Com mais de uma hora de atraso, o julgamento dos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes começou na manhã desta quarta-feira no Rio de Janeiro. A primeira a depor no 4º Tribunal do Júri da Justiça do RJ foi a ex-assessora da política, a jornalista Fernanda Chaves. Ela também é a única sobrevivente do crime ocorrido em março de 2018. Em seu depoimento, ela narrou como foi os últimos momentos da vereadora e do motorista.
“Estávamos no carro, conversando coisas do dia e até estávamos vendo fotos no celular. Eu não vi, mas percebi o carro do Anderson parando, mais devagar, quando senti uma rajada de tiros. Me encolhi e percebi que os braços do Anderson, que estavam no volante, caírem. Eu senti o peso do braço da Marielle no meu corpo. Pensei ter passado por um confronto”, disse Fernanda.
A jornalista comentou que o carro ainda seguiu andando e foi obrigada a intervir, sem ainda perceber que os colegas e amigos já estavam sem vida. “Eu na hora me encolhi e só consegui isso porque estava sem cinto de segurança. O carro seguiu andando e tive desengatar a marcha e puxar o freio de mão. Com o carro parado, desci, suja de sangue. Saí engatinhando, com medo de mais tiros. Comecei a gritar por socorro e não quis acreditar que a Marielle estava morta. Só queria pedir ajuda e que alguém ligasse para uma ambulância”, afirmou.
Ao falar da intimidade com Marielle, Fernanda definiu a relação com a então vereadora como “linda”. A assessora falou da admiração que sentia pela parlamentar e pelo modo como atuava. “A Marielle era uma pessoa que incorporava tudo que defendia”, resumiu.
A jornalista ainda lembrou que Marielle tinha uma relação muito próxima com a sua filha e que a morte da vereadora afetou a menina. “A minha filha era muito próxima da Marielle. A morte dela a afetou muito, a ponto de na época uma das primeiras perguntas que ouvi foi: ‘mãe, o que é assassinato?’. Tempos depois, na escola, ela não quis fazer um trabalho porque o exercício consistia em homenagear uma mulher negra. Dei a ideia de homenagear a Mari, mas ela não quis. Ela não conseguiu falar sobre o assunto”, comentou.
Acusados e o pedido do MP
Os acusados de serem mandantes dos crimes são os irmãos Chiquinho e Domingo Brazão. O delegado Rivaldo Barbosa é acusado de ter prejudicado as investigações. Há ainda outros acusados de terem participado dos crimes.
Ronnie Lessa e Elcio Queiroz, presos em penitenciárias localizadas fora do estado do Rio de Janeiro, participam por meio de videoconferência. Lessa está preso no Complexo Penitenciário de Tremembé, em São Paulo, e Queiroz, no Complexo da Papuda, presídio localizado em Brasília.
O Ministério Público do Rio de Janeiro pedirá ao Conselho de Sentença do tribunal a condenação máxima, que pode chegar a 84 anos de prisão, caso os jurados decidam condená-los.