PSol erra ao adotar moderação petista, analisa Luciana Genro

PSol erra ao adotar moderação petista, analisa Luciana Genro

Para deputada estadual gaúcha, partido não pode ser “puxadinho” do PT

Diego Nuñez

'O Boulos deixou de ser o Boulos na campanha de 2024', afirmou Luciana

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“As esquerdas” sofreram duras derrotas nas eleições municipais de 2024 e um dos erros do PSol foi adotar a linha moderada do PT como estratégia eleitoral. Essa é a análise da deputada estadual Luciana Genro, ex-presidente do partido no RS e presidente da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco.

A fundação promoveu um debate neste domingo com ela e outros dois quadros do PSol para refletir e fazer um balanço do pleito deste ano. A mediadora foi a própria deputada estadual gaúcha.

“Não é nada fácil a situação da esquerda, em especial do PSol. (...) A conclusão é a vitória da direita. A vitória do centrão, mas que não deixa de ser uma expressão da direita, dos interesses da burguesia no processo eleitoral”, inicia Luciana.

Para ela, foi uma derrota “das esquerdas”, pois há uma esquerda “hegemonizada” pelo PT e outra “encabeçada, ou deveria ser, pelo PSol”.

Dentre as capitais, o PT só venceu em Fortaleza. A esquerda ainda teve João Campos (PSB) em Recife. O PSol perdeu a prefeitura de Belém, primeira capital a ser governada pelo partido, entre 2021 e 2024.

“A derrota foi real especialmente em São Paulo, onde o PSol encabeçou a aliança com o PT. Não foi só uma derrota eleitoral, mas política. Em 2020, o (Guilherme) Boulos fez uma campanha que levantou a militância do PSol em São Paulo, gerou muito entusiasmo. Uma campanha que contou com R$ 7 milhões e que não estava aliada com o PT. Em 2024, a mesma votação foi o resultado final, com a diferença que ele contou com R$ 81 milhões e estava com o PT, era o candidato do Lula”, reflete Luciana.

Ela compara com as eleições da capital paulista em 2024: “foi uma campanha morna, que não mobilizou, que não se conectou com os movimentos sociais e terminou de forma lamentável, com aquela live com o (Pablo) Marçal, em uma normalização do diálogo com a extrema-direita”.

“Em São Paulo, o PSol acabou adotando a linha política do PT. Belém também foi uma expressão disso: um governo de moderação, de pouca identidade programática, subserviente às oligarquias locais. São Paulo repetiu esse modelo, adotando a linha, o discurso, o programa do PT. Um setor da esquerda, talvez encabeçado pelo Lula, mas que se reproduz no PSol e a campanha do Boulos foi uma expressão disso, de que, para ganhar eleições, é necessário ir ao centro. Essa é a estratégia do PT há muitos anos. Há muito tempo abdicou de ser um partido de perfil de enfrentamento”, criticou a deputada.

“O Boulos deixou de ser o Boulos na campanha de 2024, o que acabou gerando esse sentimento de derrota política pois não houve, no processo eleitoral, uma voz anticapitalista”, declarou ainda Luciana.

A deputada ainda disse que a campanha de Porto Alegre, que teve Maria do Rosário (PT) como candidata, adotou a mesma linha, e que não cabe ao PSol “ser um puxadinho, entre aspas, do PT” nesta conjuntura.


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