‘Nós teremos uma cidade melhor do que era antes’, promete prefeito de Muçum
Reeleito, Mateus Trojan tem o desafio de comandar a reconstrução de uma das cidades mais atingidas pelas enchentes
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Aos 30 anos, Mateus Trojan foi reeleito para comandar Muçum, cidade no Vale do Taquari. O município sofreu três tragédias consecutivas que arrasaram 80% da área urbana da cidade e tornaram inabitáveis algumas regiões.
Em entrevista ao Correio do Povo, Trojan detalha os processos para reconstrução de Muçum, quanto tempo esse processo deve demorar e projeta, para um futuro a longo prazo, uma cidade melhor do que aquela antes de setembro de 2023.
A entrevista completa pode ser acessada no canal do Correio do Povo no Youtube ou através das principais plataformas de podcast.
A seguir, os principais trechos.
- Quais os principais desafios para Muçum?
A gente começa destacando a complexidade que é falar do caso de Muçum, que talvez só se compare com mais dois ou três municípios do Estado. Porque tem a questão da reincidência e do percentual da cidade que foi diretamente atingida, que passa de 80% na área urbana. Dentro deste percentual, algumas áreas acabam com uma impossibilidade de reconstrução pelo fato de se tornarem áreas de risco extremo, não só pela questão da inundação, mas do arrasto, da destruição, do risco à vida que é muito alto caso mantidas as atividades. Já estamos agindo com o Ministério Público e outras frentes para garantir que não haja retorno dessas famílias e empresas a esses lugares. Paralelo a isso, também temos o desafio da expansão urbanística.
- Então vai ter necessidade de deslocar certa parcela da população?
Sim. A gente estima que inicialmente pelo menos 30% da área urbana precise ser realocada por características diferentes. Algumas pela cota de inundação, outras por se tratarem de áreas destruídas e outras por se tratarem de áreas que, embora não tenham sido totalmente destruídas, passaram a ser caracterizadas como áreas de risco extremo.
- Como fazer isso?
O ideal sempre é ter primeiro o planejamento, o plano diretor, a consolidação dos estudos e depois as ações de expansão, as desapropriações de áreas, as construções dos novos loteamentos, sejam eles habitacionais ou com finalidade econômica. Mas, dentro da realidade da urgência, não tínhamos essa condição de espera. Então fizemos um estudo prévio local para projetar essa expansão em áreas possíveis e seguras, em observações iniciais, e a partir daí começamos o processo de desapropriação das primeiras áreas. O restante da expansão vai depender de estudos. É urgente conseguir atender essas famílias que perderam as casas ou estão nessas áreas de risco extremo. É um quantitativo grande. Nós temos hoje cerca de 400 unidades habitacionais para serem construídas de imediato.
- As obras serão concluídas antes do fim de seu mandato?
O processo de consolidação de todo o plano diretor, da expansão, dessa desapropriação de áreas e preparação básica para receber essa expansão, eu acredito que sim, é totalmente possível e deverá ser feito dentro desses próximos quatro anos. Nessa parte habitacional já projetada, até fevereiro deve ter a entrega das primeiras 63 casas.
- Consegue prever quando Muçum deve retornar a normalidade?
Acredito que a gente recupera um patamar semelhante ao que nós tínhamos antes dentro de quatro a cinco anos. E tenho a convicção muito grande, até por participar de todo esse processo de reconstrução, que em um período de longo prazo, que daqui a 10, 15 anos, nós teremos uma cidade melhor do que era antes, maior, com mais oportunidades e mais organizada do que era antes.
- Após as cheias, as demandas do município ao governo federal aumentaram?
Com certeza, porque se precisa muito mais. Mas, às vezes, por conta da complexidade, ter o recurso garantido e o plano de trabalho aprovado não significa que o recurso foi enviado, chegou e está sendo executado. Uma tecla que a gente batia muito e bate ainda, é a questão das casas da Defesa Civil Nacional. Muçum tem um recurso de quase R$ 30 milhões aprovado para reconstruir 177 unidades habitacionais e tem uma parte de recurso aprovado para parte da infraestrutura desse loteamento. Só que a execução de determinado recurso dentro do critério que ele está colocado e dos valores previstos se torna inexequível.
- O que pode ser feito para evitar novas tragédias?
Não temos como pensar em soluções que geralmente são praticadas em locais que sofrem com inundações de águas mais paradas, como é o caso de Porto Alegre, pela complexidade da bacia hidrográfica e pela velocidade das águas. Nossas inundações têm a característica de arrasto, de enxurrada e de riscos que podem se criar para as demais cidades, então tudo tem que ser pensado em conjunto. Se fala muito nas possibilidades das barragens secas, se fala também na questão da dragagem, na possibilidade de fazer um desassoreamento do rio. Mas são obras extremamente caras, complexas e que envolvem uma série de fatores, então não adianta a gente se iludir e achar que isso vai ser resolvido em pouco tempo.
- Como está a condição dos rios após cheias sucessivas?
Nos arroios, temos um acúmulo de materiais muito grande, gerado principalmente pela inundação de maio, onde o volume de chuvas na própria cidade foi muito maior do que em setembro, mas que a gente tem recursos e projetos encaminhados para fazer essa retirada através de pedidos, principalmente do governo do Estado. Temos também a atuação do município de recuperação de pontos específicos em alguns arroios menores. Mas, quando se fala do rio Taquari, é algo muito maior. Outra dificuldade que é observada a olho nu é a questão das matas ciliares, tem muitos pontos onde simplesmente não existem mais barrancas de contenção.
- Além da reconstrução, qual outra necessidade em Muçum que você vai enfrentar?
Seria uma irresponsabilidade enorme negligenciar as áreas da saúde e da educação tendo a justificativa da reconstrução. Na educação, estamos agora com um processo de reforma das escolas municipais, aquelas que estão em área de inundação e não poderão, no primeiro momento, ser migradas para outro lugar, são áreas que a gente está trabalhando para que sejam mais resilientes e que tenham uma capacidade de retorno mais rápida em caso de novas inundações.