Governo diz que portaria do trabalho escravo tramitou em consultoria jurídica

Governo diz que portaria do trabalho escravo tramitou em consultoria jurídica

Ministra Rosa Weber concedeu liminar que suspende os efeitos da portaria nesta terça<br />

Agência Brasil

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O Ministério do Trabalho divulgou nota nesta terça-feira para justificar a edição da portaria que flexibiliza as regras de combate ao trabalho escravo e para fazer esclarecimentos diante da decisão da ministra Rosa Weber do Supremo Tribunal Federal (STF), que mais cedo concedeu liminar que suspende os efeitos da portaria.

De acordo com a pasta, a decisão, que ainda deve passar por referendo do plenário do STF, será cumprida, mas eventuais medidas jurídicas no curso da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), protocolada pela Rede e acatada pela ministra, "serão tratadas pelo órgão competente, qual seja, a Advocacia Geral da União".

"Embora se trate de uma decisão monocrática de caráter precário, concedida liminarmente sem ouvir a parte contrária por Sua Excelência a ministra Rosa Weber, o Ministério do Trabalho desde já deixa claro que cumprirá integralmente o teor da decisão", diz a pasta, no comunicado.

Diante da polêmica com a portaria, o presidente Michel Temer ouviu o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, na semana passada e autorizou que eventuais ajustes sugeridos pela nova Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, sejam feitos. Temer tem evitado trazer a crise em torno da portaria para dentro do Planalto e delegou que todas as demandas sobre o assunto fossem respondidas pelo ministério comandado por Nogueira.

Segundo um interlocutor do presidente, a decisão de Rosa Weber pode até fazer com que o presidente amplie os ajustes no texto ou até mesmo revogue a portaria para a elaboração de uma nova medida. No entanto, isso não será feito antes da apreciação da denúncia por obstrução de Justiça e organização criminosa contra Temer, marcada para esta quarta-feira na Câmara. A portaria foi um aceno à bancada ruralista, que possui mais de 230 votos.

A nota do Ministério do Trabalho salienta que a pasta tem compromisso "no firme propósito de continuar aprimorando ações de combate ao trabalho escravo no País a fim de livrar trabalhadores dessa condição que avilta a dignidade humana" e destaca que essa evolução "apenas será alcançada quando se garantir a plena segurança jurídica na divulgação do Cadastro de Empregadores, que tenham submetido trabalhadores a condições análogas à de escravo".

A pasta reconhece que esta fazendo alterações a pedido de Raquel Dodge. "Dentro do processo salutar de debate público afeto às democracias, o Ministro do Trabalho já havia decidido por aceitar as sugestões da Procuradora-Geral da República, Dra. Raquel Dodge, no sentido de aprimorar a portaria recentemente editada, com a finalidade de se aliar segurança jurídica ao primado da dignidade da pessoa humana, certamente os dois pilares sobre o qual se edifica o Estado Democrático de Direito brasileiro", diz a nota.

Após recomendar a revogação da portaria que modifica as regras de combate ao trabalho escravo, Dodge voltou a criticar a medida nesta terça-feira de manhã, em sessão do Conselho Nacional do Ministério Público. "A portaria fere sobretudo a dignidade humana, e não apenas a liberdade", disse, em sessão, após dois conselheiros destacarem a atuação do Ministério Público em reação à edição da portaria do Ministério do Trabalho, datada do dia 16 de outubro.

A nota do Ministério do Trabalho destaca ainda que a minuta de texto legal que originou a Portaria n.º 1129/2017/MTb tramitou perante a Consultoria Jurídica do Ministério do Trabalho, órgão setorial da Advocacia Geral da União, e sua legalidade foi subscrita por um advogado público de carreira. "Ademais, refira-se que não é a primeira vez que o assunto "lista suja do trabalho escravo" chega ao exame da Corte Suprema, a qual já suspendeu liminarmente a divulgação da referida listagem no início de 2015, no fluir da Ação Direta de Inconstitucionalidade n.º 5.209, tendo a divulgação da lista em referência ficado sobrestada por quase dois anos", argumenta a pasta.

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