São Sebastião do Caí “crescerá para fora da zona de risco”, diz prefeito eleito João Guará
Município, que foi um dos mais atingidos pelas enchentes de maio, teve 80% da sua área urbana levada pelas águas

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João Guará foi eleito para dar continuidade à gestão do PSDB em São Sebastião do Caí. Ao Correio do Povo, o novo gestor do município, um dos mais atingidos pelas enchentes de maio, conta os principais desafios para administrar a cidade, que teve 80% da sua área urbana levada pelas águas. As demandas, que vão além de habitação, passam também por uma necessidade de melhora nos índices da educação e na retenção de investimentos.
A entrevista completa pode ser acessada no canal do Correio do Povo no Youtube ou através das principais plataformas de podcast.
A seguir, os principais trechos.
Quais são os principais desafios de São Sebastião do Caí?
O principal desafio é a reconstrução, para onde a cidade vai caminhar depois dessas tragédias. E o Caí, de forma especial, vivenciou treze enchentes. Foram nove enchentes e três tragédias nesse último ano. A gente tem uma tarefa muito grande e depende muito do governo do Estado e do governo federal no que diz respeito à soma de recursos para tirar o município da situação em que está em relação à resiliência. A gente convive com as cheias há muito tempo, mas o que nós vivenciamos hoje, assim como outros municípios, foi algo inimaginável, 80% da parte urbana do município foi atingida.
O que já deu para recuperar das últimas tragédias?
O Estado vivenciou uma ajuda humanitária de todo o Brasil. Com essa ajuda e com a força local, a gente conseguiu que a cidade voltasse a respirar. Alocamos o posto de saúde central, a Secretaria de Saúde. Mas tem regiões da cidade que as pessoas não voltaram para casa, que ainda está destruída, que não tem condição de habitação. Muitas pessoas estão em aluguel social, que aumentou em, talvez, dez vezes, então nós temos um déficit de habitação. Temos também problemas para poder estruturar um novo posto de saúde, para que a gente possa dar melhores condições.
São Sebastião do Caí permanece uma cidade habitável após os desastres?
Sim, permanece. O que nós estamos fazendo é o dever de casa: refazendo o plano diretor da cidade, permitindo que construções possam elevar o maior número de prédios com mais andares, em regiões em que vai crescer a cidade, e aí a cidade automaticamente vai continuar a crescer para fora da zona de risco. É possível uma solução que proteja a cidade? Iremos atrás dela. Agora, se não for possível fazer isso, nós vamos ter a cidade migrando para as zonas de menos risco.
O dique não resolveu em Porto Alegre, resolveria no Caí?
Não, porque a água passaria por cima. Eu posso estar muito enganado, mas eu não sei se o dique seria a solução. Para você conter a água, de fato, só um dique. Agora, em que região você iria colocar ele? Imagina que, na beira no rio, teria que ter um dique de uns nove metros de altura. E o risco com um dique dessa natureza? A gente precisa fazer um estudo detalhado para poder dar uma solução para aquelas famílias e para aquela região que não possa também causar uma falsa segurança.
Há bairros que não vão voltar a ser habitados?
Não existe nenhum bairro que não vai voltar a ser habitado. Todos estão habitados e continuarão sendo, até porque, de novo, você não transfere um bairro inteiro, você não consegue tirar da noite para o dia (a população). Mas as famílias hoje estão pensando nessa possibilidade de construção para cima, só que tudo isso envolve investimento. E, em zona de risco, por exemplo, não se consegue financiar pela Caixa nem por nenhum banco.
Como lidar com o sentimento da população que não quer ficar na cidade?
No primeiro momento, logo depois das tragédias, esse sentimento foi mais aflorado, quando tu vê tua casa sem nada e pensa: ‘e agora?’. Eu voltei para o mesmo lugar, reformei, coloquei as coisas lá, e as famílias estão voltando porque a gente tem relação com a cidade. O que a cidade vivenciou foi uma tragédia, mas a cidade se levantou. As pessoas voltaram, reconstruíram, pintaram, lavaram suas casas com muita ajuda de fora. Então, eu acredito que o caiense tem esse (sentimento) de (querer) estar lá, de gostar da terra dele e quer ficar onde tem seus empregos, têm sua renda.
Então, não há uma migração para as cidades vizinhas?
Houve algumas famílias que saíram, mas foi algo muito pontual.
Não é algo que poderia refletir no caixa da prefeitura e atrapalhar a arrecadação?
A gente teve problema com uma empresa na área de risco da cidade. Mas as próprias empresas, uma delas, por exemplo, que é a maior da cidade, a Conservas Oderich, vai permanecer lá e vai criar uma estrutura para poder ficar e se proteger das águas.
Há um estudo contratado de R$ 14,5 milhões para viabilizar o dique do Baixo Caí. Como está essa questão?
Isso é uma grande discussão, inclusive para aumentar esse valor, porque o previsto inicialmente era de R$ 740 milhões. A discussão é justamente essa, que envolve a recomposição do orçamento, para que não só esse estudo saia, mas as contratações possam acontecer, porque o orçamento na nossa região foi reduzido de R$ 700 milhões para R$ 14 milhões.
Quais as outras prioridades para além da reconstrução?
Educação é a principal delas. Dentro de cem dias, já temos prioridades para a educação. Queremos não só dar treinamento aos professores, mas ter métodos para facilitar suas vidas e também dos alunos, para que a gente possa, dentro da pré-alfabetização, acelerar esse aprendizado. Tem programas de leitura também, para tornar Caí uma cidade leitora.
Como reter as indústrias para gerar o desenvolvimento econômico na região?
A nossa estrada é um ponto logístico importantíssimo e ela precisa ser melhor explorada. O nosso objetivo é isso: ter uma área industrial reservada para captar mais indústrias para lá. Desenvolver uma área industrial com fácil acesso à rodovia, para que a gente possa continuar desenvolvendo Caí.
O senhor pretende fazer reforma administrativa?
A gente vai fazer uma reforma administrativa, sim, para mudar algumas coisas, deixar um pouco com a nossa cara, com aquilo que a gente entende como gestão.