Polícia

"Não houve crime", diz defesa de PM da reserva acusado de estuprar e matar sobrinho em Porto Alegre

Réu por morte de Andrei Ronaldo Goulart Gonçalves, de 12 anos, é julgado em tribunal de júri

Réu participa por vídeo chamada em júri no Foro de Porto Alegre
Réu participa por vídeo chamada em júri no Foro de Porto Alegre Foto : Marcel Horowitz / Especial CP

Começou por volta das 11h desta segunda-feira o júri do acusado de estuprar e matar Andrei Ronaldo Goulart Gonçalves, de 12 anos, no dia 30 de novembro de 2016, em Porto Alegre. O réu é Jeverson Olmiro Lopes Goulart, tenente aposentado da Brigada Militar, que tem 60 anos e nega ter cometido os crimes. Ele é tio do menino.

O júri é composto por quatro mulheres e três homens, e ocorre no segundo andar do Foro Central I. A sessão é presidida pela juíza Anna Alice da Rosa Schuh, da 1ª Vara do Júri da Comarca da Capital. Os trabalhos devem se estender até terça-feira.

A ocorrência chegou a ser registrada como suicídio em 2016, mas recebeu nova análise do Ministério Público (MPRS), que reabriu o caso em 2020. O órgão sustenta que o tio teria cometido o crime para esconder supostos abusos sexuais que praticava contra o sobrinho, que foi encontrado morto com um disparo na cabeça no apartamento da família, na zona Sul.

Para os promotores Lúcia Helena Callegari e Eugênio Paes Amorim, à frente da acusação, a cena do crime foi manipulada para simular suicídio e, assim, dificultar a responsabilização do réu. Ele responde em liberdade.

De acordo com a dupla, foram ouvidas 20 testemunhas na retomada do caso. "Iniciei a investigação ouvindo pessoas e buscando provas. E a verdade foi revelada. Houve a denúncia e agora o júri", disse Lúcia Helena Callegari.

O réu mora no Rio de Janeiro. Ele participa do julgamento por chamada de vídeo. O advogado Edson Perlin, que atua na defesa dele, afirma ter convicção na inocência do cliente.

"Não houve crime. O que ocorreu foi uma tragédia. A pistola de onde partiu o disparo estava com defeito. Então, foi tiro acidental ou suicídio. O menino passava por depressão. Ele deixou um bilhete de despedida, que teve autenticidade comprovada na perícia. Além disso, meu cliente não tem qualquer registro criminal. Sua carreira na BM é exemplar. De forma injusta, a vida dele virou um inferno nos últimos anos. Também estou aqui em respeito à Polícia Civil e ao Instituto-Geral de Perícias (IGP) do RS, que são referência no país e que não constataram vestígios de crime. Afirmar qualquer coisa diferente disso é jogar no lixo um trabalho sério, feito por peritos e delegados”, afirmou Edson Perlin, que não arrolou testemunhas.

Foram convocadas cinco testemunhas de acusação. Destas, a única a depor no turno da manhã foi Cátia Goulart, que é mãe do menino e irmã do réu. Ela disse que, na data do ocorrido, foi a uma festa e deixou o tio sozinho com a criança. Também afirmou que o réu fez esforços para não atrair atenção ao ocorrido.

"Após a morte do Andrei, ele [réu] quis manter discrição. Falou que não era para chamarmos a imprensa, sob a justificativa de respeito à memória do Andrei. Também disse que se tratava de um suicídio e que os jornais não noticiam mortes assim. Por isso, ficamos quietos”, declarou a mãe, que também participou de um ato por justiça ao filho, antes da sessão.

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