Política

Câmara dos Deputados aprova marco temporal de demarcação das terras indígenas

Tema rendeu articulações do governo federal para adiar a votação, sem sucesso; foram 283 votos a favor, 155 contra e uma abstenção

Desfile militar convocado pelo presidente será cenário de fundo do Congresso durante votação da proposta
Desfile militar convocado pelo presidente será cenário de fundo do Congresso durante votação da proposta Foto : Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

A Câmara dos Deputados aprovou na noite desta terça-feira o projeto de lei do marco temporal de demarcação de terras indígenas (PL 490/07). Foram 283 votos a favor, 155 contra e uma abstenção. Os deputados analisam os destaques e, após a análise, o texto seguirá para o Senado. 

O assunto rendeu diversas articulações por parte do governo na intenção de adiar a votação, sem sucesso.  O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), justificou a aprovação do marco como uma sinalização ao STF de que a Casa trata o tema com “responsabilidade”, e defendeu ainda que os povos originários tenham possibilidade de explorar suas próprias terras . “Nós não temos nada contra povos originários, nem o Congresso tem e não pode ser acusado disso. Agora, nós estamos falando de 0,2% da população brasileira em cima de 14% da área do país. Só temos 20% da área agricultável e 66% de floresta nativa”, disse.

Marco temporal

O marco temporal cria a tese jurídica de que os povos indígenas têm direito de ocupar apenas as terras que ocupavam ou já disputavam na data de promulgação da Constituição, em 5 de outubro de 1988.

Parecer da Advocacia-Geral da União de 2009 trata do assunto e aponta a demarcação da reserva Raposa-Serra do Sol, em Roraima, um case de quando esse critério foi usado.

Em Santa Catarina, uma parte da Terra Indígena Ibirama-Laklãnõ também é usada como referência. O governo do estado requer parte da terra ocupada pelos indígenas Xokleng e disputada com o argumento de que essa área, de aproximadamente 80 mil m², não estava ocupada em 5 de outubro de 1988.

Os indígenas rejeitam todos esses argumentos. Os Xokleng, por exemplo, argumentam que a terra estava desocupada na ocasião porque eles tinham sido expulsos de lá.

A decisão sobre o caso de Santa Catarina está nas mãos do Supremo Tribunal Federal (STF) e determinará o entendimento sobre essa situação e a validade ou não do marco temporal das terras indígenas em todo o país. A decisão impactará mais de 80 casos semelhantes e mais de 300 processos de demarcação de terras indígenas que estão pendentes.

Entenda o marco temporal em quatro pontos:

Regime de urgência

O regime de urgência para o projeto do marco temporal foi aprovado pela Câmara na semana passada com 324 votos, bem acima dos 257 necessários. 

Pauta no STF

A votação sobre a urgência desagradou a parlamentares da Rede e do PSOL, PT, PCdoB e PV. A vontade das bancadas era segurar a deliberação do projeto até que houvesse a decisão do STF.

Julgamento na Corte

O julgamento no STF está marcado para 7 de junho, e o relator da ação, ministro Edson Fachin, votou contra a tese do marco temporal.

Pressão pela votação

Para evitar que a decisão do STF saísse antes da análise do projeto na Câmara, a bancada ruralista fez o movimento de acelerar a deliberação do tema, com apoio do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). O relator da proposta, deputado federal Arthur Oliveira Maia (União-BA), sustenta que há insegurança jurídica sobre o tema e defende que o marco seja aprovado.