Saída de Paulo Pimenta da Secom trava articulações do PT no RS
Petistas gaúchos trabalhavam com candidatura do deputado ao Senado e pretendiam antecipar tratativas para eleições de 2026, mas mudança no ministério deixa cenário em aberto
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A saída do gaúcho Paulo Pimenta da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República coloca em suspenso as articulações do PT do RS para as eleições de 2026 no Estado e atrapalha o encaminhamento de tratativas que a sigla desejava antecipar. A avaliação é feita em reservado por integrantes de diferentes alas do partido no RS.
De público, todos seguem garantindo que Pimenta será o candidato da legenda a uma das vagas ao Senado, que a segunda vaga está reservada para um partido aliado, e que o candidato ao governo será o atual presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto.
Na prática, contudo, o entendimento é de que a demissão do gaúcho embaralhou as cartas e que, por enquanto, é impossível apontar o que vai acontecer. Do jeito que o cenário está hoje, ele pode disputar o Senado, o governo ou mesmo a reeleição para a Câmara dos Deputados.
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Em função do quadro aberto, com bastante discrição começam a ser buscados nomes alternativos para a chapa majoritária no RS em 2026.
Lideranças no RS dizem que o momento agora é de absorver os recados passados para depois redefinir estratégias. O primeiro ato a nortear os movimentos será o destino de Pimenta, que saiu de férias e não deve voltar antes de 20 de janeiro. Esta definição é considerada chave para os demais encaminhamentos porque as novas funções do ex-ministro são um dos principais fatores a determinar seu peso dentro das tratativas e as chances de ele vencer ou não uma disputa na majoritária.
Desde dezembro, quando ficou claro que o ministro deixaria a Secom, as informações internas, parte delas capitaneadas pelo próprio Pimenta, apontavam para ele duas alternativas: permanecer no primeiro escalão da administração Lula, substituindo Márcio Macêdo na Secretaria Geral da Presidência, ou voltar para a Câmara dos Deputados e ocupar a liderança do governo, posto que hoje está com José Guimarães (PT/CE).
A forma como Pimenta ‘foi saído’ da Comunicação, porém, na avaliação de pares gaúchos, coloca em xeque as duas possibilidades. Bastidores à parte, uma sucessão de fatos corrobora o entendimento de que ocorreu uma fritura aberta, e o desafio agora é entender seus desdobramentos. Já há quem diga, por exemplo, que existe também uma série de indicativos de que, se o quadro não se alterar, o RS não estará entre as prioridades do PT nacional nas eleições de 2026.
No caso de Pimenta, além de todo um histórico anterior, a fritura ficou explícita a partir da reclamação pública de Lula sobre a comunicação do governo, feita em um grande evento do PT em dezembro. O fato de a equipe de Sidônio Palmeira (o novo ministro) ter se deslocado para Brasília nestes primeiros dias de janeiro e começado a trabalhar ainda antes de Pimenta sair do cargo foi outro indicativo pouco animador. A troca exclusiva na Secom completou o quadro: o gaúcho foi demitido. Ficou difícil sustentar a narrativa de que sua saída faz parte da reforma ministerial quando mais nenhum outro ministro foi trocado ou reacomodado.
“Pode até ser que ele vá para a Secretaria Geral, mas, neste momento, parece bem pouco provável. Poderia ter sido construído de outra forma, que não gerasse este desgaste. Se ocupar a liderança do governo na Câmara, segue com bastante visibilidade. Mas, se só voltar para o mandato, vamos ter que ver o que acontece, depende também do que o Pimenta vai decidir, e não teremos um desfecho tão cedo”, adianta um dos articuladores petistas no RS.Veja Também
A avaliação feita por ele envolve tanto a majoritária como as chapas proporcionais. Na majoritária, os petistas vão medir as chances concretas de vitória tanto para o governo como para o Senado na hora de estabelecer os nomes. É consolidado o entendimento de que Pimenta não pretende entrar em uma corrida na qual não tenha chances significativas de vitória, com risco de ficar sem mandato. Se o prognóstico for ruim, tenta a reeleição e o partido encontra outro companheiro para Pretto, seja para “disputar para valer” ou para “cumprir tabela”. Por ora, nem a realocação de Pretto na chapa, conforme o cenário que se mostrar mais positivo, pode ser descartada.
A indefinição pode atrapalhar a todos. Na Assembleia Legislativa, os deputados petistas Valdeci Oliveira e Laura Sito aguardam por uma resolução para darem início, ou não, aos trabalhos mirando a Câmara Federal, absorvendo eleitores de Pimenta caso ele não concorra ao Legislativo. No campo da centro-esquerda, a espera trava negociações com possíveis aliados. “Ninguém quer sentar à mesa sem saber qual seu lugar”, resume outro petista com voz no comando gaúcho.