Janot comenta que julgamento de habeas corpus de Lula deve ser técnico

Janot comenta que julgamento de habeas corpus de Lula deve ser técnico

"Temos que nos abstrair de pessoas", afirmou ex-procurador-geral da República

AE

"Temos que nos abstrair de pessoas", afirmou ex-procurador-geral da República

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O ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou nesta terça-feira, em evento em uma universidade de Brasília, que durante o julgamento do habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quarta-feira será preciso "abstrair de pessoas" e olhar as teses que serão expostas e seus efeitos.

"Nós temos que nos abstrair de pessoas, temos que olhar as teses que se colocam e os efeitos disso no sistema penal", disse Janot, que participou do debate "Dialogando com a Lava Jato", no Uniceub, na manhã desta terça-feira. Janot destacou ainda que o julgamento desta quarta-feira, terá como pano de fundo a tese sobre prisão após condenação em segunda instância. Em sua apresentação, que durou aproximadamente uma hora, o agora subprocurador-geral relembrou aos alunos presentes no auditório os fatos que deram início às investigações e os impactos da Operação Lava Jato no País.

Janot afirmou que o trabalho realizado nos quatro anos da operação foi feito por equipes do Ministério Público em coordenação com órgãos, como o Poder Judiciário, a Polícia Federal, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), a Receita Federal e o Banco Central. "Nem sempre é fácil trabalhar de forma cooperada. Existe um ranço de ciúme, de 'está invadindo minha área', mas conseguimos superar isso tudo. E foi um trabalho muito bom de cooperação." O subprocurador-geral afirmou que não existe "super-homem" ou um personagem protagonista no processo. "Foi muito investimento em capacitação de pessoal e tecnologia de informação. Foi muito investimento no trabalho técnico e sorte."

Ao comentar sobre acordos de colaboração premiada, Janot citou, sem dizer o nome, o caso do doleiro Alberto Youssef, que fazia evasão de divisas, foi condenado no caso do Banestado e foi o primeiro acordo firmado pelo Ministério Público. "Naquele caso, erramos. Ao atribuir as premiações a ele, reduzimos o quantitativo da pena. Depois, ele quebra o acordo, e, quando tentamos tocar o processo adiante, ele já havia prescrito. É um ensinamento doído, mas que nos alertou. Esse erro não cometemos mais."

Janot ressaltou que para firmar um acordo de colaboração é preciso que haja novidade no fato exposto, comprovação de prova e informações que se complementem. "No Brasil, colaboração não é meio de provas, mas meio de obtenção de provas. Colaboração diminui a quantidade de tentativas e de erros". Em um balanço final sobre a operação, Janot defendeu que a Lava Jato não pode recuar. "O combate à corrupção envolve muitas resiliências. Corrupção é mal, mata, fede, é uma doença. A luz do Sol é o melhor desinfetante. É preciso continuar com a transparência. Uma cidadania proativa e participativa tem de haver. Temos de pensar qual o país que a gente quer para amanhã, para os nossos que virão. Esse processo é de marchas e contramarchas, mas confio que os retrocessos não acontecerão."

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