“Pessoas terão que ser reassentadas” em São Leopoldo, afirma prefeito eleito
Delegado Heliomar, do PL, pretende “reestudar toda a geografia das construções irregulares ao longo do leito do Rio dos Sinos” após cheias

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Quebrando um ciclo de gestões petistas, Delegado Heliomar (PL) foi eleito prefeito em São Leopoldo e deve ter duas frentes principais de trabalho no seu primeiro ano de governo.
Para evitar maiores complicações decorrentes de cheias, terá foco em microdrenagem e na remoção de famílias que vivem em áreas de risco. Outro setor considerado primordial é a saúde, onde busca implementar um plano de trabalho para melhorar o primeiro atendimento dos pacientes.
A entrevista completa pode ser acessada no canal do Correio do Povo no Youtube ou através das principais plataformas de podcast.
A seguir, os principais trechos.
Quais são os principais desafios de São Leopoldo?
São Leopoldo passou por uma tragédia climática em que 40 mil residências foram atingidas. Algumas delas ficaram cobertas até o telhado. Um dos grandes desafios da cidade é essa reconstrução. Tivemos 130 mil pessoas que deixaram suas casas e pelo menos 4 mil ainda estão fora dos seus lares. Isso no contexto em que a cidade vinha em uma crise da saúde pública, que eu diria que era o maior problema até então.
E as cheias se relacionam com a questão da saúde.
Muito. Temos ainda muitos reflexos, inclusive os aspectos traumáticos do impacto da enchente. O atendimento público da saúde já vinha apresentando graves falhas e isso se agravou depois da enchente. Precisamos melhorar o sistema de saúde, que é o ponto mais crítico que ouvimos da população durante a campanha eleitoral. Preparamos um plano de governo para enfrentar esses dois desafios, principalmente. Temos a perspectiva de, a curto prazo, melhorar o atendimento. Depois, a médio e longo prazo, reestruturar o sistema de atendimento, modernizar, informatizar, inovar.
O que consta no plano de curto prazo para melhoria do serviço de saúde? Há metas?
O primeiro momento é a triagem das pessoas. Não é que esteja ruim, é que praticamente não tem. Esse primeiro encontro da população com o médico precisa ser agilizado e melhorado. A partir de janeiro, já vamos modificar esse sistema de atendimento, de triagem, colocando mais pessoas, fazendo um recebimento mais humanizado de quem vá buscar o hospital. Tem algumas que nem sequer é caso de estar ali. Deveria estar no sistema anterior, em uma UBS, em um posto de saúde. Estamos buscando em Brasília recursos para tirar do represamento 10 mil cirurgias eletivas, através de um programa do governo federal.
O Hospital Centenário atende 100% SUS e convive com o problema histórico de dívidas. Como recuperá-lo?
Um dos motivos de estarmos fazendo a transição dentro da Unisinos é justamente para nos aproximarmos da Faculdade de Medicina e retomarmos o projeto de transformar o Hospital Centenário em um hospital de ensino, um hospital-escola. Os alunos estão fazendo suas residências em cidades vizinhas ou até distantes de São Leopoldo porque não encontraram as melhores condições dentro dessa instituição na nossa cidade.
Quase 80% da população foi atingida nas enchentes. O que falta para reconstrução e proteção contra as cheias?
Uma das medidas mais urgentes é a desobstrução dos dutos de escoamento de água. A microdrenagem. Isso não foi feito. Já havia, antes mesmo da enchente, um problema de entupimento desses tubos de drenagem. Por causa de qualquer chuva um pouquinho mais forte já alagava. O que precisa ser feito urgentemente é o hidrojateamento desses tubos de esgotamento pluvial. Vai ser a tônica dos primeiros dias de governo. Vamos também olhar as áreas de risco. Observamos que tem muitas residências em áreas que não deveriam estar lá. São áreas perigosas para moradia, áreas até mesmo do lado interno dos diques. Essas pessoas terão que ser reassentadas. Vamos ter que reestudar toda a geografia das construções irregulares ao longo do leito do Rio de Sinos e fazer um esforço muito grande para que essas pessoas dali sejam retiradas.
Pretende então fazer uma revisão na questão da regularização fundiária?
Exatamente. Hoje já estão sendo feitos alguns laudos apontando esses riscos. Temos muitas áreas de invasão de terras. São Leopoldo cresceu desordenadamente, muito em função das invasões que aconteceram ao longo dos últimos 20, 30 anos na cidade. Algumas áreas realmente são de risco, alagadiças, que foram tomadas do leito do rio. Esses lugares precisam, sim, ser evacuados. As pessoas precisam ser conscientizadas desse problema e vamos fazer de tudo para que tenham um outro local para morar.
Há um projeto de sistema anticheias aprovado no novo PAC Seleções, com verba de quase R$ 250 milhões. Pretende dar continuidade?
Ainda estão sendo aguardados alguns planos de trabalho para serem protocolados para que essas verbas possam ser viabilizadas. Não pretendemos perder nenhum desses investimentos, tanto é que fomos até a Secretaria para Apoio à Reconstrução do RS (do governo federal) nos informar. Vamos dar continuidade, apresentar os planos de trabalho e buscar as verbas federais.
Das últimas cinco gestões em São Leopoldo, quatro foram do PT. O que ocorreu para a população decidir por uma mudança tão drástica?
A mudança já vem sinalizando desde a última eleição, quando fiz 34 mil votos. Mais do que o atual prefeito em 2016, quando fez 32 mil votos e ganhou a eleição. Essa mudança já vem aos poucos se consolidando, não é brusca. Vem amadurecendo e ganhando a simpatia da população há oito anos. E, quando veio esse fenômeno climático, estivemos muito presentes com a população. O nosso barco foi o primeiro a entrar nas águas para resgatar pessoas. Eu, pessoalmente, resgatei cerca de 300 pessoas na enchente. Depois, fomos abrigar essas pessoas, alimentá-las, receber donativos do Brasil inteiro. Sem falar em política, sem pedir nada em troca, sem sequer se apresentar, muitas vezes.
Nesse cenário de PT contra PL, houve um componente maior de nacionalização?
Nossa campanha foi muito baseada em propostas. Claro que tem um time de cada lado que tem muita ideologia envolvida, mas tem uma boa parte do eleitorado que não está muito interessado nisso. Fizemos essa leitura. Com essa parcela da população, nós fomos dialogar.