Homicídios, sequestros e tráfico: como agia a facção alvo de ofensiva com 380 policiais em São Borja

Homicídios, sequestros e tráfico: como agia a facção alvo de ofensiva com 380 policiais em São Borja

Operação na quinta-feira teve como alvo organização criminosa liderada por irmãos na fronteira Oeste

Marcel Horowitz

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As forças de Segurança ainda buscam pistas sobre o paradeiro de Bruno Alexandre Moreira Silva, de 25 anos, raptado por falsos policiais no último domingo, em São Borja. A suspeita é que os responsáveis pelo sequestro sejam membros da organização criminosa que, nessa semana, foi alvo da ofensiva que contou com 380 integrantes da Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal e Brigada Militar. O título da ofensiva - Operação Soft Power - significa "poder moderado", explicitando que as diligências foram uma primeira demonstração de ações contra a facção, através de operações integradas. 

As investigações apontam que Bruno teria vínculos com uma facção criada no bairro Bom Jesus, na zona Leste de Porto Alegre, rival do grupo da fronteira Oeste. Ele foi sequestrado de maneira semelhante a Jason Machado da Silva, de 28 anos, que teve a residência invadida por criminosos que se passavam por policiais, no dia 27 de setembro. Jason seria usuário de drogas e, possivelmente, tinha dívidas com o tráfico. 

Segundo a Polícia Civil, sequestros são apenas uma das táticas implementadas pela facção que, além de São Borja, também atua em Uruguaiana e Itaqui, para manter o controle do tráfico na fronteira Oeste. Ainda de acordo com a corporação, o grupo é uma ramificação de uma organização criminosa maior, essa com base no Vale do Sinos. 

Durante as diligências, na quinta-feira, 12 suspeitos foram presos, sendo seis em flagrante e o restante, preventivamente. A ação também resultou na apreensão de quatro veículos, utilizados para realizar 'teleentrega' de drogas, outra das fontes de financiamento da organização criminosa, que também explora jogos de azar e casas de prostituição, somadas a extorsões de comerciantes.

Nova guerra do tráfico em São Borja

As investigações apontam um escalada da violência em São Borja a partir de setembro, com a chegada de mais traficantes da facção originada na zona Leste da Capital. Um trio vinculado ao grupo foi preso, no dia 28 de setembro, pela morte de Leonardo de Oliveira Garcia, executado dois dias antes com mais de 40 tiros. 

Segundo a Polícia Civil, o motivo do crime são os laços que a vítima de 29 anos mantinha com traficantes locais. Também conforme a corporação, o grupo de São Borja promoveu os dois sequestros mencionados e um incêndio criminoso em represália ao homicídio.

Esse é o segundo conflito de grandes proporções entre bandos na fronteira Oeste, apontam as apurações policiais. Em meados de 2015, uma guerra entre os dois grupos deixou ao menos 30 mortos e resultou na migração de traficantes para o grupo vinculado à facção com base no Vale do Sinos. 

As forças de Segurança não descartam que a emergência de um novo confronto esteja sendo fomentada pela tentativa da facção com berço na Capital em retomar os pontos de tráfico.  


Facção liderada por dois irmãos

De acordo com a apuração do Correio do Povo, os traficantes na fronteira Oeste são comandados pelo detento Marcos Martins Antunes. Conhecido também como 'MK' e 'Marquinhos, ele tem condenações por homicídio que acumulam mais de 48 anos de prisão. O criminoso chegou ser transferido para o Sistema Penitenciário Federal, em 2019, mas retornou ao Rio Grande do Sul, em 2022, onde cumpre pena na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). 

Outro líder da facção em São Borja seria Bruno Martins Antunes, irmão de MK. Um dos alvos da Operação Soft Power, ele está foragido e, até o momento desta publicação, ainda não havia sido capturado. 

Ainda de acordo com a reportagem, o grupo criminoso comandado pelos irmãos se denomina de Primeiro Comando do Interior (PCI). A organização criminosa rivaliza com traficantes ligados à facção da zona Leste da Capital pelo controle do tráfico de armas e drogas, na fronteira com a Argentina. 


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