Guedes: “É possível 'consertar' se Bolsonaro fizer algo que não seja razoável”

Guedes: “É possível 'consertar' se Bolsonaro fizer algo que não seja razoável”

Declaração do ministro ocorre no dia seguinte ao presidente ter admitido que interferiu em reajuste do diesel

AE

Paulo Guedes afirma que Brasil está sendo observado com interesse no exterior

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O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou neste sábado que é possível "consertar" caso o presidente Jair Bolsonaro faça alguma coisa "que não seja razoável" na Economia. "Uma conversa conserta tudo", afirmou. A fala vem um dia após Bolsonaro admitir que interferiu no reajuste de preços de diesel, ao telefonar para o presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, e pedir para cancelar o reajuste de 5,7% no preço do óleo diesel. A empresa perdeu R$ 32 bilhões em valor de mercado depois disso.

Ontem, Guedes sugeriu que não havia sido informado pelo presidente sobre a decisão. Hoje, após insistência de jornalistas, o ministro afirmou que Bolsonaro já disse que não é um especialista em economia e que o presidente deve ter se preocupado com efeitos políticos: "O presidente já disse para vocês que ele não era um especialista em economia, então é possível que alguma coisa tenha acontecido lá. Ele, ao mesmo tempo, é preocupado com efeitos políticos, estamos falando em greve de caminhoneiro, esse tipo de coisa, então é possível que ele esteja lá tentando manobrar com isso", disse.

Questionado, na sequência, sobre que tipo de mensagem o governo passa ao ceder rapidamente a uma demanda dos caminhoneiros, ele respondeu: "Eu vou me informar. E eu concordo com suas preocupações". Segundos depois, já de dentro do carro em frente ao Fundo Monetário Internacional (FMI), o ministro chamou os jornalistas para complementar: "Ao mesmo tempo em que eu concordo com suas preocupações e indagações, eu acho que o presidente tem muitas virtudes. Fez muita coisa acertada, e ele já disse que não conhece muito economia. Se ele, eventualmente, fizer alguma coisa que não seja razoável eu tenho certeza que nós conseguimos consertar. Uma conversa conserta tudo".

A entrevista com Guedes foi feita enquanto o ministro caminhava, de maneira apressada, na saída do FMI. Ele evitou responder às primeiras perguntas sobre o tema. Questionado, por exemplo, se era contraditório que um governo com política econômica liberal tenha feito uma intervenção nos preços de combustível, ele retrucou: "Eu não vou dizer isso que você está pedindo". Guedes afirmou que as conversas nos Estados Unidos têm sido importantes e usadas para debater "como é que vão ser as coisas daqui para a frente no Brasil". O ministro da Economia esteve em Nova York na quarta-feira e em Washington desde então, onde participa de reuniões de primavera do FMI e encontros com investidores, economistas e ministros de outros países.

"Nós estamos conseguindo reverter uma imagem ruim", disse Guedes, que afirmou ter se reunido com "excelentes interlocutores", como a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, com integrantes do Banco Mundial, Tesouro americano, presidente do Federal Reserve e "presidentes dos bancos centrais do mundo inteiro". "O Brasil vai progredir rapidamente em vários frontes. Aí tem uma notícia lá embaixo que eu não estava lá e não sei o que houve exatamente. Eu prefiro não comentar, só isso, eu prefiro me informar melhor. Evidente que houve um efeito ruim lá embaixo e estou preferindo trabalhar nos frontes onde eu consigo construir alguma coisa", afirmou o ministro.

Ele disse que também teve conversas sobre a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Na visita de Bolsonaro aos EUA, o presidente americano, Donald Trump, se comprometeu com o endosso da candidatura do Brasil à organização, um pleito da equipe econômica.

Brasil está sendo observado com interesses, diz Gudes

Guedes afirmou que a economia mundial está conseguindo "atravessar um desfiladeiro estreito" e evitar que a crise financeira virasse uma depressão mundial. "Ao mesmo tempo, se a economia estivesse crescendo muito e houvesse uma ameaça de inflação seria terrível, os juros estariam subindo, teria uma desalavancagem forte, teria uma bolha dos bônus estourando. A economia mundial poderia de repente cair num desastre", disse. O ministro afirmou que, com a desaceleração moderada da economia mundial, e a volta do crescimento do Brasil, haverá um horizonte de investimentos no País, especialmente em vários setores como petróleo, gás e infraestrutura, com destaque para saneamento. De acordo com Guedes, outros países estão observando o Brasil com enorme interesse.

Segundo o ministro da Economia, ele não foi questionado durante as reuniões do FMI sobre a decisão relativa ao diesel no Brasil. Nessa sexta, o diretor do departamento de Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), Alejandro Werner, afirmou nesta sexta-feira que tudo o que impedir uma "operação comercial saudável" da Petrobrás pode gerar problemas à empresa.


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