Entenda a lei que estimula médicos a sugerir que gestantes escutem batimentos do feto antes de aborto legal

Entenda a lei que estimula médicos a sugerir que gestantes escutem batimentos do feto antes de aborto legal

Projeto foi aprovado pela Câmara de vereadores de Santa Maria, com regime de urgência

Correio do Povo

Texto segue para sanção ou veto do prefeito Jorge Pozzobom (PSDB)

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Uma lei aprovada em Santa Maria, na última terça-feira, 12, estipula que médicos podem sugerir que gestantes vítimas de violência sexual realizem ultrassom e, em meio ao procedimento, ouçam os batimentos do feto. De autoria da vereadora Roberta Leitão (Progressistas), o projeto de Lei nº 9647/2023, foi aprovado por 12 votos favoráveis e seis contrários, em um sessão marcada por manifestações e críticas. O texto segue para sanção ou veto do prefeito Jorge Pozzobom (PSDB).

A justificativa para a apresentação desta lei trata de “conceder às gestantes vítimas de abuso sexual a equiparação às gestantes de risco para fins de realização de ultrassonografias durante o período gestacional”. Contudo, o último parárafo, afirma que “o objetivo é permitir que essas mulheres façam essa escolha de maneira mais esclarecida e consciente, considerando as informações e apoio médico necessário.”

"Na ultrassonografia prévia ao procedimento abortivo, o profissional responsável, preferencialmente, poderá sugerir à gestante que escute os batimentos cardíacos do nascituro”, diz o texto. Contudo, na primeira versão do projeto, o texto era mais incisivo dizendo que “o médico responsável deverá sugerir à gestante que escute os batimentos cardíacos do nascituro”.

O que diz a autora

De acordo com a autora, a versão inicial do texto foi “mal escrita” e, por isso, ementas foram apresentadas para chegar a versão final, aprovada na terça-feira. Ainda segundo Roberta, a intenção inicial da lei sempre foi “criar um direito para a mulher vítima de violência, a equiparando a gestante de risco”.

Quando perguntada sobre a possibilidade de que a ultrassonografia e a escuta dos batimentos influencie na escolha da vítima de realizar o aborto, ou não, Roberta afirmou que o projeto visa “esclarecer a mulher para que ela possa fazer uma escolha conscientemente. Que ela não venha a se arrepender no futuro”.

A vereadora cita exemplos de vítimas que optaram pelo aborto de gestações de 6 e 7 meses, o que ela chamou de “vidas viáveis”, e afirmou que o projeto pode ajudar a evitar a decisão pelo procedimento nestes casos.

O que diz a vereadora que votou contra

A vereadora Helen Martins Cabral (PT), uma das únicas duas mulheres da casa a votar contra o projeto, afirma que a lei é incostitucional e, de forma velada, tenta coagir a vítima a não fazer o aborto. “É muito cruel. Viola o princípio da dignidade humana, tortura e pratica violência contra as mulheres”. De acordo com a vereadora, o projeto oi votado em regime de urgencia para que não houvesse debate e que as mulheres e entidades não fossem ouvidas. “O projeto quer que tu crie um vínculo com o estupraor por toda a tua vida, por que um filho é um vínculo”.

Segundo Helen, a Casa não tem prerrogativa para decidor sobre o tema, por que já há uma lei federal que prevê o acolhimento das vítima de violencia sexual. Ela afirma que levará a frente uma tratativa junto a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), pela inconstitucionalidade do projeto.

Além disso, afirma que já articula um abaixo assinado para que o prefeito vete a lei, e realizará uma reunião na quarta-feira, 20, com movimentos e coletivos sobre o caso.

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