Manuela vai buscar "imediatamente" por PDT, PSol, PSB e os que não votaram

Manuela vai buscar "imediatamente" por PDT, PSol, PSB e os que não votaram

Resultado abaixo dos 30% aumenta desafios da candidata para o segundo turno da eleição na Capital

Flavia Bemfica

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Com a certeza de que enfrentará uma coalização robusta de centro-direita na disputa pelo comando de Porto Alegre e a constatação de uma votação com percentuais abaixo do que indicavam as pesquisas, Manuela D’Ávila (PCdoB) não desperdiçará tempo na busca por eleitores no segundo turno. Vai procurar imediatamente por Juliana Brizola e Fernanda Melchionna, pelo PDT, o PSB, o PSol, a Rede e o PV. E passará os próximos 15 dias indo atrás de eleitores que não votaram. “Queremos dialogar com o percentual de votantes das outras candidaturas com certeza. Mas vamos querer falar também com as pessoas que não saíram para votar. Existem duas grandes batalhas agora: aquela pelos votos dos candidatos que não estavam conosco no primeiro turno e aquela para encantar as pessoas que não votaram. Precisamos entender por que a maior escolha dos porto-alegrenses foi não votar neste domingo”, resumiu Manuela nesta noite, em coletiva de imprensa online após a totalização dos votos.

“Porto Alegre nos deu três recados: que quer ouvir mais as propostas dos dois candidatos, que quer mudar o caminho, e que não gostou do primeiro turno da eleição. Foram 45% que não votaram. Vamos lutar por este apoio”, repetiu. Seu staff está reunido nesta noite para alinhavar as ações dos próximos dias e enfrentar o que considera os dois principais desafios daqui para a frente.

O primeiro é fazer com que Manuela ‘fure’ a bolha dos 30% (percentual do eleitorado historicamente vinculado à esquerda na Capital), por meio da combinação dos apoios de partidos e da conquista dos não votantes que ela tanto destacou. Ela alçou vôo se mostrando aberta ao diálogo, com uma campanha leve e propositiva, e descolando do estereótipo ‘ativista de esquerda’. Mas não foi o suficiente. As roupas mais sóbrias, a ironia modulada, e as referências constantes à família ajudaram a consolidar uma nova imagem. E quando adversários tentaram revidar, dizendo que era tudo um produto de marketing, a resposta estava pronta: Manuela amadureceu. E, se fosse homem, ninguém tentaria colocar em debate as golas das camisas ou o corte do cabelo. Contudo, ainda estão faltando pontos.

O segundo desafio é justamente conseguir manter, se não intacto, com trincas só superficiais o escudo que, desta vez, impediu que colassem nela rótulos ou associações dos quais os adversários lançam mão campanha após campanha: comunista, socialista, esquerdista, estatista, marxista... para ficar nos mais leves e que não chegam a esfera pessoal. No primeiro turno, Manuela obteve vitórias importantes neste sentido. Os ataques e ilações geraram empatia de uma fatia do eleitorado, para além do viés ideológico. As tentativas de associá-la a esquemas de corrupção carregados pelo partido do vice, o PT, até aqui não surtiram efeito.

E, na semana que antecedeu o pleito, a ex-deputada conseguiu do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) determinação para a retirada de mais de meio milhão (529.075) de compartilhamentos de notícias falsas a ela relacionadas, publicadas no facebook, além da derrubada de publicações no instagram, youtube e twitter. A decisão ajudou a reforçar entre parcelas do eleitorado a percepção de características positivas da candidata: a de uma mulher jovem e com força suficiente para enfrentar ofensivas potentes e constantes.

A intimidade de Manuela com as redes sociais, onde a quantidade de seguidores (quase dois milhões no instagram; 1,5 milhão no facebook) é compatível a de celebridades, é outro ponto-chave de sua campanha. Os adversários minimizaram a vantagem, sob o argumento de que a maior fatia de seguidores não está no RS, e por isso o impacto na conquista de votos seria diluído. Os resultados, contudo, colocam a tese em xeque. Para além das redes, as relações ‘importadas’ também parecem ter ajudado a ex-deputada a, no mínimo, conquistar simpatias. Afinal, em uma Capital que se almeja cosmopolita mas está no extremo sul do país, qual a parcela do eleitorado que, de fato, despreza a desenvoltura com a qual ela se relaciona com personalidades como Caetano Veloso e Chico Buarque?


Correio do Povo
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