Megaoperação prende 58 pessoas e encontra dinheiro de facção do Vale do Sinos em urso de pelúcia
Polícia Civil mirou rede de lavagem de dinheiro da organização e apreendeu cerca de R$ 50 milhões em bens e valores
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A megaoperação desencadeada na manhã desta terça-feira pela Polícia Civil contra o coração financeiro da facção do Vale do Rio dos Sinos, já prendeu 58 suspeitos e teve como meta também a apreensão judicial de cerca de R$ 50 milhões em bens e valores da organização criminosa. A ação busca 102 veículos, duas aeronaves, 812 quebras de sigilo fiscal, bancário, tributário e bursátil, o bloqueio de 190 contas bancárias e o sequestro de 38 imóveis.
Em um dos locais das ordens judiciais, no bairro Azenha, em Porto Alegre, um urso de pelúcia gigante escondia aproximadamente R$ 41 mil em espécie. Em outros alvos, armas, drogas, valores, telefones celulares e veículos foram recolhidos.
Houve o cumprimento de 1.368 ordens judiciais por 1.302 agentes públicos, incluindo 273 mandados de busca e apreensão e 66 mandados de prisão em 28 cidades no Rio Grande do Sul, Santa Catarina. Paraná e Mato Grosso do Sul. A ação ocorreu ainda em 13 casas prisionais gaúchas e uma penitenciária federal.
“Isso representa uma derrota da lavagem de dinheiro. O crime organizado gaúcho sofreu um golpe muito forte. É o maior golpe econômico”, enfatizou o diretor da 2ª Delegacia de Polícia Regional Metropolitana (2ª DPRM), delegado Mario Souza. Ele destacou a perda do patrimônio por parte da facção.
“Agimos em toda a estrutura da organização. A coluna vertebral econômica foi quebrada”, assinalou. “A operação Kraken rompe paradigmas no que se tinha até o momento no combate ao crime organizado e à lavagem de dinheiro. Os reflexos desse trabalho certamente serão verificados por vários anos e as técnicas utilizadas servirão de base para trabalhos futuros”, disse o delegado Mario Souza. “Foi um trabalho de repressão qualificada realizado para quebrar as finanças do crime organizado”, ressaltou.
“Com certeza vai ter desdobramento”, adiantou o titular da 1ª DP de Sapucaia do Sul, delegado Gabriel Borges, referindo-se aos próximos passos da megaoperação. “O resultado do trabalho de um ano e meio fala por si só. Esse é um grande golpe que o crime organizado sofreu no que tange à descapitalização e sufocamento financeiro”, frisou.
“A operação buscou a asfixia financeira do crime organizado por meio da descapitalização dessa organização criminosa. Nosso objetivo principal foi atingir o ativo financeiro e alcançar as lideranças maiores”, afirmou o delegado Gabriel Borges. Ele lembrou que a facção atua também em todo o tipo de crime patrimonial, como roubo, furto, extorsão e sequestro, além de tráfico de drogas e armas.
A ação, apontada como a maior do gênero na história da Polícia Civil, contou com a participação da Brigada Militar, Superintendência dos Serviços Penitenciários, Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul, Polícia Rodoviária Federal e Departamento Penitenciário Nacional, além da Polícia Civil de SC, PRF e MS.
INVESTIGAÇÃO
A investigação começou no final do ano de 2020, quando a equipe da 1ª DP de Sapucaia do Sul sequestrou judicialmente em torno de R$ 10 milhões em bens móveis, imóveis e valores em contas bancárias da facção. Concentrados nos crimes de lavagem e ocultação de bens e valores oriundos do tráfico de entorpecentes, os policiais civis identificaram cinco lideranças do grupo criminoso.
Os agentes mapearam então o organograma da organização, a base de atuação dela, os ramos de condutas delituosas praticadas e a logística dos membros. Ao longo de 2021, os agentes da 1ª DP de Sapucaia do Sul prenderam 102 integrantes da organização criminosa, que atuavam em diversos níveis de comando. No período, mais de dez quilos de entorpecentes e 11 armas de fogo.
Um total de 207 criminosos foram investigados. Eles atuavam nas mais diversas camadas de hierarquia do grupo, com funções definidas e facilmente substituídos em caso de prisão. O trabalho investigativo indicou que a atuação da facção era do tipo empresarial e buscava o máximo lucro. Havia um código interno, uma rede de apoio e uma espécie de banco financeiro.
Conforme os policiais civis uma ampla e complexa lavagem de bens e valores oriundos dos feitos de tráfico de entorpecentes, comércio ilegal de armas de fogo, comércio ilegal de pedras preciosas, crimes patrimoniais (roubo, furto, extorsão, estelionato), crimes contra a fé pública (falsificação de documentos, falsidade ideológica, adulteração de sinal identificador de veículo automotor), comércio ilegal de camisetas e símbolos de órgãos e instituições públicas entre outras infrações penais.
Segundo os agentes, a lavagem de dinheiro é altamente sofisticada, com a aquisição de imóveis e automóveis de luxo na Capital, Região Metropolitana e Litoral do RS e SC, além de aquisições de empresas para conversão de valores, como empresas do ramo imobiliário, automotivo e de metais preciosos.
Em relação ao tráfico de armas de fogo, a facção obtém armamentos de todos os tipos de calibres, inclusive metralhadoras de calibre 50, armamento capaz de derrubar aeronaves. Já o narcotráfico é o principal gerador de lucros do grupo, controlando a entrada da maior parte de drogas no RS por rota terrestre ou via aérea. Pilotos de aviões traziam diariamente dezenas de quilos de drogas do exterior.
As lideranças se encontram recolhidas em penitenciárias gaúchas e em penitenciária federal, mas permanecem coordenando a facção. Havia até um complexo esquema de remessa de telefones celulares para o interior das casas prisionais, com auxílios de drones, visando fornecer comunicação às lideranças.
A apuração policial resultou na confirmação de o grupo criminoso possui ligação com organizações criminosas com atuação em outros estados, como Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, bem como contatos com cartéis internacionais na Bolívia e na Colômbia.
No Rio Grande do Sul, a ação ocorreu em Canoas, Sapucaia do Sul, Porto Alegre, Esteio, Eldorado do Sul, Nova Santa Rita, Guaíba, Gravataí, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Alvorada, Sapiranga, Parobé, Campo Bom, Igrejinha, Três Coroas, Rio Grande, Caxias do Sul, Passo Fundo, Ijuí, Santa Cruz do Sul, Charqueadas, Arroio dos Ratos, Venâncio Aires, Montenegro, Lajeado, Vera Cruz, Candelária, Cruz Alta, Capão da Canoa,
Imbé, Xangri-Lá, Frederico Westphalen e São Gabriel. Em Santa Catarina, as ordens judiciais foram executadas em Balneário Camboriú e Tubarão. No Paraná, o alvo estava em Maringá, No Mato Grosso do Sul, os mandados ocorreram em Campo Grande e Ponta Porã.
Foto: PC/ Divulgação / CP