Morte de ex-chefe do tráfico na Vila Maria da Conceição não impactará crimes em Porto Alegre, diz Polícia

Morte de ex-chefe do tráfico na Vila Maria da Conceição não impactará crimes em Porto Alegre, diz Polícia

Paulão da Conceição morava em Estrela após perder controle de pontos de tráfico na zona Leste da Capital

Marcel Horowitz
Paulão da Conceição morreu aos 65 anos no  Instituto de Cardiologia, em Porto Alegre

Paulão da Conceição morreu aos 65 anos no Instituto de Cardiologia, em Porto Alegre

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Paulo Ricardo Santos da Silva, o Paulão da Conceição, morreu. O óbito por falência múltipla de órgãos foi por volta das 13h30min de domingo, no Instituto de Cardiologia, em Porto Alegre. Ele tinha 65 anos, idade tida como avançada para a média dos líderes de facção.

Paulão ficou conhecido como chefe do tráfico na Vila Maria da Conceição, no bairro Partenon, na zona Leste da Capital. Ali, ao longo de quase três décadas, ele teria controlado a venda ilegal de drogas. Foi deposto em 2012 por comparsas da própria quadrilha.

Nos últimos anos, Paulão morava em Estrela, no Vale do Taquari. Ele cumpria pena em regime domiciliar humanitário desde 2022 graças aos diversos problemas de saúde que enfrentava. A última internação dele antes de ser transferido para Porto Alegre foi no final de novembro, no Hospital de Estrela.

A análise da Polícia Civil é que a morte de Paulão não refletirá em disputas do tráfico. Contudo, a instituição permanece em alerta ao movimento das facções na zona Leste.

"Acreditamos que o fato não terá um impacto significativo nas ruas, porque ele perdeu o poder nos últimos anos. De todo o modo, vamos seguir atentos e monitorando a situação. Estamos prontos para coibir qualquer tipo de anormalidade”, pontuou o delegado Gabriel Borges, titular da 1º Delegacia de Homicídios (1º DHPP).

O efetivo da Brigada Militar também está a postos para agir caso necessário. A corporação reforça que o criminoso havia perdido influência.

"Não acredito que possa haver reflexo de violência. Até pela condição física fragilizada, ele já não exercia influência na comunidade”, destacou o comandante do 19º BPM, tenente-coronel Fabrício Rocha da Silveira.

Paulão ainda teria perdido força no sistema penitenciário. O relato de agentes da Polícia Penal dá conta que, apesar de ainda ser respeitado por criminosos mais antigos, ele deixara de ter influencia em galerias.

Em uma publicação nas redes sociais, a Academia de Samba Puro, que fica no coração da Vila Maria da Conceição, decretou luto de três dias. Já na zona Sul, rivais comemoraram com foguetes e rojões.

Quem era Paulão da Conceição

Paulão tinha antecedentes por tráfico, homicídio, porte ilegal de armas, entre outros delitos. Ele foi detido pela primeira vez no dia 27 de março de 1982, por posse de entorpecentes.

Em 1995, foi apontado como suspeito de uma tentativa de roubo a residência. Ele fugiu, também no mesmo ano, da Colônia Penal Agrícola. Até 1998, Paulão foi preso três vezes por porte ilegal de armas e uma por tentativa de homicídio do enteado, com quem travaria guerra anos depois.

Paulão foi condenado a 15 anos de reclusão por matar um desafeto dentro do Presídio Central. Após ter a prisão domiciliar autorizada em 2008, ele fugiu e, sendo capturado após dois anos, no Rio de Janeiro.

Desde 2017, Paulão cumpria pena de 28 anos de prisão por outro homicídio. Após idas e vindas da cadeia, sempre por complicações de saúde, Paulão foi mais uma vez autorizado a cumprir pena em domicílio, no final de 2022.

Entenda a derrocada de Paulão

Paulão teria assumido a liderança do tráfico na Vila Maria da Conceição em meados dos anos 1990. A partir de então, o comércio de drogas na localidade teria passado a movimentar até R$ 1,2 milhão por mês.

A hegemonia dele na região chegou ao fim em junho de 2012, após o assassinato a tiros de um aliado. O mandante do crime seria um homem de alcunha Beto Drey, enteado de Paulão, que exigia maior controle na gerência de pontos de tráfico.

O que se seguiu até o final daquele ano foi uma série de homicídios, fruto da disputa entre padrasto e enteado. O confronto gerou instabilidade na Vila Maria da Conceição, e também enfraqueceu a então liderança.

A troca de gerência do tráfico ocorreu no início de 2013, em uma manobra de três subordinados e com o apoio de uma facção da Vila Cruzeiro, na zona Sul. O posto que Paulão ocupava foi tomado por criminosos de vulgo Xu, Colete e Quadrado.

O triunvirato pretendia por fim aos assassinatos na Vila Maria da Conceição, mas não tardou para que outros conflitos eclodissem na recém-formada cúpula. Quadrado foi atingido por diversos disparos, em novembro de 2013, mas sobreviveu. Colete então passou a dominar a venda de drogas, mas foi executado dentro de casa em 2017.

Um dos artífices da execução seria Xu. Todavia, ele acabou isolado e teve que buscar refúgio junto a comparsas na zona Sul.

Tomada de controle por facção do bairro Bom Jesus

A queda de Paulão gerou quase 10 anos de instabilidades. O período chegou ao fim quando traficantes de outros pontos da zona Leste conseguiram expulsar as lideranças originárias da Vila Maria da Conceição e tomar de vez o controle da área.

Atualmente, o tráfico na Conceição é gerido por um grupo oriundo do bairro Bom Jesus. Por conveniência ou falta de alternativas, Paulão teria formado uma aliança com a nova ordem.

O veterano havia perdido espaço, mas mantinha o prestígio perante alguns moradores. Investigações da Polícia Civil apontam que o traficante chegou a receber mesada para exercer uma espécie de “diplomacia” na Vila Maria da Conceição. Ele também teria recebido uma pequena parte da venda de residências onde moravam supostos “traidores”, que foram expulsos como forma de evitar um possível retorno dos faccionados da zona Sul.

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