Declaração de senador que recebeu R$ 50 milhões de orçamento secreto repercute mal na bancada

Declaração de senador que recebeu R$ 50 milhões de orçamento secreto repercute mal na bancada

Marcos do Val afirmou em entrevista a um jornal que pôde indicar emendas como gratidão por ter apoiado a campanha de Pacheco

R7

publicidade

A declaração do senador Marcos do Val (Podemos-ES), de que recebeu R$ 50 milhões de emendas de relator (RP9), também conhecida como orçamento secreto, para apoiar a candidatura de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) à Presidência do Senado, no ano passado, repercutiu de forma negativa na bancada. 

O R7 conversou com alguns senadores que apontaram que a situação toda não é bem vista. Em um grupo de aplicativo de mensagens com os senadores do partido, do Val chegou a publicar a notícia e uma nota dizendo que foi mal interpretado, mas os colegas ficaram em silêncio.

Nas discussões sobre orçamento secreto, a bancada do Senado é sempre crítica. Em novembro do ano passado, quando o Senado votou o projeto de resolução que altera as regras das emendas de relator, senadores do Podemos discursaram se posicionando contra. 

A proposta obrigava a identificação dos autores das emendas, mas sem retroagir, o que não iria obrigar a identificação daqueles que já haviam destinado emendas. Na época, o líder do Podemos, Álvaro Dias (PR), defendeu, durante a sessão, a extinção das emendas, e afirmou que o projeto de resolução seria uma anistia aos atos praticados anteriormente, e que o texto iria garantir a "clandestinidade no repasse de recursos públicos".

Naquela votação, dos nove senadores da bancada, oito votaram contra a proposta, seguindo orientação da bancada. Marcos do Val não votou. Na eleição da Presidência da Casa, Marcos do Val também não seguiu orientação da bancada, que na época declarou apoio à senadora Simone Tebet (MDB-MS). Ele e o senador Romário (PL-RJ), que era do Podemos, apoiaram Pacheco. Na ocasião, houve um mal-estar na bancada.

Em entrevista publicada no jornal O Estado de S. Paulo, Marcos do Val afirmou que recebeu R$ 50 milhões do orçamento secreto por ter apoiado a campanha de Pacheco, como uma forma de "gratidão". Segundo do Val, a informação foi repassada a ele por Davi Alcolumbre (União-AP), que articulou a campanha de Pacheco. Ao jornal, Pacheco disse desconhecer o fato. Após repercussão, do Val divulgou uma nota dizendo que foi mal interpretado.

"Jamais houve qualquer tipo de negociação política para a eleição do presidente Rodrigo Pacheco, que envolvesse recursos orçamentários. Afirmo com toda certeza que jamais aconteceu. Fiz referência a existência de critérios no Senado para indicações transparentes de recursos por senadores, inclusive elogiando a postura do presidente Pacheco nesse sentido", afirmou.

O senador ressaltou que as indicações de emendas orçamentárias são prerrogativa parlamentar. "Totalmente lícita, transparente, um compromisso que assumi quando eleito para ajudar o meu estado e seus municípios. Reforço mais uma vez que todo o recurso orçamentário recebido foi destinado ao Espírito Santo e, por iniciativa própria, sempre foram informados na sua integralidade ao Ministério Público do ES. Peço desculpas por eventual mal entendido", disse.

Senadores da bancada estão evitando criticar o colega de forma contundente, mas manifestam o mal-estar que tem pairado. "É claro que não repercutiu bem. Somos contra as emendas de relator, mas o partido não pode obrigá-lo a não aceitar. Ele pode dizer em sua defesa que o dinheiro foi bem aplicado, para construir escolas, etc, e eu acredito nisso", disse um senador.

Outro parlamentar afirmou que o partido deve ter uma reunião com do Val, pois havia, segundo este senador, um entendimento de que a bancada não aceitaria recursos do orçamento secreto. "A coisa está tensa", resumiu o senador. Do Val já havia dito, entretanto, que recebeu os recursos, em comunicação oficial enviada a Pacheco para ser encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF). As informações repassadas por senadores e deputados foram enviadas à Corte por Pacheco em maio. 


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895