Projeto de ensino profissionalizante busca mudança de vida de presos em Porto Alegre

Projeto de ensino profissionalizante busca mudança de vida de presos em Porto Alegre

Patronato Lima Drummond recebe detentos do regime semi-aberto acreditando na recuperação

Eduardo Amaral

Apenados aprendem ofício para buscar novos rumos

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Encontrar dentro do sistema carcerário uma oportunidade de estudar e com o aprendizado de dentro das grades não voltar ao cárcere, é com este propósito que a Fundação Patronato Lima Drummond, responsável pelo instituto de mesmo nome, localizado na zona Sul de Porto Alegre, recebe presos do regime semi-aberto. Acreditando na recuperação de quem cumpre pena, o local oferece educação profissionalizante aos internos. 

Assessora da Diretoria, Maria Antonia Felippetto, diz que a filosofia é a maneira encontrada pelo Instituto para fazer com que a pessoa volte de fato ao convívio social. “A sociedade não consegue entender é que todo apenado um dia vai sair e queremos que ele saía melhor do que entrou”, enfatiza. Nesta segunda-feira, os homens que cumprem pena na Fundação iniciaram mais um destes cursos. Em parceria com o Senac/RS, cerca de 30 apenados iniciaram a formação em Boas Práticas na Manipulação de Alimentos. A temática alimentação foi escolhida, segundo Maria, pelo grande interesse dos presos e também por ser uma área mais fácil de reinserção no mercado de trabalho. “É uma área que está sempre crescendo, além de ser função mais fácil e com menos discriminação, portanto, com mais chances de conseguir trabalho.”

O interesse pode ser constatado entre os cursistas, como o caso de Rogério Alves Menezes, 53 anos, que há um ano e três meses está na Fundação. Ex-funcionário público da área de segurança, ele foi preso por homicídio. Na prisão, ele conseguiu se aproximar ainda mais de um gosto antigo, o de cozinhar. Foi preso que ele começou a trabalhar na cozinha, e agora projeta um futuro diferente fora da cadeia. “O curso nos proporciona uma oportunidade: de lá fora começar um negócio ou trabalhar em uma cozinha.” Menezes diz que é grande a chance de o que antes era “hobby” se tornar profissão. “Eu sempre gostei de cozinhar, e é grande a chance de trabalhar com isso quando sair, minha cunhada tem um restaurante e minha mulher trabalha na cozinha.”

Foi dentro da cadeia que Cláudio Fernando Ignácio Talayer, 51 anos, condenado por roubo e homicídio, pode aprender uma profissão. “Eu nunca tive estudo, só peguei cadeia a vida toda, agora quero aproveitar essa chance para mudar de vida.” O plano para isso está traçado: vender comida na rua. “Quero agarrar essa oportunidade, já tenho guardado os materiais para vender churrasquinho. Eu não sei de nada, como pegar licença na prefeitura nem nada assim, mas com os cursos estou aprendendo essas coisas.”

O perfil de Talayer é o mais recorrente do sistema prisional. Homens de baixa escolaridade, vindos de uma condição de extrema vulnerabilidade social e frutos de uma família desestruturada, como explica Maria. Ela chama atenção de que a criminalidade crescente é uma consequência do descaso social para a raiz do problema. “As pessoas vêem uma criança vendendo bala no sinal e dizem que o problema não é delas, mas o problema é de toda a sociedade. O que fazemos aqui é dar uma resposta imediata, porque o trabalho com as crianças é bem mais demorado.”

Ex-vendedor preso por tráfico internacional de drogas, Paulo César Vilanova, 41 anos, é um dos homens que pretende mudar de vida quando sair da cadeia. O sonho dele é ser um chef de cozinha, usando o aprendizado que teve nos anos cumprindo pena. “Sempre gostei de cozinhar, mas aqui fui aprimorando muito mais. Hoje quero fazer um curso e ter meu próprio negócio, ou trabalhar em alguma cozinha.” Para Vilanova, cozinhar dentro da cadeia foi fundamental pra manter a sanidade mental e projetar um futuro diferente. “Quando a gente está preso tenta ocupar a cabeça no dia a dia, e a melhor forma é com alimentação.”

Professora do Senac e responsável por ministrar o curso, a nutricionista Antonia Cunha explica que a formação permite uma rápida inserção no mercado. “Embora não seja um curso profissionalizante, no Rio Grande do Sul todos os estabelecimentos são obrigados a ter pelo menos uma pessoa especializada, o que abre uma série de oportunidades.” Durante as 16 horas/aula, os participantes aprendem a cuidar de todas as etapas dos alimentos até chegarem ao consumidor final com qualidade e segurança.


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