. De forma injusta, a vida dele virou um inferno nos últimos anos. Também estou aqui em respeito à Polícia Civil e ao Instituto-Geral de Perícias (IGP) do RS, que são referência no país e que não constataram vestígios de crime. Afirmar qualquer coisa diferente disso é jogar no lixo um trabalho sério, feito por peritos e delegados.”

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