Oito pessoas foram presas nesta quinta-feira durante a Operação Falsa Fé, deflagrada em São Paulo. De acordo com a Polícia Civil, os suspeitos tem envolvimento com o chamado “golpe do falso pai de santo”. A ação foi conduzida pela 3ª Delegacia de Canoas, com apoio do Ministério da Justiça e Segurança Pública, somando 120 agentes gaúchos e paulistas.
As diligências ocorreram nas cidades de São Paulo, Itapevi, Cotia e Jacareí. Além dos presos, foram apreendidos um veículo e celulares. Também foi feito o bloqueio de contas bancárias dos investigados.
Segundo a delegada Luciane Bertoletti, titular da 3ª DP de Canoas, a apuração começou em 25 de maio, quando uma moradora da cidade viu nas redes sociais um anúncio de uma suposta “mãe de santo” que dizia ter o poder de “trazer o amor de volta” por meio de rituais espirituais. Abalada emocionalmente, ela entrou em contato com a suposta religiosa.
Logo na primeira conversa, a golpista afirmou que poderia resolver o problema amoroso mediante um ritual de “amarração”, no valor de R$ 300. A vítima realizou o pagamento via pix, mas, em seguida, a falsa mãe de santo alegou que seria necessário um “trabalho de dominação de coração”, exigindo mais R$ 750.
Quando a vítima tentou desistir, foi informada pela golpista que o cancelamento não seria possível porque os “nomes já estavam na mesa”. Também foi dito que as “entidades” poderiam puni-la caso interrompesse o processo. A partir daí, começou uma escalada de exigências e ameaças.
Em poucos dias, a falsa religiosa passou a pedir valores cada vez maiores, alegando que as “entidades espirituais” exigiam novos rituais, como “benzimentos”, “casamento de almas” e “afastamento de rivais”. A criminosa ainda garantia que todos os valores seriam devolvidos em poucas horas após cada ritual, o que não ocorreu.
Ainda conforme a delegada Luciane Bertoletti, no dia 30 de maio, outro personagem entrou em cena: um homem que se apresentou como “pai de santo” e que seria suposto chefe de um terreiro. Em tom autoritário, ele começou a intimidar a vítima, dizendo que ela estaria “enganando as entidades” e que sofreria consequências se não realizasse os pagamentos exigidos.
“Os criminosos se revezavam em mensagens e ligações, utilizando uma linguagem mística e ameaçadora. A vítima acabou cedendo às pressões e realizando sucessivas transferências via pix e TED para diferentes contas bancárias”, disse a titular da 3ª DP de Canoas.
Bertoletti acrescentou que, em determinado momento, o falso pai de santo chegou a inventar que precisava comprar um bode preto para concluir em um dos rituais, pedindo mais R$ 1,5 mil. Depois, afirmou que o dinheiro da vítima estava “bloqueado pelo banco” e que seria necessário pagar taxas adicionais de 4% e de 13,5% para a liberação dos valores.
A investigação apontou que os valores pagos pela vítima foram destinados a contas de diversas pessoas físicas, em diferentes instituições financeiras. O prejuízo total foi de R$ 180 mil.
Mesmo diante de sucessivos pagamentos e promessas não cumpridas, as ameaças continuaram. O golpista dizia que “as entidades estavam furiosas” e exigiam novos valores para “reforçar o trabalho espiritual”. Emocionalmente abalada e endividada, a vítima finalmente decidiu procurar a Polícia Civil, que agora investiga o caso como estelionato e extorsão.
O diretor da 2ª Delegacia de Polícia Regional Metropolitana de Canoas, delegado Cristiano de Castro Reschke, salienta que a Polícia Civil tem alertado sobre golpes cada vez mais sofisticados nas redes sociais. “Quando sentem que a vítima vai deixar de contribuir, passam a ameaçar e extorquir começando uma segunda fase ainda mais danosa em termos psíquicos e financeiros”, alertou.