Conselho criado para dar transparência ao Senado não se reúne desde 2017

Conselho criado para dar transparência ao Senado não se reúne desde 2017

Órgão foi instituído em 2013 com proposta de encontros a cada dois meses, mas se reuniu apenas 16 vezes até abril de 2023

R7

Proposta foi aprovada pelo Senado

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Criado com a função de debater e propor ações de transparência no Senado, o Conselho de Transparência e Prestação de Contas (CTPC) foi inaugurado em 2013 e se reuniu apenas 16 vezes nos últimos dez anos. A ausência do órgão compromete, entre outras coisas, a transparência sobre a distribuição de emendas parlamentares.

A proposta regimental era que o grupo fizesse reuniões a cada dois meses. Contudo, os integrantes se reuniram de forma oficial pouco mais de três vezes anualmente, entre 2013 e 2017, ano da última ata do órgão. 

Documento publicado no site do Senado mostra que um dos últimos encontros foi em 4 de julho de 2017. Estiveram reunidos, na sala de reuniões da Secretaria de Transparência, a presidente do conselho, a diretora da Secretaria de Transparência (STrans) Elga Mara Teixeira Lopes; Angela Silva Brandão, da Secretaria de Comunicação Social (Secom); Dinamar Cristina Pereira Rocha, da Secretaria de Gestão de Informação e Documentação (SGIDOC); Jesus Chediak, representante da Associação Brasileira de Imprensa (ABI); e Manoel Galdino, da ONG Transparência Brasil.

Órgão consultivo da presidência do Senado

O conselho foi instituído para ser um órgão consultivo da presidência do Senado e da Mesa Diretora, como consta no regimento do órgão. Deveria nortear a formulação da Política de Transparência e Controle Social sobre os atos da Casa.

Além disso, serviria para sugerir projetos e ações dentro desse tema e formular estudos e pareceres técnicos que seriam encaminhados ao presidente do Senado.

O comando do colegiado é exercido pelo responsável pela Diretoria da Secretaria da Transparência — atualmente, sob o comando de Elga Mara Teixeira Lopes. Ela é servidora concursada e recebe gratificação para ocupar o cargo de direção. Elga também já foi diretora da Secretaria de Comunicação Social e diretora da Secretaria de Pesquisa e Opinião Pública. 

A presidente do conselho não quis falar com a reportagem. O R7 apurou que o órgão não se reuniu nos últimos anos devido à falta de representantes da sociedade civil em quantidade suficiente para o funcionamento. No entanto, não foram tomadas providências para convocar substitutos.

Segundo a assessoria de imprensa do Senado, além da falta de quórum, o conselho também esteve inativo até então por causa do "contexto nacional com Covid e eleições".

"Necessário destacar que a Secretaria de Transparência do Senado Federal (STRANS), órgão permanente da Casa, composto de servidores estáveis do quadro efetivo e que está em plena atividade, é responsável por dar encaminhamento às resoluções do CTCS. Assim, mesmo na ausência de reuniões, a STRANS vem executando as diretrizes estabelecidas pelos conselheiros na criação do CTCS. Entre essas, destacam-se o Índice de Transparência dos portais Legislativos, o Plano de Dados Abertos do Senado Federal e novos portais de Transparência e de Dados Abertos", diz trecho da resposta da assessoria.

A organização não governamental (ONG) Transparência Brasil é um dos integrantes do conselho do Senado. Marina Atoji, diretora de programas da instituição, afirma que o não funcionamento do conselho torna o Senado "mais fechado" às demandas da sociedade.

"Compromete a implementação de boas práticas de transparência sobre o processo legislativo, os gastos da Casa e dos senadores e a distribuição de emendas. O grupo poderia, por exemplo, ter atuado na abertura de informações do chamado orçamento secreto", diz a especialista.

Orçamento secreto

Deputados e senadores utilizaram aproximadamente R$ 1,5 bilhão das emendas de relator do chamado orçamento secreto nos anos de 2020 e 2021. Esse valor corresponde a 12,6% do total de emendas de relator que o Congresso informou ter usado nos últimos dois anos, quase R$ 11,8 bilhões.

Em dezembro de 2022, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a inconstitucionalidade do orçamento secreto devido à falta de transparência nas regras do mecanismo para a aplicação e distribuição dos recursos.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, foi procurado para comentar o assunto, mas não respondeu à reportagem até a publicação da matéria. 

 


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