Julgamento de neonazistas deve terminar na quarta-feira

Julgamento de neonazistas deve terminar na quarta-feira

Grupo de 14 skinheads atacou três jovens, em 2005, na Cidade Baixa

Correio do Povo

Três neonazistas estão sendo submetidos a júri popular

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O julgamento dos primeiros réus do caso do ataque há 13 anos de um grupo de 14 skinheads contra três jovens judeus deve encerrar somente na quarta-feira no plenário da 2º vara do Juri do Foro Central, em Porto Alegre. Três neonazistas estão sendo submetidos a júri popular desde o início da manhã desta terça-feira. A previsão é de 14 horas de debate entre defesa e acusação após acordo entre acusação e defesa que ampliaram o tempo. Material de conteúdo neonazista foi exibido na sessão. Outros três réus serão levados ao tribunal no dia 22 de novembro e os demais a partir de março do próximo ano.

O ataque contra os jovens judeus ocorreu em 8 de maio de 2005 no bairro Cidade Baixa. Os skinheads estava no interior de um bar, situado na esquina das ruas Lima e Silva com a Rua da República. Eles avistaram então as vítimas no lado de fora e partiram para as agressões, sendo que os jovens foram espancados e atingidos por golpes de facas e canivetes.

Os três réus que estão sendo julgados agora permaneciam em liberdade e foram denunciados pelo Ministério Público por tentativa de homicídio qualificado por motivo torpe em razão do anti-semitismo e racismo já que as vítimas eram judeus; por uso de recurso que dificultou a defesa das vítimas; e pela prática de meio cruel pois efetuaram diversos golpes de faca e violentos socos e pontapés.

A tese de associação criminosa defendida pelo MP, porém, não prosperou dentro do Tribunal de Justiça. Em nome do MP, o Promotor de Justiça Luciano Vaccaro manifestou expectativa da condenação dos neonazistas pelo “crime hediondo, cruel e gravíssimo que envolve discriminação racial contra o povo judeu”.

A sessão é presidida pela juíza Cristiane Busatto Zardo, que considerou complexo o processo que tem mais de 16 volumes. “É um júri historicamente importante. Esse processo já demorou 13 anos e temos a necessidade de dar uma resposta, seja qual for ela, o quanto antes”, observou. “Esse julgamento envolve questões muito internas das pessoas de posicionamento. Muito mais do que o exame das provas, vai ser a questão de como os jurados enfrentam isso em termos morais e históricos. É um julgamento que envolve questões discutidas desde o término da Segunda Guerra Mundial. Será um julgamento digamos moral”, resumiu, referindo-se ao nazismo.

Por coincidência, o julgamento começou no Yom Kipur, uma das datas mais sagradas e celebradas pela comunidade judaica. “Perdão e justiça são muitos parecidos em determinados momentos. É mais um sinal de que é possível que se faça justiça depois de tantos anos”, afirmou o presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul, Zalmir Chwartzmann, que esteve presente no início da sessão.

“Agrediram três meninos cujo único crime era estar com o quipá”, recordou, referindo-se aos pequenos chapéus usados por judeus. Os 13 anos de andamento do caso chamaram a atenção dele. “Como o sistema judiciário demora tanto tempo para chegar até esse momento? Essa é discussão que se deve colocar no momento: demorar tanto tempo está se fazendo justiça?”, questionou.

O presidente da FIRS lamentou também que a intolerância existente no Rio Grande do Sul, inclusive em Porto Alegre. “Toda a semana temos manifestações nazistas e antissemitas”, assegurou. Zalmir Chwartzmann entende que “o discurso e agressão do ódio não têm nenhum sentido”.

Na opinião dele, o julgamento é importante não só para a comunidade judaica mas para toda sociedade que “precisa combater o ódio e o discurso de ódio dos radicais”. Ele declarou também que acredita na justiça. “Estas pessoas não podem sair impunes”, concluiu.

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